quarta-feira, 23 de junho de 2010

Relatos de um psicopata - a paixão psicóloga



Uma vez fiz um teste para saber se sou um bom profissional. O resultado foi catastrófico, veja só: “Procure ajuda imediatamente. Seu nível de depressão está além dos limites. Sua motivação e autoestima são mais baixos que as temperaturas glaciais e sua tendência suicida pode vir a prejudicar no trabalho”.

Engraçado, não acho que estou com depressão. Ah, se eu pudesse, arrancava a cabeça da mulher que escreveu este artigo. Sim, porque só pode ser mulher para fazer uma bobagem dessas.

Tive uma amiga que falou algo parecido. A Jaqueline era estudante de psicologia e queria ajudar meio mundo. Ela disse que podia me encaminhar a um profissional qualificado que poderia me ajudar e me chamava de “deprimidinho”. E esse apelido pegou na turma da faculdade. Os caras me zoavam, e as mulheres olhavam ora com cara de pena, ora com cara de deboche.

Os meses passavam e a Jaqueline não mudava a opinião. Até que um dia ela desabafou, em tom nervoso:

- Não vê que quero você do meu lado? Só que eu quero alguém com a mente sadia. Se trate e vamos ser felizes juntos...

Chorou um pouco. Eu nunca havia recebido uma declaração como essa. Até a achava bonitinha, mas não a ponto de querer um relacionamento com ela. Os dias passaram e ela me perseguia. Uma vez a beijei, para ver se ela se dava por satisfeita. Não ficou. Pior, passou a me perseguir mais ainda.

Aguentei a pressão até uma festinha na casa de um amigo em comum. Com a tequila na cabeça, me jogou no sofá e começou a tirar a roupa. Era um striptease bem tosco, ela não sabia dançar direito. Envergonhado, usei meu casaco para esconder o que ela insistia em mostrar só para mim, mas em público. Joguei-a num chuveiro gelado, enxuguei-a e a deitei em uma cama, onde dormiu até a manhã seguinte.

Na faculdade, ao contrário do que costuma ser, eu fiquei com a fama de broxa e ela saiu toda poderosa da situação. Talvez tenha usado alguma tática de psicologia para verter a atenção à minha recusa.

Foram meses sendo zoado na faculdade. Cheguei a faltar uma semana inteira, mas o povo não me esquecia.
Tive que matar alguém para calar esse povo. Foi a única morte planejada, racional. Todas as outras – e foram muitas- foram instintivas, no calor do momento. Sobrou para a Jaqueline. 

Foi a única pessoa que matei e fui ao enterro. Todos os que apontavam o dedo e riam agora choravam com agonia. A partir daquele momento, pude ir à faculdade em paz.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Relatos de um psicopata


 Tá, eu confesso. Matei todas aquelas garotas. Sabe como é, umas me enchem o saco, outras não me querem, e todas se tornam problemas. E eu simplesmente decidi, um belo dia, que iria eliminar todos os problemas de minha vida. Assim o fiz.

A primeira foi a Amanda. Linda, sorridente, tinha um bundão. Ela simplesmente não olhava para mim. Você sabe o que é um adolescente ser ignorado pela garota dos seus sonhos? Eu pensava que ela simplesmente ainda não tinha decidido namorar, o que é normal; às vezes a garota tem como objetivo na vida estudar, conseguir um bom emprego, curtir a juventude. Mas ela vivia de chamego para alguns caras da minha sala. E nada de dar atenção a mim.

Bom, hoje, talvez no céu, ela sabe quem sou. Fui eu quem ela viu pela última vez. Não é bonito? Você é a última lembrança em vida de uma garota. Garota não, beldade. Uma gata.

A segunda foi a Aimee. Assim mesmo, francesa. Se ela nasceu na Europa, eu não sei. Falava muito bem o português, com gírias e frases perfeitas. Fazíamos cursinho juntos. Uma vez a vi em uma propaganda de calças jeans, e tive um choque: ela era modelo. Eu não a achava tão bela, era magra demais. Mas ter uma modelo em minhas conquistas faria com que minha vida fosse mais completa.

