quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Ela quis sair comigo antes de viajar



Cena 1: Subi dez andares de elevador com alta ansiedade. Jantar com a Sylvia, na casa dela, era algo impensável há alguns meses, quando comecei a olhar para ela com mais intensidade, e dizer coisas com segundas intenções. Algumas vezes ela ria, com ironia. Em outras era ríspida e educada ao mesmo tempo, me deixando sem respostas. Os colegas de escritório já me davam apelidos por causa da repulsa.

A comida estava deliciosa. Era um peixe, que não sei o nome, com um molho extremamente saboroso. Para beber, nada de vinho. Era refrigerante mesmo. Durante a refeição, Sylvia me contou um pouco de sua vida.

- Perdi meu pai aos 10 anos. Morava em São José dos Campos, de onde mudei para vir fazer faculdade. Consegui emprego e aqui fiquei. Minha mãe se casou novamente e adotou duas crianças.

Falamos pouco sobre o trabalho, não era mesmo o assunto mais indicado naquele momento. Sobre amores passados, o suficiente para ter consciência sobre como eu deveria agir para fazê-la feliz.

Sempre fui apaixonado por ela, mas diante das constantes negativas, seguia minha vida. Bares e boates faziam parte da minha rotina nas folgas. E estava disposto a mudar isso, só faltava o aval da própria. Mas nunca tive muitas esperanças, tanto que fiquei extremamente surpreso quando ela falou sobre o jantar.

Convidar para jantar não é sinônimo de querer um relacionamento. Sylvia não ficava a menos de um metro de mim. Na despedida, apenas um beijo no rosto e um sorriso. Eu teria que treinar mais a minha paciência.

Cena 2: Agora foi a minha vez de convidá-la a comer algo. Levei-a a um lugar pouco movimentado, com luzes de velas e comida elogiada pelos jornais. Sylvia parecia entediada com a situação – pouco falou, comeu e bebeu com velocidade. Surpreendeu-me quando, ao entrarmos no carro para ir embora, pediu:

- Vamos até sua casa?

Expliquei a ela que moro em uma república, junto com outros sete homens. Ela não se importou. Chegando ao local, todos os carros dos meus companheiros estavam na garagem. Era tarde, todos já dormiam – tinham que trabalhar no dia seguinte. O lugar ideal naquela situação era o quintal. Peguei duas cervejas e fomos ver as estrelas.

- Este é o lugar que você vem quando quer pensar?
- Sim, embora há alguns meses não faço isso – respondi.
- Entendo. Sabe por que te convidei para sair?
- Neste caso, foi a minha vez te convidar.
- Sim, mas naquela vez, para ir à minha casa. Em duas semanas vou à Inglaterra. Morarei por lá. Então quis realizar um sonho, fazer uma boa ação.

Sylvia não precisou dizer mais nada. Me aproximei e a beijei. Foi um beijo gostoso, sem compromisso ou por obrigação. Em tom baixo, para não acordar ninguém, continuamos conversando. Estava tudo bem: meu sonho estava realizado.

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