sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sopa se come em casa - Parte 3


Hiran tomava uma cerveja com um primo, naquele boteco sujo de esquina.

- Cara, você não sabe o que aconteceu.
- Pois bem, conte-me.
- A garota com quem divido o apê. Eu disse a ela que era gay para conseguir a vaga. Só que agora ela quer me conquistar, para recuperar a autoestima.
- Como assim, cara?

Hiran descreveu a cena ocorrida na noite anterior. Ele fazia a barba, iria sair para jogar pôquer com alguns amigos. Estava de cuecas, já que tinha que mostrar que não havia pudores em morar com Letícia. Foi quando a moça bateu à porta do banheiro, pedindo a opinião dele sobre a lingerie que acabara de comprar. Ele tentou ser técnico. “Bonita, a cor está em alta no inverno, e realça seus peitos e a barriga”. Mal sabia ele que a intenção da moça era vê-lo despido.

- Tá, e qual é a dúvida?
- Será que eu devia ter falado “seios” ao invés de “peitos”?
- Você está louco? – riu o primo – Se a mulher quer ficar com você, ela sequer ouviu essa palavra. Eu acho que você devia aproveitar, isso sim.
- É o que mais quero, mas tenho medo de ser despejado.
- Ah, então esteja sempre com a arma descarregada, se é que você me entende. Assim, você evita os olhares ao corpo dela. E quando sair com alguma outra mulher, fique a maior parte do tempo fora de casa, assim você não precisa descabelar o palhaço e terá disposição para a garota.

Pelo menos teoricamente, o primo de Hiran estava com a razão. No dia seguinte, Letícia voltou a provocar o companheiro de apartamento. Saiu do banho enquanto ele assistia à televisão e fingiu estar interessada no programa que ele assistia. Aí começou a passar cremes pelo corpo.

- Passa nas minhas costas, por favor?
- Claro – enquanto Hiran realizava o procedimento, a bela escondia com a toalha apenas o busto e o sexo.
- Aproveita e faz um pouco de massagem...

Hiran sabia como massagear uma mulher. E Letícia soltava alguns gemidos relaxantes.

- Realmente, você é muito bom nisso. Cozinha bem, faz massagem... Depois quero experimentar outros talentos seus.

Hiran riu, sem graça, e voltou a prestar atenção à televisão. Estar com a arma descarregada fez toda a diferença naquele momento.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Sopa se come em casa - Parte 2


A vida amorosa de Letícia estava abalada. Nos últimos cinco anos, teve dois namorados. No começo, tudo eram flores, bombons, romance, cinema. Mas a ascensão profissional da agora Diretora de RH, sua dedicação ao trabalho e personalidade forte fizeram esfriar os dois relacionamentos, ambos terminados pelos rapazes. Nada que a deixasse deitada na cama, chorando com um pote de sorvete ao lado. Porém, a solidão a fazia questionar se o rumo que estava dando à sua vida era o correto.

Solidão, aliás, era modo de dizer. Sempre que quisesse, conseguia um amante. Fosse um antigo colega de faculdade, fosse alguém que conhecera na balada. Bastava sair à noite, ou ficar mais tempo no msn que os homens se aproximavam. Pudera, a pele lisa e morena, os cabelos castanhos claros e a bela boca atraíam os olhares e a cobiça dos homens.

Porém, naquele momento ela queria novas experiências. Sempre fora paquerada pelos homens, e escolhia a dedo qual seria seu. Mas nunca havia cortejado um rapaz, buscado conquistar alguém. Não sabia o sabor de ter para si alguém que havia sonhado, e um dos motivos disso é o fato de ela gostar de homens casados. Por motivos diversos, mantinha a fantasia escondida. Não queria ser a outra, nem destruir um lar. Por outro lado, se um homem era divorciado ou solteiro, já significava que devia ter algum defeito grave, e por isso não se interessava. Eram os comprometidos que a atraíam de verdade.

- Amiga, você tem duas opções – disse-lhe uma colega de trabalho, durante o almoço.
- E quais seriam?
- Ou você investe em algum partidão com aliança no anelar esquerdo, ou...
- Ou?
- Ou você conquista alguém que, a princípio, sequer olhava para você. Um gay, por exemplo.
- Gay?
- Isso, um gay. A Ritinha, da recepção, conseguiu transar com um. Disse que se sentiu a mulher mais gostosa do mundo. Afinal, praticamente mudou a opção sexual do cara, mesmo que fosse por aquela noite.

Naquele momento, o único gay que Letícia tinha contato frequente era Hiran. E ela nunca tinha olhado para ele como alguém que pudesse dar uns beijos, imagina ter contatos íntimos. Mas agora ela desenvolvia uma curiosidade difícil de ser deixada de lado.