quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Jealous
Escrevi no Twitter:
Existem pessoas que nasceram para ser felizes. E existem pessoas que nasceram para sentir inveja daquelas.
Existem pessoas que nasceram para ser felizes. E existem pessoas que nasceram para sentir inveja daquelas.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Cuidado com os burros motivados
Entrevista do Roberto Shinyashiki concedida há mais de 5 anos (em 19/10/2005) para o jornalista Camilo Vannuchi e publicada na revista ISTOÉ. Lembro que foi um baque ler este texto, por todo o contexto em que se passava minha vida.
No final de contas, o título de um dos livros dele (O sucesso é ser feliz) não é nada além da mais pura verdade. Deleite-se. Não é um conto ou um texto fictício.
Observador contumaz das manias humanas, Roberto Shinyashiki está cansado dos jogos de aparência que tomaram conta das corporações e das famílias. Nas entrevistas de emprego, por exemplo, os candidatos repetem o que imaginam que deve ser dito. Num teatro constante, são todos felizes, motivados, corretos, embora muitas vezes pequem na competência. Dizem-se perfeccionistas: ninguém comete falhas, ninguém erra. Como Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) em Poema em linha reta, o psiquiatra não compartilha da síndrome de super-heróis. “Nunca conheci quem tivesse levado porrada na vida (...) Toda a gente que eu conheço e que fala comigo nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipe”, dizem os versos que o inspiraram a escrever Heróis de verdade (Editora Gente, 168 págs., R$ 25). Farto de semideuses, Roberto Shinyashiki faz soar seu alerta por uma mudança de atitude. “O mundo precisa de pessoas mais simples e verdadeiras.”
Quem são os heróis de verdade?
Roberto Shinyashiki -
Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado,
viajar de primeira classe. O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes. E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados. Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa. Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa possa se orgulhar da mãe. O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes. Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros. São pessoas que sabem pedir desculpas e admitir que erraram.
Istoé -
O sr. citaria exemplos?
Roberto Shinyashiki -
Dona Zilda Arns, que não vai a determinados programas de tevê nem aparece de Cartier, mas está salvando milhões de pessoas. Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia. Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida. Eles são meus heróis. Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem. Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito “100% Jardim Irene”. É pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população americana. Em países como Japão, Suécia e Noruega, há mais suicídio do que homicídio. Por que tanta gente se mata? Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher que, embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa décadas em um emprego que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir seguro.
Istoé -
Qual o resultado disso?
Roberto Shinyashiki -
Paranóia e depressão cada vez mais precoces. O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece. A única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança. Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas. Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.
Istoé -
Por quê?
Roberto Shinyashiki -
O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência. Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras. Disse que ela não parecia demonstrar interesse. Ela me respondeu estar muito interessada, mas, como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa. Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Contratei na hora. Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.
Istoé -
Há um script estabelecido?
Roberto Shinyashiki -
Sim. Quer ver uma pergunta estúpida feita por um presidente
de multinacional no programa O aprendiz? “Qual é seu defeito?” Todos
respondem que o defeito é não pensar na vida pessoal: “Eu mergulho de
cabeça na empresa. Preciso aprender a relaxar.” É exatamente o que o chefe
quer escutar. Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado
ou esquecido? É contratado quem é bom em conversar, em fingir. Da mesma
forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder.
O vice-presidente de uma das maiores empresas do planeta me disse: “Sabe, Roberto, ninguém chega à vice-presidência sem mentir.” Isso significa que quem fala a verdade não chega a diretor?
Istoé -
Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?
Roberto Shinyashiki -
Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o conhecimento. Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é competência. Cuidado com os burros motivados. Há muita gente motivada fazendo besteira. Não adianta você assumir uma função para a qual não está preparado. Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão. Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso para o qual eu não estava preparado. Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia. O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.
Istoé -
Está sobrando auto-estima?
Roberto Shinyashiki -
Falta às pessoas a verdadeira auto-estima. Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto-estima está baixa. Antes, o ter conseguia substituir o ser. O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom. Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o objetivo de vida se tornou parecer. As pessoas parece que sabem, parece que fazem, parece que acreditam. E poucos são humildes para confessar que não sabem. Há muitas mulheres solitárias no Brasil que preferem dizer que é melhor assim. Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.
Istoé -
Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?
Roberto Shinyashiki -
Isso vem do vazio que sentimos. A gente continua valorizando os heróis. Quem vai salvar o Brasil? O Lula. Quem vai salvar o time? O técnico. Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta. O problema é que eles não vão salvar nada! Tive um professor de filosofia que dizia: “Quando você quiser entender a essência do ser humano, imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um jantar no Palácio de Buckingham.” Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth também tem diarréia. Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram certo. A gente tem de parar de procurar super-heróis. Porque se o super-herói não segura a onda, todo mundo o considera um fracassado.
Istoé -
O conceito muda quando a expectativa não se comprova?
Roberto Shinyashiki -
Exatamente. A gente não é super-herói nem superfracassado. A gente acerta, erra, tem dias de alegria e dias de tristeza. Não há nada de errado nisso. Hoje, as pessoas estão questionando o Lula em parte porque acreditavam que ele fosse mudar suas vidas e se decepcionaram. A crise será positiva se elas entenderem que a responsabilidade pela própria vida é delas.
Istoé -
É comum colocar a culpa nos outros?
Roberto Shinyashiki -
Sim. Há uma tendência a reclamar, dar desculpas e acusar alguém. Eu vejo as pessoas escondendo suas humanidades. Todas as empresas definem uma meta de crescimento no começo do ano. O presidente estabelece que a meta
é crescer 15%, mas, se perguntar a ele em que está baseada essa expectativa, ele não vai saber responder. Ele estabelece um valor aleatoriamente, os diretores fingem que é factível e os vendedores já partem do princípio de que a meta não será cumprida e passam a buscar explicações para, no final do ano, justificar. A maioria das metas estabelecidas no Brasil não leva em conta a evolução do setor. É uma chutação total.
Istoé -
Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?
Roberto Shinyashiki -
Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz minha vida fluir facilmente. Há várias coisas que eu queria e não consegui. Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos. Com uma criança especial, eu aprendi que ou eu a amo do jeito que ela é ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse. Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo. O resto foram apostas e erros. Dia desses apostei na edição de um livro que não deu certo. Um amigão me perguntou: “Quem decidiu publicar esse livro?” Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.
Istoé -
Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?
Roberto Shinyashiki -
O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las. São três fraquezas. A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança. Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram. Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno. Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards. Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem covers do Bill Gates. O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas próprias potencialidades.
Istoé -
Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?
Roberto Shinyashiki -
A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras da sociedade. A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados individuais. A segunda loucura é: “Você tem de estar feliz todos os dias.” A terceira é: “Você tem que comprar tudo o que puder.” O resultado é esse consumismo absurdo. Por fim, a quarta loucura: “Você tem de fazer as coisas do jeito certo.” Jeito certo não existe. Não há um caminho único para se fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento. Você precisa ser feliz tomando sorvete, levando os filhos para brincar.
Istoé -
O sr. visita mestres na Índia com freqüência. Há alguma parábola que o sr. aprendeu com eles que o ajude a agir?
Roberto Shinyashiki -
Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes.
Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o médico pela camisa e diz: “Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero ser feliz.” Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas. Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis. Uma história que aprendi na Índia me ensinou muito. O sujeito fugia de um urso e caiu em um barranco. Conseguiu se pendurar em algumas raízes. O urso tentava pegá-lo. Embaixo, onças pulavam para agarrar seu pé. No maior sufoco, o sujeito olha para o lado e vê um arbusto com um morango. Ele pega o morango, admira sua beleza e o saboreia. Cada vez mais nós temos ursos e onças à nossa volta. Mas é preciso comer os morangos.
No final de contas, o título de um dos livros dele (O sucesso é ser feliz) não é nada além da mais pura verdade. Deleite-se. Não é um conto ou um texto fictício.
Observador contumaz das manias humanas, Roberto Shinyashiki está cansado dos jogos de aparência que tomaram conta das corporações e das famílias. Nas entrevistas de emprego, por exemplo, os candidatos repetem o que imaginam que deve ser dito. Num teatro constante, são todos felizes, motivados, corretos, embora muitas vezes pequem na competência. Dizem-se perfeccionistas: ninguém comete falhas, ninguém erra. Como Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) em Poema em linha reta, o psiquiatra não compartilha da síndrome de super-heróis. “Nunca conheci quem tivesse levado porrada na vida (...) Toda a gente que eu conheço e que fala comigo nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipe”, dizem os versos que o inspiraram a escrever Heróis de verdade (Editora Gente, 168 págs., R$ 25). Farto de semideuses, Roberto Shinyashiki faz soar seu alerta por uma mudança de atitude. “O mundo precisa de pessoas mais simples e verdadeiras.”
Quem são os heróis de verdade?
Roberto Shinyashiki -
Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado,
viajar de primeira classe. O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes. E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados. Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa. Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa possa se orgulhar da mãe. O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes. Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros. São pessoas que sabem pedir desculpas e admitir que erraram.
Istoé -
O sr. citaria exemplos?
Roberto Shinyashiki -
Dona Zilda Arns, que não vai a determinados programas de tevê nem aparece de Cartier, mas está salvando milhões de pessoas. Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia. Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida. Eles são meus heróis. Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem. Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito “100% Jardim Irene”. É pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população americana. Em países como Japão, Suécia e Noruega, há mais suicídio do que homicídio. Por que tanta gente se mata? Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher que, embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa décadas em um emprego que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir seguro.
Istoé -
Qual o resultado disso?
Roberto Shinyashiki -
Paranóia e depressão cada vez mais precoces. O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece. A única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança. Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas. Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.
Istoé -
Por quê?
Roberto Shinyashiki -
O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência. Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras. Disse que ela não parecia demonstrar interesse. Ela me respondeu estar muito interessada, mas, como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa. Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Contratei na hora. Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.
Istoé -
Há um script estabelecido?
Roberto Shinyashiki -
Sim. Quer ver uma pergunta estúpida feita por um presidente
de multinacional no programa O aprendiz? “Qual é seu defeito?” Todos
respondem que o defeito é não pensar na vida pessoal: “Eu mergulho de
cabeça na empresa. Preciso aprender a relaxar.” É exatamente o que o chefe
quer escutar. Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado
ou esquecido? É contratado quem é bom em conversar, em fingir. Da mesma
forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder.
O vice-presidente de uma das maiores empresas do planeta me disse: “Sabe, Roberto, ninguém chega à vice-presidência sem mentir.” Isso significa que quem fala a verdade não chega a diretor?
Istoé -
Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?
Roberto Shinyashiki -
Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o conhecimento. Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é competência. Cuidado com os burros motivados. Há muita gente motivada fazendo besteira. Não adianta você assumir uma função para a qual não está preparado. Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão. Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso para o qual eu não estava preparado. Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia. O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.