Comecei me aproximando como quem não quer nada. Ficamos amigos, mas desses que dividem a mesma turma juntos. Uma vez tentei me declarar. Gaguejei, e ela percebeu minhas intenções. A partir deste dia se distanciou de mim. Essas coisas machucam a gente por dentro. Diminuem a nossa autoestima e nos fazem sentir feios, sujos, mal-vestidos. A gota d’água foi o dia em que fomos a uma festa, e ela beijou um cara na minha frente. Convenhamos, ele era muito mais feio, não cheirava muito bem e tinha os dentes tortos. O que ela viu nele, e me deixou de lado? Bom, de qualquer forma, aquele foi o último beijo da vida dela. Naquela noite, ela não voltou para casa.

Essas duas eu lembro porque foram marcantes: a primeira paixão e a modelo. As outras, eu não dizer a ordem, nem quando. Somente as circunstâncias. Acredite, todas mereceram o destino que tiveram.

A Miriam, por exemplo, se foi desta para uma melhor porque riu. De mim, obviamente. Foi uma das mulheres mais lindas com quem eu já tive um affair (como dizem as revistas de fofocas). Nos conhecemos em uma viagem, mas nada aconteceu. Por isso trocamos contatos, e marcamos de visitar o Rio de Janeiro juntos. Cristo, Corcovado, Copacabana. À noite fomos ao meu quarto de hotel. Beijos aqui, toques ali e o momento foi esquentando. Só que eu estava com mais pressa do que ela. Eu já estava de roupas íntimas, e ela começava a tirar a blusa. Seu colo, perfeito. Mais beijos e carícias rolaram até ela tirar, com sensualidade e movimentos suaves, a calça. Eu não resisti a seu belo corpo, mesmo de lingerie sob uma meia-luz cinematográfica.

Quando ela viu minha cueca molhada, começou a rir. Não foi uma risadinha discreta, foi uma gargalhada. Pediu desculpas, mas chorava de tanto rir. Foi a última risada dela. E eu ri melhor, porque ri depois.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Lúcio e Meg - Parte 3


Alguns dias antes de encontrar Meg para fazerem uma pesquisa, Lúcio pensou em escrever uma carta à mulher amada. Eis o que o mestrando pôs no papel:


“Minha amada Meg,

Durante muito tempo, mais precisamente na minha infância, sentia que as pessoas tinham uma necessidade grande de amar alguém. Não só o amor físico, o sexo, o toque, o beijo, mas o companheirismo, o sorriso, o estar junto, o compartilhar (coisas tangíveis e intangíveis).

Desde que a conheci, passei a sentir este amor. Veja bem: nunca nos tocamos, jamais ficamos a menos de um metro de distância. Ainda assim, eu a amo. Penso em ti por horas a fio, durante as aulas, durante os sonhos, no ônibus, na fila do bando.

Eu gostaria de compartilhar este amor contigo. Queria muito que nos conhecêssemos, compartilhássemos segredos, sonhos e até mesmo, quem sabe, postos de trabalho, já que estudamos os mesmos assuntos.

Ainda assim, sei tão pouco sobre você. De quais filmes gosta. De qual tipo de música. Quais lugares que freqüenta. Que horas dorme, que horas acorda.

E quem sabe, se você se apaixonar por mim, a gente se case. Viveríamos um em função do outro. Os dois em função dos frutos. Assim, minha vida seria completa. O amor me completaria.

Com amor,
Lúcio”

Após escrever estas palavras, naquela noite, o rapaz se libertou de uma angústia sem tamanho. E conseguiu dormir. Com um sorriso no rosto.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Lúcio e Meg - Parte 2

O dia seguinte é diferente. A fixação do olhar de Lúcio sobre Meg cresceu. Parece que a saudade fez com que os momentos em que estão no mesmo ambiente sejam aproveitados ao máximo pelo coração do rapaz. Um único olhar cruzado e pronto. Ele dispara e provoca tremedeira, suor e frio. Ele controla a maior parte das ações de Lúcio, deixando a razão em segundo plano - e é isso que os poetas celebram nos versos.


