segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A Saga da Sentai Vermelha – Carta 4

Esse conto foi publicado, originalmente, no Senpuu. Você pode lê-lo, com todas as imagens, aqui.


Querido Pai,

Escrevo essa mensagem de dentro do Mecha. Sim, aquele que ajudamos a desenvolver, escolhendo desde cores, aspectos de camuflagem até as armas embutidas. Lembra-se do quanto rimos ao ver o projeto inicial? Esses engenheiros... Criaram um robozão bonito, que voa, nada, corre; mas que, se precisasse entrar em uma batalha, não duraria cinco minutos. Adicionamos lâminas, metralhadoras, bazucas e escudos. Ficou uma verdadeira máquina de combate, e ainda assim acho continuou com um bom design.

Lembra-se, também, de como ele foi aceito pela população japonesa? A mais nova arma de defesa nipônica era um símbolo de garra e coragem. As crianças compravam os brinquedos dele, os jovens usavam camisetas com ele estampado, e os adultos aplaudiam em pé cada demonstração militar. Mas o maior orgulho, mesmo, foi quando o resto do mundo veio, praticamente de joelhos, pedir para que o Mecha defendesse a Terra da primeira invasão dos centaurianos. Ali a Corporação Alfa mostrou a todos a competência e seriedade do seu trabalho.

Pois bem, em instantes o Mecha terá seu maior desafio. E em um ambiente em que ele foi pouco testado, o espaço. Nesse momento, estou aguardando duas grandes naves centaurianas. Creio que, no máximo, conseguirei retardar o avanço delas, para dar tempo às demais tropas de se preparar para a grande batalha.

Pai, o senhor deve estar lendo essa mensagem em uma cama de hospital. Sinto muito trazer-lhe más notícias quando o senhor precisa descansar e se recuperar. Minha justificativa é que talvez essa seja a última mensagem que escrevo ao senhor. E quero se sinta orgulhoso de sua filha.

Quando fui convocada a resgatar os membros da Corporação Alfa que ficaram à deriva no espaço, quase recusei. Ainda sinto raiva quando penso no Sentai Verde. Mas aí me contaram que o senhor estava entre os feridos. Então, coloquei meu uniforme vermelho, subi numa pequena nave de combate e fui ao encontro do Mecha. Algumas lágrimas caíram de meus olhos quando vi o robô, que ajudamos a construir, avariado. Mas tive que me recompor rapidamente, pois haviam pequenos módulos de combate centaurianos aguardando minha chegada.

Sim, meu pai, os filhos da mãe estavam de tocaia, pois sabiam que alguém iria resgatar os feridos. Pior: só começaram a avançar a nave grande quando cheguei. A estratégia era clara, invadir a Terra sem qualquer resistência. Eles esperavam que uma tropa inteira viesse ao espaço efetuar o resgate. Mas só veio sua filhinha Sentai Vermelha.

Ainda bem que a primeira leva dos módulos de combate foi fácil de derrotar. A nossa nave é pequena, porém rápida e com boa artilharia. Em poucos minutos me atraquei ao Mecha. Cheguei ao cockpit e vi os demais membros da Corporação Alfa desmaiados, o senhor entre eles. Comecei então e levá-los até a saída de emergência que, embora poucos saibam, é a perna direita do robô. O plano era simples, apenas colocá-los lá, programar piloto automático até a Terra e conduzir o Mecha para a estação de reparos após destruir a nave centauriana. Perderia uma perna, mas isso não limitaria uma batalha e viagem de volta.

Acontece que uma segunda leva de pequenos módulos de combate centaurianos começou a atacar. E ainda tinha que destruir a nave. Liguei o campo de força, que agüentaria alguns minutos de disparos inimigos, coloquei o senhor e os demais na saída de emergência, programei o destino e corri de volta ao cockpit.

Pai, o senhor não imagina como é difícil pilotar, sozinha, o Mecha. Isso é trabalho para cinco pessoas, e eu estava sem ajuda. Ainda assim, consegui dar cobertura à perna direita, evitando que fosse alvejada. Faltava apenas impedir que a nave chegasse à Terra. Bem, isso não foi difícil, apenas lancei o míssil final, aquele que usamos para destruir de vez os adversários. Com uma potência de cinco bombas atômicas, desintegrou a nave centauriana.