Istoé -
Está sobrando auto-estima?
Roberto Shinyashiki -
Falta às pessoas a verdadeira auto-estima. Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto-estima está baixa. Antes, o ter conseguia substituir o ser. O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom. Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o objetivo de vida se tornou parecer. As pessoas parece que sabem, parece que fazem, parece que acreditam. E poucos são humildes para confessar que não sabem. Há muitas mulheres solitárias no Brasil que preferem dizer que é melhor assim. Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.
Istoé -
Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?
Roberto Shinyashiki -
Isso vem do vazio que sentimos. A gente continua valorizando os heróis. Quem vai salvar o Brasil? O Lula. Quem vai salvar o time? O técnico. Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta. O problema é que eles não vão salvar nada! Tive um professor de filosofia que dizia: “Quando você quiser entender a essência do ser humano, imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um jantar no Palácio de Buckingham.” Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth também tem diarréia. Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram certo. A gente tem de parar de procurar super-heróis. Porque se o super-herói não segura a onda, todo mundo o considera um fracassado.
Istoé -
O conceito muda quando a expectativa não se comprova?
Roberto Shinyashiki -
Exatamente. A gente não é super-herói nem superfracassado. A gente acerta, erra, tem dias de alegria e dias de tristeza. Não há nada de errado nisso. Hoje, as pessoas estão questionando o Lula em parte porque acreditavam que ele fosse mudar suas vidas e se decepcionaram. A crise será positiva se elas entenderem que a responsabilidade pela própria vida é delas.
Istoé -
É comum colocar a culpa nos outros?
Roberto Shinyashiki -
Sim. Há uma tendência a reclamar, dar desculpas e acusar alguém. Eu vejo as pessoas escondendo suas humanidades. Todas as empresas definem uma meta de crescimento no começo do ano. O presidente estabelece que a meta
é crescer 15%, mas, se perguntar a ele em que está baseada essa expectativa, ele não vai saber responder. Ele estabelece um valor aleatoriamente, os diretores fingem que é factível e os vendedores já partem do princípio de que a meta não será cumprida e passam a buscar explicações para, no final do ano, justificar. A maioria das metas estabelecidas no Brasil não leva em conta a evolução do setor. É uma chutação total.
Istoé -
Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?
Roberto Shinyashiki -
Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz minha vida fluir facilmente. Há várias coisas que eu queria e não consegui. Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos. Com uma criança especial, eu aprendi que ou eu a amo do jeito que ela é ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse. Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo. O resto foram apostas e erros. Dia desses apostei na edição de um livro que não deu certo. Um amigão me perguntou: “Quem decidiu publicar esse livro?” Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.
Istoé -
Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?
Roberto Shinyashiki -
O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las. São três fraquezas. A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança. Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram. Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno. Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards. Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem covers do Bill Gates. O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas próprias potencialidades.
Istoé -
Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?
Roberto Shinyashiki -
A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras da sociedade. A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados individuais. A segunda loucura é: “Você tem de estar feliz todos os dias.” A terceira é: “Você tem que comprar tudo o que puder.” O resultado é esse consumismo absurdo. Por fim, a quarta loucura: “Você tem de fazer as coisas do jeito certo.” Jeito certo não existe. Não há um caminho único para se fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento. Você precisa ser feliz tomando sorvete, levando os filhos para brincar.
Istoé -
O sr. visita mestres na Índia com freqüência. Há alguma parábola que o sr. aprendeu com eles que o ajude a agir?
Roberto Shinyashiki -
Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes.
Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o médico pela camisa e diz: “Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero ser feliz.” Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas. Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis. Uma história que aprendi na Índia me ensinou muito. O sujeito fugia de um urso e caiu em um barranco. Conseguiu se pendurar em algumas raízes. O urso tentava pegá-lo. Embaixo, onças pulavam para agarrar seu pé. No maior sufoco, o sujeito olha para o lado e vê um arbusto com um morango. Ele pega o morango, admira sua beleza e o saboreia. Cada vez mais nós temos ursos e onças à nossa volta. Mas é preciso comer os morangos.
Fonte: ISTOÉ
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Sonhos
Sonhos foram feitos para serem sonhados?
Pois eu já realizei alguns dos meus
Claro, guardadas as proporções
Já fui jogador de futebol
(treinei com um time da 3ª divisão, joguei mal, mas dividi o vestiário, treino físico, coletivo)
Já fui galã por um dia
(mesmo que tenha pego só uma)
Já me senti milionário a ponto de não saber mais onde gastar o dinheiro
(com meu primeiro salário. Comprei tantas quinquilharias que enjoei de gastar)
Já fui rock star
(toquei numa banda num festival da escola)
Já comi até passar mal
Já dormi até me revoltar
Já bebi até não me lembrar de mais nada
Agora o sonho é sossegar
E estabilizar
Pois eu já realizei alguns dos meus
Claro, guardadas as proporções
Já fui jogador de futebol
(treinei com um time da 3ª divisão, joguei mal, mas dividi o vestiário, treino físico, coletivo)
Já fui galã por um dia
(mesmo que tenha pego só uma)
Já me senti milionário a ponto de não saber mais onde gastar o dinheiro
(com meu primeiro salário. Comprei tantas quinquilharias que enjoei de gastar)
Já fui rock star
(toquei numa banda num festival da escola)
Já comi até passar mal
Já dormi até me revoltar
Já bebi até não me lembrar de mais nada
Agora o sonho é sossegar
E estabilizar
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Ela quis sair comigo antes de viajar
Cena 1: Subi dez andares de elevador com alta ansiedade. Jantar com a Sylvia, na casa dela, era algo impensável há alguns meses, quando comecei a olhar para ela com mais intensidade, e dizer coisas com segundas intenções. Algumas vezes ela ria, com ironia. Em outras era ríspida e educada ao mesmo tempo, me deixando sem respostas. Os colegas de escritório já me davam apelidos por causa da repulsa.
A comida estava deliciosa. Era um peixe, que não sei o nome, com um molho extremamente saboroso. Para beber, nada de vinho. Era refrigerante mesmo. Durante a refeição, Sylvia me contou um pouco de sua vida.
- Perdi meu pai aos 10 anos. Morava em São José dos Campos, de onde mudei para vir fazer faculdade. Consegui emprego e aqui fiquei. Minha mãe se casou novamente e adotou duas crianças.
Falamos pouco sobre o trabalho, não era mesmo o assunto mais indicado naquele momento. Sobre amores passados, o suficiente para ter consciência sobre como eu deveria agir para fazê-la feliz.
Sempre fui apaixonado por ela, mas diante das constantes negativas, seguia minha vida. Bares e boates faziam parte da minha rotina nas folgas. E estava disposto a mudar isso, só faltava o aval da própria. Mas nunca tive muitas esperanças, tanto que fiquei extremamente surpreso quando ela falou sobre o jantar.
Convidar para jantar não é sinônimo de querer um relacionamento. Sylvia não ficava a menos de um metro de mim. Na despedida, apenas um beijo no rosto e um sorriso. Eu teria que treinar mais a minha paciência.
Cena 2: Agora foi a minha vez de convidá-la a comer algo. Levei-a a um lugar pouco movimentado, com luzes de velas e comida elogiada pelos jornais. Sylvia parecia entediada com a situação – pouco falou, comeu e bebeu com velocidade. Surpreendeu-me quando, ao entrarmos no carro para ir embora, pediu:
- Vamos até sua casa?
Expliquei a ela que moro em uma república, junto com outros sete homens. Ela não se importou. Chegando ao local, todos os carros dos meus companheiros estavam na garagem. Era tarde, todos já dormiam – tinham que trabalhar no dia seguinte. O lugar ideal naquela situação era o quintal. Peguei duas cervejas e fomos ver as estrelas.
- Este é o lugar que você vem quando quer pensar?
- Sim, embora há alguns meses não faço isso – respondi.
- Entendo. Sabe por que te convidei para sair?
- Neste caso, foi a minha vez te convidar.
- Sim, mas naquela vez, para ir à minha casa. Em duas semanas vou à Inglaterra. Morarei por lá. Então quis realizar um sonho, fazer uma boa ação.
Sylvia não precisou dizer mais nada. Me aproximei e a beijei. Foi um beijo gostoso, sem compromisso ou por obrigação. Em tom baixo, para não acordar ninguém, continuamos conversando. Estava tudo bem: meu sonho estava realizado.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Paixão cor da Ferrari
Ele correu, afastou as pessoas que impediu sua passagem e chegou até seu destino. A bela loira não o aguardava, mas sorria para as diversas câmeras que a cercava.
- Saia daqui. Estou trabalhando – disse, em tom baixo.
- Marília, me desculpe. Eu te amo. Demorei para perceber isso, mas te amo.
- Depois conversamos sobre isso. Agora não posso.
Ele saiu, após ouvir alguns insultos por estar entre as lentes das máquinas fotográficas e as duas belas que se exibiam. A Ferrari por si só já atraía olhares de cobiça, desejo e paixão. Com Marília ao lado, estes sentimentos eram elevados ao quadrado.
Rui não desistiu. Saiu apressado do local, dando alívio temporário à mulher que amava. Mas poucos minutos depois, voltava com um buquê de rosas vermelhas. O cartão dizia: “Nosso amor é como estas rosas. Tem o vermelho da paixão, os espinhos do ciúme e deve ser cuidado diariamente, senão pode morrer”.
Marília recebeu os presentes com um sorriso de canto da boca. Envergonhada, se deixava fotografar naquele momento por puro profissionalismo. Afinal, não é qualquer modelo que é escalada para ficar ao lado de uma lenda das quatro rodas.
- O texto está brega... E nem gosto tanto assim de rosas.
Rui tinha a consciência de que a amada estava se fazendo de difícil. Na frente das câmeras, quanto mais demorada é a paixão, melhor. E havia muitas câmeras. Saiu com outra ideia. Seu grande sorriso denunciava a grandeza do planejado.
Em meia hora, chegava um homem carregando uma mesa. Logo atrás, outro distribuiu pratos, talheres e taças. Em seguida, foram servidos champanhe e um prato francês. Marília sentou e ouviu o que Rui tinha a dizer.
- Sei que errei com você. Sabe, eu levava outra vida antes de te conhecer. Festas, bebidas, mulheres. Com você descobri o amor. Te amo, muito. Vamos ficar de bem.
A garota olhou para o responsável pelo stand. Ele fez um sinal de positivo, pois o público pensava que a cena era uma jogada de marketing. Por isso começaram a chegar as esposas e namoradas dos que babavam pelo carro (e pela modelo também).
Em poucos minutos, a maior parte das atenções estava no stand da Ferrari. A torcida era para a volta do casal. O beijo apaixonado do casal foi aplaudido. Lágrimas rolaram no palco e na plateia. As câmeras registraram cada momento.