Um homem, quando em êxtase por uma paixão arrebatadora, perde algumas noções. Fala bobagens, fala alto para chamar a atenção da amada. Se irrita quando alguém tenta desviar o olhar ou a atenção quando admira a mulher. Qualquer coisa é desculpa para pensar nela ou olhar as fotos dela na internet.

E o tanto pensar e imaginar leva ao mais verdadeiro dos lugares: os sonhos. Lúcio sonhou que cantava uma serenata a Meg. A música era The Blowers Daughter, do britânico Damien Rice. Havia levado um amigo que tocava violão, e cantou para a moça do sorriso brilhante. Rindo, ela agradeceu e ofereceu um café à dupla de amigos, prontamente aceito por ambos (a desgosto de Lúcio, que queria ficar a sós com a bela). Os vizinhos agiram de forma heterogênea: a senhora suspirou com a declaração. O solteiro queria dormir e xingou o rapaz. O casal aproveitou para reatar após uma briga. o menino chorou e se escondeu, para que nenhum amiguinho ficasse sabendo.

Por mais real que fosse, era apenas um sonho. E naquele momento, estava do lado dela, que por mais irreal que parecesse, estava acontecendo. Falavam sobre uma pesquisa que precisariam fazer. O grupo era numeroso, ela liderava a todos com maestria. Alguns olhares de Meg para Lúcio, por mais profissionais que fossem, indicavam ao rapaz um caminho aberto. Ele só teria que se preocupar em não falar bobagens, nem indicar este amor fervoroso.

Meg parecia ser do tipo que foge quando um rapaz está a fim dela. Lúcio havia percebido esta característica e se policiava em cada gesto ou palavra. Aos poucos, a aproximação aconteceria, e deveria ser extremamente calculada. Se percebesse uma negativa, repensaria alguns atos. Uma positiva, continuava adiante.

Marcaram de se encontrar na casa dela no sábado, para conclusão da pesquisa.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Lúcio e Meg – Parte 1


Ela estava ali, sentada do lado de Lúcio, a assistir mais uma das intermináveis aulas. O curso era puxado – mestre em botânica – e necessitava toda a atenção necessária. Margarete, mas conhecida por todos como Meg, não era lá a mulher mais bonita do curso, sequer da universidade. Mas para um homem apaixonado, a mulher pode ser privada de todos os recursos estéticos comuns à maioria das pessoas, que ela será a mais bela de todas.


Lúcio mal podia esperar para acabar a aula. Iria agarrar a mulher amada e tascar-lhe um beijo, daqueles cinematográficos, na frente de todos. Encostaria a mulher na parede, seguraria em sua nuca e encostava os lábios com força e veemência em um primeiro momento. Em seguida, apenas daria pequenos toques para sentir o odor do perfume exalado tanto da boca quanto do pescoço da morena.

Logo abriria um sorriso e olharia nos olhos de Meg, que com a boca semiaberta indicaria a vontade de voltar ao beijo, e as conseqüências deste. Algumas pessoas iriam olhar a cena comentar com o colega ao lado, dando pequenas risadas e com um olhar invejoso. Outros reparariam no momento íntimo do casal e não esboçariam qualquer reação. Já a maioria, atrasada para a aula posterior ou para algum compromisso fora das atividades acadêmicas, sequer perderia um segundo para observar um casal apaixonado.

A sombra do canto escolhido por ambos para iniciar os abraços contrastaria com a luz do meio dia no Brasil. O silêncio de uma universidade à hora do almoço seria interrompido pelos sussurros e pelos gritos de paixão internos das mentes de Lúcio e Meg.

Ele passaria a mão no cabelo da bela. A protegeria, alimentaria, faria todo o possível para que estivessem sempre juntos. E quando não conseguissem, ele pensaria nela o tempo todo. Não importa que o desempenho escolar caísse. Não importa que a conta do banco passasse para o vermelho. Tê-la em seus braços e sua mente era o mais importante.

A despedida seria com o coração apertado. Promessas de amor seriam ditas. Juras de fidelidade e eternidade da relação proferidas. Os olhos brilhariam mais do que nunca, e apenas a expressão serena e sorridente já denunciaria a felicidade completa para ambos.