sábado, 26 de fevereiro de 2011

Eu vi minha ex-namorada na internet

É, foi assim: vendo um site pornô, depois de várias mulheres, profissionais e amadoras, sendo devoradas (e devorando também), vi as imagens de uma garota bem familiar para mim. Eu a namorei por alguns meses.


Por um lado, posso afirmar: "Olha, que gostosa, e eu já peguei, de todas as maneiras possíveis".

Por outro, cada um faz o que quer da vida. Se ela escolheu tirar fotos íntimas com o atual (ou ex), normal. Mas duvido que ela autorizou a exposição destas fotos da maneira com que foi.

Aposto que a família dela está com muita vergonha da filha que tem. E ela pode (talvez) estar pensando em mim, o único rapaz sério com ela deve ter ficado um dia. Acredite se quiser.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Vida e morte de Élton, o vidente – Parte 4/5




Receber uma carta ameaçadora não é fácil. O medo toma conta do seu cotidiano, e qualquer ato de terceiros é visto como uma possível tentativa de agressão, seja ela verbal ou física. Mudei meu horário de trabalho, passei a evitar andar sozinho e acostumei a ficar em casa com as luzes apagadas. O Cristiano havia conseguido me deixar temeroso, e muitas vezes cogitei procurá-lo com um jogo da loteria que seria premiado com o maior valor possível.

Mas a vida dá voltas e traz muitos desafios. Neste meio tempo, encontrei o maior desde que passei a viver das minhas previsões. Era Fabiana, uma garota cujo futuro era incerto. Eu não conseguia ver uma imagem nítida das coisas que iriam acontecer com a jovem. Cada consulta que ela marca trazia mais perguntas do que respostas. Cheguei a atendê-la gratuitamente, porque me sentia um charlatão ao deixar de dar o serviço pelo qual ela pagava (não a mim, diretamente, claro).

Noites em claro, muitas rezas e reflexões foram necessárias até e decidir acompanhar uma semana da jovem, para ver o que pensa, como age, e assim talvez o futuro se abrisse para minhas visões. Quando a sugeri isto, deu risada, mas concordou. Pelo jeito, queria muito saber o que aconteceria com nos próximos dias.

Nos três primeiros dias, apenas a observava e fazia algumas anotações (sem que ela percebesse). Tive algumas impressões, que iam se confirmando a cada vez que a encontrava. Ela se vestia igual a uma amiga (que era bem bonita, devia ser a líder da turma), embora as roupas não lhe caíssem bem. Sempre pedia conselhos sobre o que fazer, em todas as áreas. Ouvia os relatos e assimilava-os, sempre com um comentário elogioso e emendava “vou adotar isto para minha vida”.

Traduzindo em miúdos: ela não tinha opinião própria. Ora, tinha que haver aprovação alheia para tudo, e desta forma não agia caso não encontrasse uma resposta positiva. Por isso não era possível prever o futuro dela. Se a cada opinião contrária, ela mudava de atitude, não seguia uma linearidade e nem uma coerência própria da vida. Desta forma, era um caso para um psicólogo ou psiquiatra, não um vidente. Tentei abordar o caso de uma forma educada.

- Olha, infelizmente não posso dar sequência ao seu caso. Seu futuro é incerto porque você não sabe o que quer da vida. Talvez por causa de baixa auto-estima, ou por algum trauma de infância. Não posso dar um diagnóstico, por isso recomendo que você procure um profissional.

Acho que não consegui. Fabiana era uma mulher bonita, mas algo a deixou com o futuro aberto. Talvez essa seja uma vantagem para ela. Ou não – todos podem reescrever o próprio futuro. Basta ter coragem para iniciar várias mudanças no presente. É a opinião de um vidente.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Vida e morte de Élton, o vidente – Parte 3



Em algumas oportunidades tive o prazer de unir casais. Uns foi pela amizade em comum, e outros pelo dom que Deus me deu. Claro que nunca foi minha intenção trabalhar para que pessoas encontrem o amor, porém era um ramo, dentro do meu ofício, que dava bastante lucro à minha patroa.

Certo dia uma garota marcou uma consulta, e pediu para prever se ela iria namorar o rapaz que havia conquistado o seu coração. Quando vi os dois juntos na minha previsão, achei que se tratava de outro. Não era.

- Vejo você muito feliz com um rapaz, digamos, um pouco gordinho, fora do peso normal.
- Jura? Ah, que bom, estou tão feliz. Mas... eu nem cheguei a descrevê-lo.

Não sou preconceituoso. Muitas vezes sou vítima do preconceito, isso sim. E nada tenho contra aqueles que têm tecidos adiposos a mais. Eu apenas pensei que a paixão da tal garota fosse um garoto com aparência próxima à dos galãs de novela. Mas cada um cuida da sua vida, não é? O coração é que manda na gente, e não o contrário.