Conto em homenagem ao Salão do Automóvel
Foto: Paulo Vitale – www.paulovitale.com.br
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Sentimento recíproco
Não sou do tipo da beleza fácil. Não tenho atrativos imediatos que me tornem uma daquelas pessoas que qualquer uma se apaixonaria em poucos instantes. Sequer me esforço para o contrário: visto-me com simplicidade, dedico mais tempo ao trabalho do que ao lazer (tenho sonhos materiais a realizar) e tenho poucos passatempos.
Um destes passatempos é imaginar. Não o fantasioso, nem o absurdo, sequer o imponderável. Imagino romances com as mulheres mais belas que meus olhos têm o deleite de apreciar. Pode ser uma colega de trabalho, uma estrela de cinema ou uma estranha que bebe o suco gelado no meio da tarde na padaria em frente o estacionamento.
De repente minha mente se movimenta a uma simples praia em um dia nublado, com a mulher desejada caminhando e sorrindo, feliz com minha companhia. A trilha sonora remete a músicas calmas, sussurradas, com um violão bem acompanhado, daquelas que ninguém conhece e nem deve conhecer, para não tirar o foco do momento. Sua beleza me faz esquecer tudo o que deve ser feito, me deixa com vontade de simplesmente jogar a vida para o alto e viver apenas o sonho.
Essas visões me fazem feliz. Sorrio sozinho a cada momento que não aconteceu, cada lugar que não visitei, cada companhia que não toquei. Isso não me impede de ter uma vida social e profissional normal, é apenas uma peculiaridade minha. Já me relacionei com mulheres no passado, porém agora quero me dedicar ao futuro que lutei muito para ter o direito de conquistar.
O problema é quando o sonho vira realidade, quando não queria que isso acontecesse. Foi no dia em que a Patrícia, uma amiga de um colega meu, passou a me olhar de forma diferente. Ela é linda, comunicativa e bem-vestida. Tive mil e um “sonhos” com ela, sendo o mais esquisito (embora mais adequado à personalidade gritante dela) em um salão de baile, dançando ritmos caribenhos.
Todas as vezes que saíamos juntos (nós e nossos amigos), ela sempre se sentava do meu lado. Me procurava para bater um papo na internet sempre que possível. Dava um jeito para se infiltrar nos programas mais masculinos só para me ver. Os meus amigos tinham certa inveja, mas me incentivavam.
- Vai lá, cara, chega junto. Ela tá te dando mole. Tirou a sorte grande, hein...
Não importava o quanto eu quisesse apenas manter nossa relação no plano imaginário. Ela sempre vinha atrás de mim. E eu sempre despistava. Até que um dia ela não me deixou escolha. Veio até o meu escritório, vestida do modo mais simples (e sexy) possível. Sem maquiagem, estava com os cabelos presos. Nunca a vi tão linda e feliz. Me convidou para jantar, e eu aceitei.
Agora vivo na carne todos os meus sonhos.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Conto: Entrevista com "a mina" de Malhação
O mesmo jovem repórter que entrevistou o Pedro de Malhação, marcou um bate papo com a protagonista da série global, Daniela Carvalho. Eis o conteúdo da conversa:
P: E aí, já estão chovendo buquês de flores e caixas de bombons dos pretendentes?
R: Não tem essa. Sou compromissada e só tenho olhos para o meu namorado. Mas os fãs têm me tratado com muito carinho, e isso é excelente.
P: Como é ser disputada por dois galãs de primeira linha?
R: A Catarina, minha personagem, tem muita sorte, mas também uma personalidade muito forte. Não é qualquer um que consegue chamar a atenção dela. O Eric já a traiu várias vezes, não creio que ele tenha mais chances, a não ser se ele mudar muito. Já o Pedro conquistou o coração dela, mas vários fatores conspiram para que não fiquem juntos.
P: Muitos falam que a Malhação é uma novela “menor”, com roteiro pior e com atores em fase de desenvolvimento. O que você pensa disso?
R: De fato o roteiro não tem a densidade de uma novela das oito. Até porque a linguagem é jovem, é uma série de entretenimento. E tem muitas caras novas sim, por isso não dá para cobrar uma atuação digna de uma Fernanda Montenegro, até pela falta de experiência. E não se deve menosprezar a inteligência de quem assiste, apesar de eu achar que a série não faz isso.
P: Você acha que tem a evoluir como atriz com esse papel?
R: Sim, todos aprendemos algo todos os dias. Mas já tenho experiência no teatro, fiz peças independentes, não sou uma atriz crua. Veja bem: da Malhação saíram diversas ótimas atrizes, a última delas é a Nathalia Dill...
P: Você é muito paquerada?
R: Não, como disse acima, só tenho olhos para o meu namorado.
P: Quais seus segredos de beleza?
R: Rir bastante, ser bem-humorada, fazer atividade física, beber muita água...
P: Você nunca perde o controle?
R: Perco, claro, sou humana.
P: Um recado para os fãs (nota do editor: ô conversinha chata...)
R: Assistam Malhação. Beijos.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
O pequeno craque
Ele tinha pouca idade, mas uma responsabilidade enorme nas costas. Não era profissional ainda, e por isso mesmo tinha que coordenar todo o time do bairro o qual era camisa 10. O torneio regional até tinha sido relativamente fácil – ficaram em segundo lugar e conquistaram a vaga para o estadual.
No estadual, deu sorte de os principais adversários terem caído na mesma chave e, literalmente, se matarem. Assim, chegaram à final como zebras, mas conquistaram a vitória, com direito a três gols do garoto-prodígio.
O título os levou a um grupo teoricamente mais fácil no torneio nacional. Por isso passaram pela primeira fase com facilidade. Depois, nas quartas de final, uma vitória nos pênaltis, e um alerta de que a partir dali os jogos seriam mais difíceis. E assim foi: outra vitória nos pênaltis na semi-final e a vaga na grande final garantida. Perderam por 4 a 0.
A perda do título só não foi menos chorada porque os finalistas garantiriam uma vaga no torneio mundial. Campos excelentes, olheiros internacionais e a chance de disputar jogos com os times mais famosos: Manchester United, Porto, Barcelona, Milan... todos estariam lá, sendo enfrentados pelo garoto, que não tinha medo deles – pelo contrário, sentia imenso orgulho e coragem de jogar contra os melhores.
No estadual, deu sorte de os principais adversários terem caído na mesma chave e, literalmente, se matarem. Assim, chegaram à final como zebras, mas conquistaram a vitória, com direito a três gols do garoto-prodígio.
O título os levou a um grupo teoricamente mais fácil no torneio nacional. Por isso passaram pela primeira fase com facilidade. Depois, nas quartas de final, uma vitória nos pênaltis, e um alerta de que a partir dali os jogos seriam mais difíceis. E assim foi: outra vitória nos pênaltis na semi-final e a vaga na grande final garantida. Perderam por 4 a 0.
A perda do título só não foi menos chorada porque os finalistas garantiriam uma vaga no torneio mundial. Campos excelentes, olheiros internacionais e a chance de disputar jogos com os times mais famosos: Manchester United, Porto, Barcelona, Milan... todos estariam lá, sendo enfrentados pelo garoto, que não tinha medo deles – pelo contrário, sentia imenso orgulho e coragem de jogar contra os melhores.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Conto: Entrevista com "o cara" da Malhação
O jovem repórter foi entrevistar o ator Bruno Gissoni, atual protagonista da série Malhação. O papo foi mais ou menos o seguinte:
P: Ator, modelo e ex-jogador de futebol. Você se sente invejado pelos homens?
R: Começou bem, hein! Olha, tento ser educado com todo mundo, então não sinto como se eu fosse melhor ou pior que ninguém. Claro que alguns olham torto, tentam te diminuir, mas me concentro em atuar, que é o que gosto de fazer agora.
P: Mas ninguém chega para você e...
R: Cara, cada um tem o talento que Deus (ou Buda, ou seja lá qual for sua crença) te deu. O meu foi um rostinho bonito e habilidade para jogar bola. Só isso, não sei desenhar, nem tocar guitarra, nem dar salto mortal. O seu deve ser a escrita (e quantas mulheres não devem babar pelo sua habilidade com as palavras...), o do leitor pode ser pilotar avião... Cada um faz o quer.
P: Nossa, desculpe, não quis ser mal-educado...
R: Relaxa, como eu disse, tento ser legal com todo mundo. Primeiro, foi assim que minha mãe me criou, e depois porque é da minha personalidade mesmo.
P: Entendo, e como é beijar aquela gracinha da Catarina?
R: A Daniela Carvalho é muito boa atriz, e está sempre de dentes escovados (risos).
P: Quantos gols você já fez?
R: Olha, nunca contei, mas eu era mais de servir o companheiro, dar assistências...
P: Não, não esse tipo de gols...
R: Quantas garotas peguei?
P: É..
R: Cara, sei lá. Tipo assim, não são muitas, talvez menos do que vocês imaginam...
P: Duvido, mas tudo bem... qual seu filme preferido?
R: Gosto mais de comédia, esse tipo de filme que te deixa relaxado, e não tenso.
P: E sua novela favorita?
R: A Favorita, essa mesma...
P: Boa.. uma música?
R: Eletrônica, igual o Pedro, meu personagem, um DJ.
P: Para finalizar.. um recado para as fãs.
R: Sejam felizes!
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
O outro lado do Lingerie Day
Durante um café, duas amigas refletiam sobre o Lingerie Day. A mais tímida e que não havia postado uma foto sequer com roupas íntimas nas redes sociais, colocou suas impressões à mesa:
- No final das contas, o evento é quase uma farsa. Veja bem, a maioria das fotos eram lindas, deixavam os homens excitados (e algumas mulheres também). Mas as campeãs que realizavam ensaios com fotógrafos profissionais não ficaram bonitas. Deve ser porque nestes ensaios preocupa-se muito com a luz, com a qualidade da imagem, sendo que o personagem principal é a moça e seus dotes.
A amiga que apenas ouvia pediu um prato de penne à bolonhesa. A outra continuou.
- Nas fotos caseiras elas pegavam ângulos que as favoreciam. Ora apenas o peito, ora apenas a bunda, o que tivesse de melhor. Muitas vezes nem o rosto aparecia. E quando víamos nas fotos profissionais, que horror. Nem os maquiadores conseguiam dar um jeito.