Mas o teor desta carta não é de vitória. Isso o senhor já deve ter percebido. Eu apenas atrasei a invasão. Os radares do Mecha identificaram a segunda e a terceira nave centaurianas, escoltadas por outros módulos de combate. Não posso deixar o posto, tenho que tentar destruí-las.

Enquanto recarregava algumas baterias do Mecha e as naves não atingiam distância de combate, pude escrever essa carta. A batalha vai ser iniciada em minutos. Espero que logo possamos relembrar dessa e muitas outras lutas, de preferência no Rio de Janeiro, em férias. Caso isso não aconteça, saiba que dei o melhor de mim.

Um beijo de sua filha
Jane Mussi

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Um belo partido




Fim de semana, churrasco da família. Avós encontram netos, que encontram primos, que revêem tios, que bebem, que fumam, que comem aos montes. Mas aquele era um evento especial, pois seria o primeiro a ter a grande estrela da família, Daniel, que havia se tornado um músico famoso. E, por isso, sua presença entre as serpentes passou a ser rara, dada a agenda de shows.

Digno de uma estrela da MPB, Daniel chegou com duas horas de atraso. Ao contrário dos fãs e daqueles que pagam o caro ingresso para vê-lo tocar, o resto da família não estava nem aí. Comer, beber e jogar conversa fora era o mais importante. O tio falastrão continuava a colocar todos em constrangimento. As crianças corriam ao redor da piscina. As mães comentavam as tendências da moda.

Quando Daniel desembarcou de seu carro esportivo, ouviu alguns aplausos, gracejos e o orgulho da família pelo sucesso na música. Ele era o mais tímido das festas, ficava o tempo todo perto do som, ouvindo as músicas que eram tocadas. Quando ganhou o violão, revezava com o CD player a animação das reuniões.

Mas dessa vez seria diferente, há muito tempo ele não via aquelas pessoas. Alguns, já falecidos, ficaram apenas nas lembranças. Outros mudaram cabelos, estilo e até o formato do rosto (nada que uma plástica não resolva hoje em dia). Quem não mudou nada foi a Rita, a prima-bonita-que-habita-os-sonhos-de-qualquer-rapaz.

Rita era realmente bonita, desde a infância. Mas o caráter não acompanhava as formas. Com 16 anos, já não ficava com quem andasse a pé, de bicicleta, carona ou ônibus. Tinha que ter carro. (inclusive, e Freud deve explicar, o carro que Daniel dirige atualmente é a versão atual dos carros dos namorados de Rita). A única música que conhecia era a que tocava nas rádios e nas boates. Tinha horror a comidas gordurosas e mais 3 mil amigos no Facebook.

- Vejo que você comprou um Golf zero – Rita se aproximou de Daniel.
- Pois é, guardei uma grana e consegui comprar.
- E aí, como está a agenda de shows?
- Boa, graças a Deus.

Daniel tentava se esquivar das perguntas da garota. Ainda que indiretamente, o assunto era sempre dinheiro, carros, jóias, ostentação. O músico até que poderia contar sobre como conquistou uma modelo cantando Woman, do John Lennon. Ou sobre a felicidade de tocar em um tributo a Tom Jobim. Discursaria sem problemas sobre o dia em que fez greve de fome e assim chamou atenção para a questão da distribuição dos direitos autorais aos artistas.

Mas não. A garota só tinha ouvidos para determinados assuntos. Paciência. Rita era, com certeza, a musa de muitas das músicas do rapaz. Músicas estas compostas há anos, quando o amor platônico era tanto que passou a evitar as reuniões familiares. Não queria ser ignorado e/ou trocado por qualquer rapaz bonito e rico. Preferia a solidão do quarto do que procurar no namorado da vez qual a razão da atração dele sobre Rita. A conclusão, quase sempre, era múltipla. Era o carro mais o braço forte. Ou a promessa de uma viagem a Lisboa somada a um sorriso encantador.

Por isso, também, estava adorando toda aquela bajulação da jovem. Qual homem não gosta de ser paquerado por alguém tão bela, e por quem sentia uma atração tão forte há anos? Ainda que o gosto naquele momento era similar àquele que os vingativos sentem. Daniel, desde que ficara famoso, saía frequentemente com modelos, atrizes, dançarinas de programas de auditório. Alguns relacionamentos iam para frente, outros ficavam pelo caminho. Rita era tão bela quanto a modelo que não emplacou na carreira, a atriz que tinha um segundo emprego para pagar as contas ou a dançarina que fazia também strip-tease.