***

No dia seguinte, ao chegar à minha sala, uma carta esperava em minha mesa. Logo pensei que fosse alguém querendo agradecer por algum serviço prestado, ou algo parecido. Mas me surpreendi, era uma carta do Cristiano. Usando palavras horríveis, me ameaçava de morte.

Tentei não me abater, tinha que atender aos clientes com um sorriso no rosto. O primeiro era um senhor perguntando se a neta dele já havia perdido a virgindade. Respondi dizendo que via o futuro, não o passado escondido. Em seguida uma moça de uns 50 anos, perguntando se o marido a traía. Disse-lhe a verdade: havia visto apenas eles brigando e aparentemente se separando. E também não era detetive particular.
Por fim, antes do almoço, um rapaz gordinho. Ele queria saber se uma garota, a qual era apaixonado, também gostava dele.

- Olha, não consigo ver isso, apenas seu futuro. E, bem, vejo você com uma garota, e vocês estão muito felizes, caminhando pelo parque e dividindo um algodão doce. E acredito que já esta cena antes.

Foi aí que o reconheci. Era o rapaz que a garota que eu havia atendido alguns dias antes era apaixonada. Como ela não voltou mais, pensei que havia se declarado e concretizado a minha previsão. Não tive dúvidas e falei:

- Escuta, não costumo me intrometer na vida dos clientes. Porém, algo inusitado aconteceu. A moça pela qual você é apaixonado já veio me procurar, perguntando se ela iria ficar com você. Por isso, não perca nem mais um minuto, e vá já para a casa dela se declarar.

Com um sorriso de orelha a orelha, o garoto saiu correndo da minha sala. Gosto quando prevejo coisas boas, como o amor. Fico feliz quando os clientes ficam felizes com minhas previsões. Sinto, com isso, que estou usando meu dom para o bem das pessoas (apesar de usá-lo como ganha-pão também).

Porém, o resto do dia seria difícil. Tive que conversar com minha patroa sobre mudanças nos horários, a fim de evitar uma rotina, para que o Cristiano (ou alguém ligado a ele) me surpreenda.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Vida e morte de Élton, o vidente – parte 2/5



Prever o futuro é um dom que muitos queriam ter. Aliás, acredito, é como todos os outros dons. Muitos invejam, os que têm fazem pouco caso e os empreendedores exploram ao máximo tal talento para ganhar dinheiro.

Dinheiro, aliás, é o objetivo de 99% das pessoas que me procuram – junto com o amor. Acredito que as duas coisas estão ligadas, mas não vou entrar na discussão agora. As coisas do coração não devem ser julgadas ou questionadas. Mas por outro lado, há uma grande dose de razão no amor, o que não deixa de ser irônico.

Uma vez um cliente pediu os números da loteria. Cristiano era o nome dele. Vou ser honesto – vejo estes números o tempo todo. Porém, não acredito que uma quantidade exorbitante de dinheiro trará felicidade. Se não trabalhasse, não conheceria pessoas maravilhosas, e talvez não teria a fama que gosto tanto. Sobre o cliente? Bom, respondi apenas quatro dos seis números, e os outros dois inverti. Ele ganhou uns dois mil reais na quadra.

Achei que isso me livraria do pobre coitado. Mas pura ilusão: a ganância o fez me procurar de novo. Novamente, indiquei 4 dos 6 números que saíram, e ele ganhou a quadra. A cena se repetia mais ou menos a cada 15 dias, e a dona do estabelecimento em que eu atendia o recebia com café, bolachas e todas as mordomias de um cliente VIP.

Até que um dia cansei. Recusei-me a atendê-lo. Mesmo com a insistência, promessa de maiores comissões pela consulta, não recuei. Como já disse, não preciso de dinheiro para ser feliz – e se precisasse, iria eu mesmo até a casa lotérica fazer a aposta certeira. Cristiano pediu para conversar, apenas.

- Olha, Élton, eu preciso de dinheiro para quitar uma dívida.
- Sinto muito, não posso ajudá-lo. Procure um emprego.
- Eu já trabalho em dois! Por favor, me ajuda, só esta vez. Depois, nunca mais procuro você.

A parte solidária do meu ser queria muito passar logo os seis números, para o cara ser feliz. Mas fui racional e recusei.

- Cuidado por onde anda, garoto! Coisas podem acontecer com você! – e saiu, batendo a porta.

Além desta ameaça, levei uma bronca daquelas da minha patroa. Mas ela não exagerou: sabe que sou o que mais traz clientes à casa – afinal, sou um cliente de verdade. Com certeza, não esquecerei tão cedo do tal Cristiano.