Rapidamente o prato chegou. A amiga comia um pedaço de cada vez, mastigando devagar, mostrando-se semi-interessada no assunto. Mas a outra continuou:
- Isso mostra a diferença entre modelos e mulheres comuns. Sonhamos diariamente em um dia sermos convidadas por um olheiro de agência, mas no fundo não temos corpo, rosto e nem tempo para ficar bonita. Elas passam o dia fazendo tratamento de pele, de cabelo e malhando. Nós temos que trabalhar e estudar, não nascemos com o rosto da maneira que desperta o desejo dos homens de forma unânime e temos um corpo cheio de curvas. Traduzindo, há um abismo entre nós e elas.
Cansada de falar, a moça perguntou à amiga a opinião dela sobre o assunto. Após limpar os lábios sujos de molho, a amiga respondeu:
- Pura hipocrisia. Essas mulheres se mostram para todos na web, mas não se mostram a nenhum homem que a quisesse ver na realidade. Veja bem, se um rapaz chegasse em uma dessas garotas e pedisse para ficar de lingerie, elas chamariam a polícia, dariam uma bolsada nele. Mas só porque alguém disse que naquele dia era para tirar foto sem roupa, elas nem questionaram e o fizeram. E, como você mesma disse, não eram tudo isso.
Segundo de silêncio se sucederam, e trocaram o assunto da conversa.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Que
Um pergunta:
Por que quando você vivencia uma coisa parece uma bosta, mas depois você vê aquilo com outros olhos?
Eu respondo:
Por que as melhores coisas que acontecem conosco, a gente esquece?
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Boas vindas ao Entrementes
Três garotos nascidos no mesmo dia, com a mesma paixão pela escrita (entre outros gostos em comum) decidem criar um blog em conjunto para divulgar textos e ideias, o ENTREMENTES
São eles:
*Daniel Angione (do blog O Balcão da Taberna, que já citei aqui ), estudante.
*Leandro Las Casas (do blog Nunquam Dormio ), estudante de jornalismo
*e Eu
Acesse o ENTREMENTES, comentem, divulguem, sigam no Twitter (@ENTREMENTESblog). Leiam mais, tenham mais cultura, e sejam mais felizes. Bem vindo Entrementes
São eles:
*Daniel Angione (do blog O Balcão da Taberna, que já citei aqui ), estudante.
*Leandro Las Casas (do blog Nunquam Dormio ), estudante de jornalismo
*e Eu
Acesse o ENTREMENTES, comentem, divulguem, sigam no Twitter (@ENTREMENTESblog). Leiam mais, tenham mais cultura, e sejam mais felizes. Bem vindo Entrementes
Nove do Nove
O sorriso se abriu quando viu no rádio-relógio a data de hoje - seu aniversário. A partir deste momento, toda a braveza e descontentamento por acordar mais cedo do que gostaria havia desaparecido.
O aniversário é um dia especial. Graças aos Orkuts da vida, poucos se esquecem e aí muitos são os recados e ligações que ele recebe, dando os parabéns, desejando saúde, paz, properidade, e todas as frases do ano novo.
Especial também porque, internamente, o indivíduo passa o dia se questionando, analisando os anos anteriores e imaginando os anos futuros. Será tomou as decisões corretas? Será que aprendeu as lições para se dar bem nos próximos acontecimentos?
A festa de aniversário é outro caso. Muitos a odeiam. Outros a adoram, pois se veem cercados de pessoas queridas que estão lá (se não for pelos salgadinhos e refrigerantes) porque gostam do aniversariante. E os presentes? Um melhor do que o outro, se não for para o próprio anfitrião, o será para alguém mais pobre.
Mas no final das contas, o que muda MESMO é apenas um número. E números são superficiais.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Noite de sábado
Fazia tempos que não se sentia assim, tão só. E estava adorando. Desta vez, poderia ficar apenas com a cueca samba-canção, tão renegada pelas namoradas mas ótima nos dias de calor, deitado no sofá assistindo ao filme que ele (e apenas ele) escolheu para deixar passar duas horas.
Ah sim, sem formalidades. Deixou o banho para a manhã seguinte, conseguiu ver como ficava o apartamento sem a menor luminosidade, com exceção apenas da claridade emitida pelo aparelho televisor. Ouviu pela primeira vez o barulho do vento na janela da sala, os passos do apartamento acima - cujo barulho de saltos altos indicava a presença de algumas mulheres, o que o deixou já entusiasmado pelas próximas reuniões do condomínio.
E a batata frita de pacote, dessas que fazem muito barulho ao serem mastigadas, pôde ser degustada à vontade. Para a sobremesa, um pequeno pote de sorvete, e uma taça de suco de uva puro, sem açúcar, fecharam o momento.
Tudo isso ao som de um filme há tempos na lista. Não era romântico, nem dramático, ou mesmo acrescentava inteligência ao espectador. Era puro entretenimento, desses para se conversar com os amigos em uma mesa de bar ou após uma partida de futebol. O filme acabou, o sono bateu. Dormiu em paz.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Voto
Já dizem por aí: "cansei de votar nos filhos, vou agora é votar nas putas". Adalberto resolveu encarar a frase como verdade absoluta e pesquisou prostitutas que querem se eleger dePUTAdas, com o perdão do trocadilho. Veja só o que ele encontou:
Ana Teresa Melo, ou Britney (garotas da vida adoram nomes internacionais) - Promete isenção de todos os impostos (inclusive contas de água e luz) aos bordéis, com o intuito de baratear os serviços e aumentar a oferta e demanda. Com isso, a economia brasileira cresceria 12% ao ano, segundo suas próprias contas.
Cristina Ojeriza de Souza, ou Cris Boca Quente - quer escrever um livro sobre a própria vida, e vê a eleição como o final perfeito.
Alice Maravilha - promete criar o sindicato das Garotas de Programa, e com isso regulamentar a profissão, com ISS, INSS, FGTS, Férias, 13º salário e bonificações de acordo com a satisfação do cliente.
Joana D'Arc, a mulher quente - quer mostrar ao grande público toda a putaria que é feita nos bastidores do Congresso, seja em serviço ou fora dele. Com as sobras de campanha, promete um churrasco do cabide especial aos convidados.
Annelise François, a cafetina - promete lidar com os projetos com a mesma rédea curta que usou para ganhar dinheiro às custas do corpo alheio. Promete 30 horas de trabalho semananais ao povo brasileiro a auxílio-festinhas aos trabalhadores com renda mensal menor que 2 salários mínimos.
Chiara Souza - pretende tabelar os preços praticados pelas garotas. Acha que ganha muito mal.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Hard News
A notícia havia cortado como um aço de navalha. Falta de ar, dor de cabeça, um ardor nos olhos que faria jorrar lágrimas. Tratava-se de um sentimento que, se nunca o havia sentido, havia esquecido quão doloroso era.
Começou a soluçar. Ajoelhou-se; escondeu o rosto com as mãos. Como isso poderia acontecer com ela? Justamente com quem cuidava, dava atenção, sentia-se feliz estando lado a lado. E como esse sentimento inesperadamente ruim possa ter destroçado sonhos, ambições e até mesmo um passado recente e feliz?
Não há respostas. Somente um copo de água. Colocou uma colher de açúcar. Duas. Três. Precisava se acalmar para voltar ao trabalho, tinha mil pepinos a resolver. Mas no fundo sabia que não teria mais capacidade psicológica para sequer considerar hipóteses para a resolução deles.
Deitou e fechou os olhos. Não soube se dormiu por um segundo ou uma hora. Tentou comer um pouco de arroz e salada. Sentiu-se bem, mas quando a tristeza voltou, vomitou tudo. O nariz estava vermelho, a boca inchada. Os olhos denunciavam a infelicidade. Somente o passar dos dias iria curar tal infortúnio.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Relatos de um psicopata – a quase prisão
Uma vez quase fui pego pela polícia. De longe foi o dia que passei mais nervoso em toda a minha vida.
Vou contar desde o começo: comecei a sair com uma garota que ainda mantinha contato com o ex-namorado. Traduzindo, ele não largava do pé dela. Pedia para voltar, visitava sem avisar, mandava flores e bombons, pedia para conversar com os pais, etc.
Da mesma forma que não sei o por que de eu matar apenas mulheres, não sei também por diabos não sinto a menor necessidade de acabar com homens. Tenho até condições para isso: sei lutar jiu-jítsu, tenho uma estrutura física forte e poucos se atrevem a mexer comigo.
Por isso, o rapaz não me incomodou. Se a minha ficante quisesse ficar com ele, tudo bem. Não era um grande amor, ou uma mulher que me faria perder as estribeiras. Até porque fazia algum tempo que não cometia nenhum incidente e estava contente com isso. Sentia-me uma pessoa normal, sem pecados ou defeitos. Claro que isso não apagava as coisas que eu havia feito, porém estava bem.
A rotina era ótima. Saía para jantar com ela, fazíamos amor, mas não havia um compromisso assinado, ou na forma de aliança. Não telefonava para ela todos os dias, e nem ela dava sinais de querer algo mais próximo.
Mas a situação começou a mudar quando fizemos um mês de “relacionamento”. Creio que ela não quis ser taxada de promíscua ou garota para apenas uma noite, e passou a dar indiretas como “olha, eu gosto de namorar sério. Meu ex vive correndo atrás de mim. Quando eu o quiser, é só estalar os dedos”.
Traduzindo: ela queria namorar sério. Eu não. Por isso usava esta espécie de chantagem, dizendo que a qualquer momento iria voltar aos braços do cara que nem o nome eu sei. E eu adiava, dizia que no momento certo para ambos eu iria assumir o compromisso.
Quando fizemos dois meses informais, a coisa piorou. O tal do renegado veio falar comigo a mando dela. “Aí mané, tu vai ficar com ela ou não? É bom se decidir, porque senão acabo pegando ela pra mim, e depois não largo, tá ligado?”. Acho que uma das coisas que ele ameaçou de verdade foi a língua portuguesa.
Consegui levar por mais um mês. No terceiro, ela veio com um papo estranho que não querer mais transar. Isso mesmo: greve de sexo, e a condição era assumir perante Deus e o mundo (e os pais dela) nosso romance.
De cabeça fria, tomei a atitude. Terminei o relacionamento com ela. E esse foi um erro crasso. Ela passou a ligar todos os dias no trabalho, no celular e em casa. Me visitava fora de hora, sem avisar. Se jogava em meus braços na frente dos colegas de escritório. Eu tentava conversar, dizendo que não a queria mais, mas não teve jeito. Ela continuava correndo atrás de mim. A gota d’água foi quando meu chefe me deu uma bronca por causa dos tumultos que ela estava causando.
Fiquei muito nervoso, bravo, tenso. A mulher não dava sinais de me deixar em paz, e isso estava me atrapalhando na vida como um todo. Puto da vida, saí do serviço e fui à casa dela. Já estava com meu arsenal, e ela sozinha em casa. Foi rápido e indolor.