Era hora de ir embora. Daniel se despediu de cada um dos presentes com um sorriso e a calma de não precisar ser educado ao extremo, como os artistas fazem com fãs. Na hora dizer adeus a Rita, um beijo no rosto da prima foi suficiente. Se pudesse ler pensamentos, na testa da jovem estaria estampado algo como “um belo partido. Para casar”.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Serenata pelo YouTube




Ontem à noite, eu conheci uma guria. Já era tarde, era quase dia.

Parafraseei Humberto Gessinger para mostrar como foi meu fim de noite, ontem. Salvar uma balada de sábado não é das missões mais fáceis. Eu estava quase desistindo de ficar com alguém, quando ela apareceu na minha frente. Ela estava bêbada, mas não a ponto de dar vexame. Eu estava, com certeza, mais alcoolizado que ela.

Mas vamos ao que interessa. O papo até que fluiu bem. Falamos sobre a música que estava tocando. Um pop alternativo, desses que não toca nas rádios,  mas muitos conhecem. Ela me contou que lia vários blogs sobre música, e a canção que era executada naquele momento recebeu muitos elogios de críticos e do pessoal que comentava.

Veja só, ela gostou tanto da música que fez um vídeo com imagens que ela gostava, fotos dela e de amigos, coma música de fundo.

- Já tem 3.827 visualizações - contou, entusiasmada.

Quando eu contei que tocava baixo, ela se mostrou interessada. Queria ver uma exibição minha com o instrumento. Até tentei argumentar, dizendo que ele não tem uma sonoridade solitária, como o violão ou o teclado. Eram necessários outros instrumentos, como uma bateria, para complementar o som.

Mas ela insistiu. "Mexa seus pauzinhos", disse, sem qualquer ironia ou jogo de palavras. Dessa forma, não pude recusar, mas pedi algum tempo para ensaiar uma música bem interessante para mostrar a ela. Usei esse argumento também para conseguir uma segunda oportunidade de encontrá-la, sem tanta música alta nem pessoas ou bebidas ao redor. Parece que colou.

Mudei o assunto e perguntei sobre trabalho. O que ela fazia, onde trabalhava? Ela despistou. Não quis falar, disse que assim lembrava que em poucas horas (já era domingo, nunca é demais lembrar) teria que voltar ao batente. Respeitei, provavelmente não era o trabalho que ela sonhara.

Aí algo interesante aconteceu. Como não ficou à vontade com o assunto, e percebeu que eu havia ficado surpreso com isso, propôs de nos encontrarmos novamente. Com alegria, a convidei para um programa pouco usual e antiquado: ir a uma sorveteria.

- Uau, adoraria - ela respondeu.

Nos despedimos com um beijo. Foi mais um selinho. Antes, adicionamos nossos perfis no Facebook, nos seguimos no Twitter e, pasmem, trocamos MSN.

Assim, misturando o tecnológico com o comportamento do início do século, tive uma outra mirabolante ideia. Iria fazer uma serenata virtual. No baixo e voz. Posicionei meu celular e gravei uma música. O som do baixo ficou parecido com o de Nathan East na introdução de Old Love, do Eric Clapton, que você ver aqui. Parece um violão tocando bossa nova. Para a voz, fiz uma letra qualquer contando nossa história, utilizando as palavras linda, amor, apaixonado e a frase principal, quer namorar comigo.

Pus no YouTube, mandei o link no Facebook dela e desliguei o computador. Três horas depois, ela me ligou, toda eufórica. Disse que aceitava namorar comigo, e falou para ver quantos compartilhamentos foram feitos. No total, 315. Fora os comentários, os curtir (1.741) e as menções no Twitter. No total, só no primeiro dia, foram 5.592 visuzalizações. Mais do que o vídeo da agora minha namorada.

Fiquei famoso, dei algumas entrevistas. Nada demais. O que eu queria mesmo eu havia conseguido. A guria, finalmente, era minha. Para os geeks e tecnológicos de plantão, fica a dica.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Texto meu no Senpuu

Aos queridos leitores, uma ótima notícia: os textos da Saga da Sentai Vermelha, que vocês têm acompanhado aqui, estão sendo postados no Senpuu, um site inteiramente dedicado aos tokusatsus.

A saga é composta por cinco carta, três das quais já foram publicadas aqui. Por isso, adiando que as duas  cartas restantes sairão em primeira mão no Senpuu. Depois publicarei neste blog.

Para ver a publicação da primeira carta, clique aqui.

Um abraço,
Felipe