Mas o tal do ex-namorado me viu saindo da casa dela, e quando a viu morta, ligou para a polícia. Tomei um banho, e quando fui à janela da sala, vi sirenes. Corri para o quintal, pulei o muro e me escondi na lavanderia de um vizinho. A polícia invadiu a casa, mas não encontrou nada.
O processo, então ocorreu na justiça. Sou cuidadoso: nenhuma prova contra mim, além da testemunha que me viu saindo da casa. O problema é que o cara já havia feito ameaças para ela quando terminaram. E ela fez B.O. Assim, a juíza considerou que era mais provável que ele tivesse cometido o crime. Fui inocentado. Mas se a polícia tivesse me prendido naquela noite, não sei qual seria o meu destino.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Somos todos
Punheteiro, pinguço, maconheiro.
Alcoólatra, comilão, dorminhoco, preguiçoso.
Tarado, viciado, chorão, sensível, frio, calculista.
Avarento, pão-duro, fura-olho, nervoso, esquentadinho, bobão.
Burro, nerd, cdf, lento, desleixado, gay, ogro, falso, verdadeiro demais.
Os sete pecados capitais dizem respeito às coisas gostosas, que não podemos fazer.
As virtudes enaltecem aqueles que conseguem viver à mercê de prazeres e necessidades.
As boas pessoas não sentem raiva, rancor, perdoam os deslizes alheios e estão sempre sorridentes a tudo e a todos. Normalmente são as mais facilmente manipuladas e usadas pelas pessoas malvadas.
As pessoas malvadas são egoístas, rudes, e muitas vezes incompreendidas, quando usam destes artifícios apenas para se defender. São excluídas do convívio social se não puderem pagar um bom advogado, ou se algum psiquiatra resolver invocar com ela e interná-la em um manicômio.
Ninguém mexe com o briguento, porque este sabe se defender. Já com o pacífico, que mal se envolve em questões conflituosas, são perseguidos pela maioria.
Somos sempre julgados pelo que somos. E a sensação é sempre de sermos inferiores por causa disso. Há sempre uma palavra chula sobre nossas maiores características, sejam elas boas ou ruins (aos olhos, claro, dos outros).
Alcoólatra, comilão, dorminhoco, preguiçoso.
Tarado, viciado, chorão, sensível, frio, calculista.
Avarento, pão-duro, fura-olho, nervoso, esquentadinho, bobão.
Burro, nerd, cdf, lento, desleixado, gay, ogro, falso, verdadeiro demais.
Os sete pecados capitais dizem respeito às coisas gostosas, que não podemos fazer.
As virtudes enaltecem aqueles que conseguem viver à mercê de prazeres e necessidades.
As boas pessoas não sentem raiva, rancor, perdoam os deslizes alheios e estão sempre sorridentes a tudo e a todos. Normalmente são as mais facilmente manipuladas e usadas pelas pessoas malvadas.
As pessoas malvadas são egoístas, rudes, e muitas vezes incompreendidas, quando usam destes artifícios apenas para se defender. São excluídas do convívio social se não puderem pagar um bom advogado, ou se algum psiquiatra resolver invocar com ela e interná-la em um manicômio.
Ninguém mexe com o briguento, porque este sabe se defender. Já com o pacífico, que mal se envolve em questões conflituosas, são perseguidos pela maioria.
Somos sempre julgados pelo que somos. E a sensação é sempre de sermos inferiores por causa disso. Há sempre uma palavra chula sobre nossas maiores características, sejam elas boas ou ruins (aos olhos, claro, dos outros).
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Uma imagem
O tempo não havia sido cruel para ela, mas algo a incomodava. Não recebia mais os olhares de antigamente. Não ganhava tantas buzinas de motos quando andava na rua. Também, já não tinha mais 20 anos.
Os cabelos, que antes mudavam de cor periodicamente, agora se mantinham loiros. As roupas, antes ousadas e que transpareciam pedaços estratégicos da pele, deram lugar ao uniforme de trabalho (uma mudança inquestionavelmente saudável).
O telefone já não tocava tanto quanto em outras vezes. Mas isso é ótimo em algumas horas - de reflexão, paz, silêncio e sossego. Não que estivesse mudo, mas os rapazes interessantes já se acertavam na vida e a esqueciam. Sobrava os menos interessantes (ela nunca sai com alguém não interessante).
Em busca de amigas, possíveis pretendentes e diversão (única e puramente), ela passou a entrar mais na internet. Redes de relacionamento, troca de mensagens, Twitter. Desta forma, ela acreditou que poderia deixar de andar cabisbaixa, se sentindo feia e mal-amada, algo pelo qual nunca havia passado.
Era acostumada a ser cortejada, assediada, receber flores, chocolate. Olhava no espelho e não via muita diferença de quando era mais jovem, porém acreditava estar menos bela, e procurava possíveis defeitos.
Até que um dia, alguns sites divulgaram o Lingerie Day. Bastava a moça publicar uma foto de lingerie em homenagem ao dia especial. A ideia deu um novo ânimo a ela, que tratou de se produzir toda e tirar fotos picantes para postar. Em todas escondia o rosto (como se os amigos virtuais não soubessem quem ela é), no limite entre a timidez e o feitiche.
Pois bem, postou a foto, e foi trabalhar. Somente naquele dia à noite veria os resultados.
Já mais animada, porém cansada, chegou em casa e viu as mensagens que recebera pela foto. Revistas interessadas em realizar ensaios, cantadas e até contatos de rapazes que ela não via há muito tempo. A autoestima se levantou novamente. Estava, de novo, feliz.
Texto em homenagem ao Lingerie Day
Foto: Anônima, retirada do Não Salvo
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Relatos de um psicopata - um ato bondoso
Matar. Dar morte violenta a; assassinar. Causar a morte a. Privar da vida. Causar sofrimento físico a, prejudicar a saúde. Etc etc etc.
Para mim, matar é se livrar de problemas. Sabe aquele tipo de pessoa que passa por tudo e por todos para alcançar os objetivos? Então, sou um desses. Se necessário, tiro a vida de alguém que torne a minha um inferno. Assim, sem dó, piedade ou arrependimento. Porque creio que a pessoa faria o mesmo se eu tivesse em seu caminho.
Ou de um ente querido. No caso, um amigo meu. Uma vez acabei com uma garota que enchia a paciência do Lúcio, um colega que hoje faz mestrado em biologia. Tomei as dores dele, num acesso de loucura e a fiz ser comida de verme.
Foi rápido e instintivo. Éramos um grupo de trabalho na escola, e tivemos que ficar após a aula para preparar uma apresentação. Comemos um lanche, e a garota só importunava o Lúcio.
- Você é um molenga. Nunca uma menina vai ficar com você. Tá precisando de uma plástica. Vai fazer exercício. Me ensina botânica?
Ela só fazia isso porque ele a amava e fazia todas as vontade em troca de um contato diário mínimo. Lições, dinheiro emprestado, caronas. E ainda xingava o cara. Por ser uma forma de ganhar atenção, ele parecia que gostava de ser ofendido.
Como amigo, tive que tomar uma atitude. Quando ele foi ao banheiro, a peguei pelo cabelo, mandei ficar caladinha e mostrei uma faca, que tinha no meu bolso. Assim, assustada, ela não soltou um pio.
A levei para um quartinho da escola, que naquele horário ficava vazia, e cortei o pescoço da palhaça. O Lúcio, quando viu, esperneou, disse que não era para eu ter feito aquilo, me xingou... No fundo, sei que ele hoje vive em paz por minha causa, memo ele nunca mais ter dirigido a palavra a mim. E eu, vivo sorridente por ter ajudado um amigo.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Encontro às claras
O dia estava claro, e o sol motivava Alécio a uma caminhada até a banca de jornal, pelo menos. Lá encontrou um amigo das antigas, e passaram a conversar.
- Hei, rapaz, há quanto tempo. Que tem feito da vida?
- Nada de muito interessante. Trabalhado bastante, sonhado muito, realizado pouco.
- Puxa vida. Hoje eu vejo que também poderia ter feito mais. Porém, estou tão feliz com a minha trajetória, que não me arrependo de nada; sei disso porque escrevi minhas memórias, e somente coisas boas me vieram à cabeça. Isso é bom não é?
Alécio parou para ver algumas crianças brincando ao lado da banca. Sentiu saudades da inocência e da irresponsabilidade típica da época. O amigo, de nome João Moura, tentou consolá-lo, pois estava visivelmente abatido.
- Cara, até quando?
- Até quando o que?
- Até quando você vai ficar cabisbaixo. Vai esperar seus desejos baterem à sua porta (e quando baterem, você irá dispensá-los)?
- Não sei, até quando der.
João ficou quieto. Aprontara muito na vida - e relatou tudo em suas memórias. Namorou muitas mulheres, chegando a machucar o coração delas em várias ocasiões. Viajou bastante, metade a trabalho, metade a lazer. Mesmo quando era trabalho se permitia uma diversãozinha, pelo menos.
- Me prendi a valores que não me fizera feliz, isso sim - desabafou Alécio, sem maiores detalhes. Mas tive uma família, uma mulher, um emprego, uma casa. A sociedade impõe que a gente tenha tudo isso para ser feliz. Mas nem sempre é o que precisamos.
João sorriu com o canto da boca.
- Na verdade, o extremo é errado. você teve o extremo do bom-mocismo. E está infeliz. Eu tive o extremo do mau-mocismo uma época, e era infeliz também. Quando juntei com a Firmina, pude desfrutar da felicidade, porque viajava muito sem ela. Com certeza a Firmina trazia algum amante para casa, mas eu não ligava.
Se despediram, a conversa não iria longe. Alécio comprou o jornal, e abriu a página de obituários. Lá estava o nome de João Moura.
- Hei, rapaz, há quanto tempo. Que tem feito da vida?
- Nada de muito interessante. Trabalhado bastante, sonhado muito, realizado pouco.
- Puxa vida. Hoje eu vejo que também poderia ter feito mais. Porém, estou tão feliz com a minha trajetória, que não me arrependo de nada; sei disso porque escrevi minhas memórias, e somente coisas boas me vieram à cabeça. Isso é bom não é?
Alécio parou para ver algumas crianças brincando ao lado da banca. Sentiu saudades da inocência e da irresponsabilidade típica da época. O amigo, de nome João Moura, tentou consolá-lo, pois estava visivelmente abatido.
- Cara, até quando?
- Até quando o que?
- Até quando você vai ficar cabisbaixo. Vai esperar seus desejos baterem à sua porta (e quando baterem, você irá dispensá-los)?
- Não sei, até quando der.
João ficou quieto. Aprontara muito na vida - e relatou tudo em suas memórias. Namorou muitas mulheres, chegando a machucar o coração delas em várias ocasiões. Viajou bastante, metade a trabalho, metade a lazer. Mesmo quando era trabalho se permitia uma diversãozinha, pelo menos.
- Me prendi a valores que não me fizera feliz, isso sim - desabafou Alécio, sem maiores detalhes. Mas tive uma família, uma mulher, um emprego, uma casa. A sociedade impõe que a gente tenha tudo isso para ser feliz. Mas nem sempre é o que precisamos.
João sorriu com o canto da boca.
- Na verdade, o extremo é errado. você teve o extremo do bom-mocismo. E está infeliz. Eu tive o extremo do mau-mocismo uma época, e era infeliz também. Quando juntei com a Firmina, pude desfrutar da felicidade, porque viajava muito sem ela. Com certeza a Firmina trazia algum amante para casa, mas eu não ligava.
Se despediram, a conversa não iria longe. Alécio comprou o jornal, e abriu a página de obituários. Lá estava o nome de João Moura.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
A impossível
Ela gosta das melhores músicas
Assiste aos melhores filmes
Leu três vezes os melhores livros
Ela sai muitas noites
Conhece os bons lugares
Os cantos mais gostosos
Ela é competente, dedicada
Ganha muito dinheiro
Demonstra saber viver
Mostra-se feliz a todo momento
Só não se mostra sobre o travesseiro
Que poucos irão compartilhar. Os eleitos
Ela é inatingível
Inalcançável
Muita areia para qualquer caminhão
(Ainda assim, quem a conquista deixa todos perplexos)
Ela vale a pena
Os pesares
O trabalho
Ás vezes ela é mais normal e humana
Que qualquer mendigo na chuva
Mas ninguém a verá assim
Ok, só os que tiverem bons olhares
Ela é Mayara, Ana Paula, Renata
É mil
é uma
Foto: Tarde em Estocolmo (Stock)
terça-feira, 13 de julho de 2010
Última Parada
Calor, umidade, pessoas suando e com as roupas molhadas, a face fechada e um mau humor em níveis estratosféricos graças à demora para chegar em casa e o pouco espaço disponível. Esta é a realidade de um ônibus que circula no final do expediente todos os dias em qualquer cidade do Brasil em um dia de verão.
Enquanto poucos estão nas praias, em ambientes climatizados ou viajando pelo países frios, muitos dão o suor, literalmente, para garantir o sustento da família. Reclamações são poucas e desviadas para outros âmbitos, mas os olhos não conseguem esconder o descontentamento com a realidade.
A cada ponto as pessoas vão deixando o ônibus mais vazio, permitindo que o ar circule e uma brisa traga o sorriso de volta aos lábios do cobrador. A penúltima passageira, uma mulher com as curvas que dominam as preferências masculinas, despede-se do rapaz que lida com muito dinheiro, mas é dono de uma mísera fração dele. Ela deixa o veículo sob o olhar deste, de outro rapaz e do motorista, que pelo retrovisor admira o traseiro da donzela.
- Conhece a belezura? – pergunta o último a ficar nas cadeiras de plástico duro.
- É minha aluna de kung fu. Gente boa pacas – responde o cobrador.
- Boa em todos os sentidos – riu o rapaz, sacando um cigarro.
- Por favor, não é permitido fumar aqui dentro, não viu a placa?
O passageiro ignorou. A cada vez que virava para o cobrador, lançava um olhar superior, afinal o cliente tem sempre razão.
- Por favor, não irei pedir de novo. Não pode fumar aqui.
- Você deve é estar morrendo de vontade, isso sim – riu o fumante.
- Vai descer onde?
- Perto da garagem, pode seguir o caminho sem pressa. Não quer mesmo?
O cobrador não respondeu. Todos sabem, quem cala, consente. Durante o dia de trabalho, os alimentos, bebidas e doces que os passageiros carregam trazem diversas vontades e carências a quem trabalha no ramo. O dia já escurecia, o veículo já não andava na rota normal, pois seguia ao destino final.
- Ok, não costumo aceitar coisas de passageiros, mas hoje eu mereço.
- Merece sim, trabalhou duro, honestamente – bradou o fumante, sacando o maço do bolso da camisa.
Os dois já conversaram como conhecidos, e foram à frente do ônibus para ficar ao lado do motorista, que também fumava. Apagaram as luzes internas para ninguém vê-los consumindo o cigarro.
- Você deve morar longe, não é?
- Sim, mas quanto mais longe, mais silencioso é nossa casa. E eu não suporto barulho.
- Trabalha em quê?
- Sou autônomo, faço uns serviços aqui, outro ali. O senhor é que deve estar bem de vida, pois tem dois empregos: professor de kung fu e cobrador. Além da grana, deve conhecer muitas mulheres.
- Imagina, o esporte é quase um hobby, não me rende muito.
- Mas pelas suas roupas, sabe economizar e gastar bem seu dinheiro. Ou será que tem outra fonte que ainda não falou?
Momento de silêncio para manobra na garagem. No meio de tantos ônibus, a garagem parece um cemitério. Silêncio, escuridão. No vestiário, para onde o motorista correu para se aliviar, é que existiam luzes e um rádio. O cobrador tentou despedir-se.
- Calma lá, preciso perguntar algo antes.
- Tem que ser rápido, quero ir para casa.
- Conhece o Gersinho?
- Careca? Sem os dentes da frente? – confirmou, apressado.
- Isso.
- É daqui do bairro. Foi preso esses dias, não?
- Sim, denúncia anônima. Tinha uma certa recompensa por ele, não?
- Não sei de nada – respondeu o cobrador, sério.
- Sabe sim. Desembucha e eu te poupo de comer grama pela raiz.
- Olha cara, você deve estar enganado.
Começaram a lutar. Mesmo professor de kung fu, o cobrador foi dominado pelo oponente em pouco tempo.
- Fala quem contou para a polícia sobre o Gersinho, e te deixo vivo.
- N-não sei. Por favor, me solta...
- Informações seguras me falaram que foi um tal de Anselmo. Que é cobrador de ônibus e dá aula de luta numa escola aqui perto. Conhece?
- Não falei nada, juro.
O homem torceu o braço do cobrador. Com a dor, e imobilizado, passou a falar.
- Ele ameaçou meu irmão mais novo. Nos mudamos de casa, mas não me sentia seguro. E com o dinheiro da recompensa, pude levar minha família para outra cidade por um tempo.
Blam. Nenhuma palavra foi proferida depois do disparo. O trabalhador estava morto, estirado ao chão e com uma mancha de sangue a seu redor. O carrasco correu até o vestiário, onde o motorista penteava o cabelo.
- Me dá uma carona até o canavial? Minha vez de ganhar uma recompensa. Te dou uma parte por ter me indicado ao Gersinho.
- Claro, espera eu trocar de roupa. É rapidinho.
Ideia original: Daniel Angione, do blog O Balcão da Taberna.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Relatos de um psicopata - a paixão psicóloga
Uma vez fiz um teste para saber se sou um bom profissional. O resultado foi catastrófico, veja só: “Procure ajuda imediatamente. Seu nível de depressão está além dos limites. Sua motivação e autoestima são mais baixos que as temperaturas glaciais e sua tendência suicida pode vir a prejudicar no trabalho”.
Engraçado, não acho que estou com depressão. Ah, se eu pudesse, arrancava a cabeça da mulher que escreveu este artigo. Sim, porque só pode ser mulher para fazer uma bobagem dessas.
Tive uma amiga que falou algo parecido. A Jaqueline era estudante de psicologia e queria ajudar meio mundo. Ela disse que podia me encaminhar a um profissional qualificado que poderia me ajudar e me chamava de “deprimidinho”. E esse apelido pegou na turma da faculdade. Os caras me zoavam, e as mulheres olhavam ora com cara de pena, ora com cara de deboche.
Os meses passavam e a Jaqueline não mudava a opinião. Até que um dia ela desabafou, em tom nervoso:
- Não vê que quero você do meu lado? Só que eu quero alguém com a mente sadia. Se trate e vamos ser felizes juntos...
Chorou um pouco. Eu nunca havia recebido uma declaração como essa. Até a achava bonitinha, mas não a ponto de querer um relacionamento com ela. Os dias passaram e ela me perseguia. Uma vez a beijei, para ver se ela se dava por satisfeita. Não ficou. Pior, passou a me perseguir mais ainda.
Aguentei a pressão até uma festinha na casa de um amigo em comum. Com a tequila na cabeça, me jogou no sofá e começou a tirar a roupa. Era um striptease bem tosco, ela não sabia dançar direito. Envergonhado, usei meu casaco para esconder o que ela insistia em mostrar só para mim, mas em público. Joguei-a num chuveiro gelado, enxuguei-a e a deitei em uma cama, onde dormiu até a manhã seguinte.
Na faculdade, ao contrário do que costuma ser, eu fiquei com a fama de broxa e ela saiu toda poderosa da situação. Talvez tenha usado alguma tática de psicologia para verter a atenção à minha recusa.
Foram meses sendo zoado na faculdade. Cheguei a faltar uma semana inteira, mas o povo não me esquecia.
Tive que matar alguém para calar esse povo. Foi a única morte planejada, racional. Todas as outras – e foram muitas- foram instintivas, no calor do momento. Sobrou para a Jaqueline.
Foi a única pessoa que matei e fui ao enterro. Todos os que apontavam o dedo e riam agora choravam com agonia. A partir daquele momento, pude ir à faculdade em paz.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Relatos de um psicopata
Tá, eu confesso. Matei todas aquelas garotas. Sabe como é, umas me enchem o saco, outras não me querem, e todas se tornam problemas. E eu simplesmente decidi, um belo dia, que iria eliminar todos os problemas de minha vida. Assim o fiz.
A primeira foi a Amanda. Linda, sorridente, tinha um bundão. Ela simplesmente não olhava para mim. Você sabe o que é um adolescente ser ignorado pela garota dos seus sonhos? Eu pensava que ela simplesmente ainda não tinha decidido namorar, o que é normal; às vezes a garota tem como objetivo na vida estudar, conseguir um bom emprego, curtir a juventude. Mas ela vivia de chamego para alguns caras da minha sala. E nada de dar atenção a mim.
Bom, hoje, talvez no céu, ela sabe quem sou. Fui eu quem ela viu pela última vez. Não é bonito? Você é a última lembrança em vida de uma garota. Garota não, beldade. Uma gata.
A segunda foi a Aimee. Assim mesmo, francesa. Se ela nasceu na Europa, eu não sei. Falava muito bem o português, com gírias e frases perfeitas. Fazíamos cursinho juntos. Uma vez a vi em uma propaganda de calças jeans, e tive um choque: ela era modelo. Eu não a achava tão bela, era magra demais. Mas ter uma modelo em minhas conquistas faria com que minha vida fosse mais completa.
Comecei me aproximando como quem não quer nada. Ficamos amigos, mas desses que dividem a mesma turma juntos. Uma vez tentei me declarar. Gaguejei, e ela percebeu minhas intenções. A partir deste dia se distanciou de mim. Essas coisas machucam a gente por dentro. Diminuem a nossa autoestima e nos fazem sentir feios, sujos, mal-vestidos. A gota d’água foi o dia em que fomos a uma festa, e ela beijou um cara na minha frente. Convenhamos, ele era muito mais feio, não cheirava muito bem e tinha os dentes tortos. O que ela viu nele, e me deixou de lado? Bom, de qualquer forma, aquele foi o último beijo da vida dela. Naquela noite, ela não voltou para casa.
Essas duas eu lembro porque foram marcantes: a primeira paixão e a modelo. As outras, eu não dizer a ordem, nem quando. Somente as circunstâncias. Acredite, todas mereceram o destino que tiveram.
A Miriam, por exemplo, se foi desta para uma melhor porque riu. De mim, obviamente. Foi uma das mulheres mais lindas com quem eu já tive um affair (como dizem as revistas de fofocas). Nos conhecemos em uma viagem, mas nada aconteceu. Por isso trocamos contatos, e marcamos de visitar o Rio de Janeiro juntos. Cristo, Corcovado, Copacabana. À noite fomos ao meu quarto de hotel. Beijos aqui, toques ali e o momento foi esquentando. Só que eu estava com mais pressa do que ela. Eu já estava de roupas íntimas, e ela começava a tirar a blusa. Seu colo, perfeito. Mais beijos e carícias rolaram até ela tirar, com sensualidade e movimentos suaves, a calça. Eu não resisti a seu belo corpo, mesmo de lingerie sob uma meia-luz cinematográfica.
Quando ela viu minha cueca molhada, começou a rir. Não foi uma risadinha discreta, foi uma gargalhada. Pediu desculpas, mas chorava de tanto rir. Foi a última risada dela. E eu ri melhor, porque ri depois.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Lúcio e Meg - Parte 3
Alguns dias antes de encontrar Meg para fazerem uma pesquisa, Lúcio pensou em escrever uma carta à mulher amada. Eis o que o mestrando pôs no papel:
“Minha amada Meg,
Durante muito tempo, mais precisamente na minha infância, sentia que as pessoas tinham uma necessidade grande de amar alguém. Não só o amor físico, o sexo, o toque, o beijo, mas o companheirismo, o sorriso, o estar junto, o compartilhar (coisas tangíveis e intangíveis).
Desde que a conheci, passei a sentir este amor. Veja bem: nunca nos tocamos, jamais ficamos a menos de um metro de distância. Ainda assim, eu a amo. Penso em ti por horas a fio, durante as aulas, durante os sonhos, no ônibus, na fila do bando.
Eu gostaria de compartilhar este amor contigo. Queria muito que nos conhecêssemos, compartilhássemos segredos, sonhos e até mesmo, quem sabe, postos de trabalho, já que estudamos os mesmos assuntos.
Ainda assim, sei tão pouco sobre você. De quais filmes gosta. De qual tipo de música. Quais lugares que freqüenta. Que horas dorme, que horas acorda.
E quem sabe, se você se apaixonar por mim, a gente se case. Viveríamos um em função do outro. Os dois em função dos frutos. Assim, minha vida seria completa. O amor me completaria.
Com amor,
Lúcio”
Após escrever estas palavras, naquela noite, o rapaz se libertou de uma angústia sem tamanho. E conseguiu dormir. Com um sorriso no rosto.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Lúcio e Meg - Parte 2
O dia seguinte é diferente. A fixação do olhar de Lúcio sobre Meg cresceu. Parece que a saudade fez com que os momentos em que estão no mesmo ambiente sejam aproveitados ao máximo pelo coração do rapaz. Um único olhar cruzado e pronto. Ele dispara e provoca tremedeira, suor e frio. Ele controla a maior parte das ações de Lúcio, deixando a razão em segundo plano - e é isso que os poetas celebram nos versos.
Um homem, quando em êxtase por uma paixão arrebatadora, perde algumas noções. Fala bobagens, fala alto para chamar a atenção da amada. Se irrita quando alguém tenta desviar o olhar ou a atenção quando admira a mulher. Qualquer coisa é desculpa para pensar nela ou olhar as fotos dela na internet.
E o tanto pensar e imaginar leva ao mais verdadeiro dos lugares: os sonhos. Lúcio sonhou que cantava uma serenata a Meg. A música era The Blowers Daughter, do britânico Damien Rice. Havia levado um amigo que tocava violão, e cantou para a moça do sorriso brilhante. Rindo, ela agradeceu e ofereceu um café à dupla de amigos, prontamente aceito por ambos (a desgosto de Lúcio, que queria ficar a sós com a bela). Os vizinhos agiram de forma heterogênea: a senhora suspirou com a declaração. O solteiro queria dormir e xingou o rapaz. O casal aproveitou para reatar após uma briga. o menino chorou e se escondeu, para que nenhum amiguinho ficasse sabendo.
Por mais real que fosse, era apenas um sonho. E naquele momento, estava do lado dela, que por mais irreal que parecesse, estava acontecendo. Falavam sobre uma pesquisa que precisariam fazer. O grupo era numeroso, ela liderava a todos com maestria. Alguns olhares de Meg para Lúcio, por mais profissionais que fossem, indicavam ao rapaz um caminho aberto. Ele só teria que se preocupar em não falar bobagens, nem indicar este amor fervoroso.
Meg parecia ser do tipo que foge quando um rapaz está a fim dela. Lúcio havia percebido esta característica e se policiava em cada gesto ou palavra. Aos poucos, a aproximação aconteceria, e deveria ser extremamente calculada. Se percebesse uma negativa, repensaria alguns atos. Uma positiva, continuava adiante.
Marcaram de se encontrar na casa dela no sábado, para conclusão da pesquisa.
Um homem, quando em êxtase por uma paixão arrebatadora, perde algumas noções. Fala bobagens, fala alto para chamar a atenção da amada. Se irrita quando alguém tenta desviar o olhar ou a atenção quando admira a mulher. Qualquer coisa é desculpa para pensar nela ou olhar as fotos dela na internet.
E o tanto pensar e imaginar leva ao mais verdadeiro dos lugares: os sonhos. Lúcio sonhou que cantava uma serenata a Meg. A música era The Blowers Daughter, do britânico Damien Rice. Havia levado um amigo que tocava violão, e cantou para a moça do sorriso brilhante. Rindo, ela agradeceu e ofereceu um café à dupla de amigos, prontamente aceito por ambos (a desgosto de Lúcio, que queria ficar a sós com a bela). Os vizinhos agiram de forma heterogênea: a senhora suspirou com a declaração. O solteiro queria dormir e xingou o rapaz. O casal aproveitou para reatar após uma briga. o menino chorou e se escondeu, para que nenhum amiguinho ficasse sabendo.
Por mais real que fosse, era apenas um sonho. E naquele momento, estava do lado dela, que por mais irreal que parecesse, estava acontecendo. Falavam sobre uma pesquisa que precisariam fazer. O grupo era numeroso, ela liderava a todos com maestria. Alguns olhares de Meg para Lúcio, por mais profissionais que fossem, indicavam ao rapaz um caminho aberto. Ele só teria que se preocupar em não falar bobagens, nem indicar este amor fervoroso.
Meg parecia ser do tipo que foge quando um rapaz está a fim dela. Lúcio havia percebido esta característica e se policiava em cada gesto ou palavra. Aos poucos, a aproximação aconteceria, e deveria ser extremamente calculada. Se percebesse uma negativa, repensaria alguns atos. Uma positiva, continuava adiante.
Marcaram de se encontrar na casa dela no sábado, para conclusão da pesquisa.
terça-feira, 1 de junho de 2010
Lúcio e Meg – Parte 1
Ela estava ali, sentada do lado de Lúcio, a assistir mais uma das intermináveis aulas. O curso era puxado – mestre em botânica – e necessitava toda a atenção necessária. Margarete, mas conhecida por todos como Meg, não era lá a mulher mais bonita do curso, sequer da universidade. Mas para um homem apaixonado, a mulher pode ser privada de todos os recursos estéticos comuns à maioria das pessoas, que ela será a mais bela de todas.
Lúcio mal podia esperar para acabar a aula. Iria agarrar a mulher amada e tascar-lhe um beijo, daqueles cinematográficos, na frente de todos. Encostaria a mulher na parede, seguraria em sua nuca e encostava os lábios com força e veemência em um primeiro momento. Em seguida, apenas daria pequenos toques para sentir o odor do perfume exalado tanto da boca quanto do pescoço da morena.
Logo abriria um sorriso e olharia nos olhos de Meg, que com a boca semiaberta indicaria a vontade de voltar ao beijo, e as conseqüências deste. Algumas pessoas iriam olhar a cena comentar com o colega ao lado, dando pequenas risadas e com um olhar invejoso. Outros reparariam no momento íntimo do casal e não esboçariam qualquer reação. Já a maioria, atrasada para a aula posterior ou para algum compromisso fora das atividades acadêmicas, sequer perderia um segundo para observar um casal apaixonado.
A sombra do canto escolhido por ambos para iniciar os abraços contrastaria com a luz do meio dia no Brasil. O silêncio de uma universidade à hora do almoço seria interrompido pelos sussurros e pelos gritos de paixão internos das mentes de Lúcio e Meg.
Ele passaria a mão no cabelo da bela. A protegeria, alimentaria, faria todo o possível para que estivessem sempre juntos. E quando não conseguissem, ele pensaria nela o tempo todo. Não importa que o desempenho escolar caísse. Não importa que a conta do banco passasse para o vermelho. Tê-la em seus braços e sua mente era o mais importante.
A despedida seria com o coração apertado. Promessas de amor seriam ditas. Juras de fidelidade e eternidade da relação proferidas. Os olhos brilhariam mais do que nunca, e apenas a expressão serena e sorridente já denunciaria a felicidade completa para ambos.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Sonho de criança
A boa criança escreveu o seguinte na redação de volta às aulas:
"Em uma das minhas longas noites de sono das férias de verão, sonhei que estava em uma cama elástica. Só que eu pulava tão alto, mas tão alto, que conseguia ver toda a cidade. Ora eu pulava e via o sol se pondo, ora eu pulava e via muitos carros na estrada, talvez voltando para casa.
Teve uma hora que eu vi um bosque ao fundo, pegando fogo. Fiquei triste e tentei parar de pular para chamar minha mãe para ela ligar para os bombeiros. Mas não consegui, continuei pulando. Ainda bem que a cada salto a imagem mudava.
Em outro momento eu vi um monte de animais correndo num campo verde. Eram uns bichinhos meio estranhos,mas fofinhos o suficientes para me fazer sorrir.
Aí na hora que vi minha família, comecei a dar tchau para eles. Estavam todos juntos, como se fossem tirar uma foto, e olhavam e acenavam de volta para mim.
Sorri de felicidade, mas quando pulei de volta, alguém tinha tirado a cama elástica debaixo de mim. Xinguei o desgraçado, queria pular mais, ver mais coisas acontecendo. Ver prédios, fábricas, árvores e o horizonte.
Foi aí que acordei. Tinha caído da cama. Acho que eu quero o meu berço de volta."
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Livro dos ditos populares
O hábito da leitura antes de dormir é restrito a poucos. Muitos preferem receber informações de uma tela colorida e falante, sem precisar realizar o esforço de se concentrar e raciocinar sobre o que está entrando no subconsciente. Mas essa é uma decisão íntima e passível de uma sazonalidade incomum: um dia se está disposto a ler, no outro apenas a dormir, e no terceiro somente uma ida ao bar acalma o cidadão.
Naquela noite em especial quis ler, e pegou um livro que estava no criado-mudo de sua mulher. o título era "O livro dos ditados populares". Abriu uma página ao acaso. Leu a seguinte frase: em briga de marido e mulher, ninguém põe a colher.
Ora, dissesse isso ao vizinho do lado, que esfaqueou a esposa e a deixou três dias no hospital. A gritaria entre os dois era audível durante toda a tarde, e já criava a expectativa de um desfecho violento. Mas ninguém falou nada, ou chamou a polícia, ou sequer tentou acalmar os ânimos do casal.
Primeira bola fora do livro esquecida, abriu outra página. Desta vez, o ditado era "quem tem boca vai a Roma". Naquele momento, lembrou de uma aula do Professor Pasquale Cipro Neto, que contou as origens deste ditado. O correto seria "vaia Roma", do verbo vaiar. Quem tem boca critica o Império, que fez escravos, matou, humilhou, estuprou e depois caiu. Ir a Roma, somente de avião ou navio.
Mas este ditado cotemporâneo é real. Na era das comunicações, quem tem o dom da fala pode obter um padrão de vida melhor, buscar bons empregos e liderar as outras pessoas (além de influenciá-las para benefício próprio). Quem fala bastante consegue namorar, obtêm fama e às vezes fortuna. O livro tinha seu valor.
Quis ler o último ditado antes de ficar deitado. Abriu na página que dizia "em boca fechada não entra mosquito". Um livro conseguiu contradizer o próprio leitor. Apagou a luz e foi dormir.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Rojões em luto
Meus ouvidos captam, desde o início do dia, os fogos e rojões típicos do final de ano. A alegria esvairada daqueles que celebram a chegada do 31 de dezembro, dando a perceber que comemoram um ano que foi ruim, exorcizam os demônios do passado e celebram os anjos do ano novo, os anjos da esperança renovada por completo nesta virada. Ao mesmo tempo, podem agradecer aos céus como se Deus pudesse ouvir às celebrações com as explosões próximas aos Seus ouvidos, mais do que nossas vozes sussurrantes na terra firme; agradecer pelo ano que passou (o que deve ser pouco provável, pois o homem pouco agradece e sempre pede por mais) e desejar que o ano que se inicia venha igual ou melhor que o passado.
Meus olhos percebem o contrário da alegria de meus ouvidos. Pessoas vestidas de preto, se abraçando, lacrimejando os olhos, soluçando com as mãos na cabeça, inconformadas. Todos ao redor de um caixão grande, feito para o Murilo, que jogava vôlei quando estudante. Para estas pessoas, pouco importa que dia é hoje; lamentam a ausência de uma pessoa que fazia tempo passar mais depressa. Ele mesmo dizia que o “tempo é invenção do homem”, com toda a razão. Se o homem não tivesse criado o tempo, hoje seria mais um dia típico de verão, com bastante em calor, sol escaldante e nuvens carregadas prenunciando as tempestades dos finais de tarde. Seria um convite ao martírio do longo suor usar preto com um clima destes, mas como manda a tradição, todos os presentes neste local usam esta cor, comigo incluso.
Meu coração sente uma dor terrível, dessas que nenhum aparelho pode medir, que nenhum remédio pode curar, a não ser o passar do tempo. Nunca havia passado pela minha cabeça, sequer imaginado, enterrar o melhor amigo. Aquela pessoa que sempre me acompanhou nos esportes, arrumou namoradas para mim, limpou minha sujeira após uma bebedeira, sempre me convidou para viajar, mesmo se fosse apenas sua família; que, mesmo longe e distante, estava disponível ao telefone quando necessário.
Houve um tempo em que discutimos e passamos alguns dias sem nos falar. Na verdade, eu era apaixonado por uma garota que só tinha olhos para ele, e culpei o Murilo por causa disso. Só voltamos a conversar (e nunca tocamos mais neste assunto) quando a tal garota mudou de escola. É triste e engraçado como só agora sinto profundo arrependimento pelo fato que podíamos ter passado mais tempo juntos, rindo, jogando, brincando. Isso só faz a dor aumentar.
A mãe de Murilo interrompeu minhas lembranças, por um instante. Soluçando muito, e com a voz baixa e rouca, me entregou uma medalha de Nossa Senhora. Disse que o Murilo gostaria muito que eu ficasse com esse presente. Realmente, meu amigo era religioso: ia à missa todos os domingos, cantou no coral da igreja do bairro. Já eu, nunca freqüentei catequese, rezei pouco antes de dormir. Ainda assim aceitei o presente, rezarei pelo meu amigo daqui por diante. Garantirei que os anjos o guiem até a porta do paraíso, e que ele lá possa continuar sendo a mesma pessoa alegre e contagiante. Rezarei para que um dia possamos jogar vôlei juntos novamente, como sempre fazíamos. E, caso esteja no purgatório (com certeza para o inferno ele não foi), rezarei para que sua ida ao Céu seja a mais breve possível. Até logo mais meu amigo.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
O Golpe
Sábado a noite. Coquetel na casa do candidato a senador Hugo Cardoso, sobrenome este que, para melhor apelo eleitoral, seus marqueteiros sugeriram trocar por Travesso, apelido de infância. Cada denúncia, cada projeto de lei, cada aparição pública era chamada pela imprensa de travessura. Foi criado o slogan "a cada travessura, uma vida melhor ao brasileiro". No mínimo, ridículo, mas considerando que ao público-alvo eram os jovens e também os senhores nostálgicos, foi posto em prática.
Entre as dezenas de convidados, estava Mônica, amante de Hugo. Conheceram-se em outro coquetel, na casa de outro candidato. A figura jovial, seus cabelos longos e negros, seu jeito simples conquistaram o coração do candidato, que a presenteou com um carro em comemoração a um mês de relacionamento. Relação discreta: evitam encontrar-se em finais de semana, freqüentam lugares de pouco movimento ( com luxo inversamente proporcional) nos distritos ao redor de sua cidade. A esposa de Hugo desconfia, com certeza, mas prefere não perder a sua pequena mesada, os cartões de crédito, e mesmo as idas freqüentes à clínica estética, que volta e meia terminam em lugares pouco familiares acompanhada com o segurança da tal clínica.
Ao pé do piano, junto com Mônica, estavam duas amigas do peito. Literalmente, pois com inveja do busto da morena, colocaram silicone. De longa data, formaram-se recentemente em economia, o que mostra no mínimo, uma certa afinidade com finanças. Sara, loira discreta, cinco tatuagens escondidas pelo corpo (virilha inclusive), é a que mais entende do assunto: seu atual namorado, sócio de Hugo, troca de carros como troca de cuecas e possui um iate; apesar disso, afirma ser simples e implica com o nariz empinado de Sara; ah, se soubesse que esse narizinho veio como brinde após a compra dos seios.
Vânia, também loira, também siliconada, acompanhou o início do relacionamento de Mônica e Hugo. Recentemente, quis também ser amante do candidato, abordando-o na saída de um banheiro. Tirou a blusa, o sutiã, e forçou um beijo; aproveitaram o momento por singelos dez minutos, até serem flagrados pela amante traída. Mônica e Vânia trocaram tapas de juras de inimizades. A morena terminou com Hugo, mas voltou no final de semana seguinte após receber vários buquês de flores e caixas de bombons, além de duas passagens para Angra dos Reis.
Em determinado momento do coquetel, estavam Mônica e Vânia no banheiro. Não demorou para o assunto do beijo voltar à pauta, e os tapas voltarem a ser desferidos. Em seguida, Sara, totalmente embriagada, entrou no banheiro e participou da muvuca. Os seguranças apartaram a briga, mas o álcool fez da gritaria um escândalo. Mônica gritava o tempo todo que amava Hugo, sem se importar com a presença de sua esposa. Vânia jurava ódio à Mônica. Sara ria de qualquer movimento.
O barulho chamou a atenção de um vizinho, que fotografou cenas do escândalo, e vendeu as fotos com a história da amante para um jornal. Na segunda feira seguinte, o país inteiro sabia da vida íntima de Hugo Travesso, que foi obrigado a retirar a candidatura. As três protagonistas ganharam fama; foram até convidadas a posarem nuas. Mônica recusou, mas as outras duas não, saindo na capa de uma revista, juntas, mostrando toda a intimidade de duas colegas que tinham muito em comum. Na capa da revista, lia-se: "a melhor travessura de Hugo".
Conto originalmente publicado aqui, e com boa aceitação
terça-feira, 4 de maio de 2010
Os amigos e o mar
O dia já amanhecia quando João acordou. O frio da manhã em alto-mar não era cortante, nem incômodo o suficiente para fazê-lo vestir um agasalho. O céu estava lindo: estrelado e ao mesmo tempo em tons escuros e claros do azul, dependendo de onde olhasse, e amarelo no horizonte. Resolveu ligar o motor do iate para seguir mais ao fundo: ainda era possível ver a costa, mesmo que pequena e longe, e isso o incomodava.
O barulho fez com que Carlos acordasse, com uma leve dor de cabeça pelas cervejas ingeridas na noite anterior. Não, caro leitor, não se trata de um casal homossexual, mas sim de dois amigos que saíram para pescar em alto-mar. Carlos, casado e pai de duas meninas, estranhou o colega estar vestindo apenas uma bermuda e uma camisa.
- O frio daqui é mais gostoso que o do continente. Vou parar aqui e colocar a âncora. Sabe, amigo, tem horas que invejo você. Casou com uma bela mulher, tem duas garotinhas lindas, e ainda teve permissão para vir acompanhar este boêmio numa singela pescaria.
Carlos riu com o canto da boca. Nunca imaginaria que João sentia inveja dele.
- João, você teve mais mulheres que nossa turma da faculdade inteira, nos 5 anos de curso...
- Eu sei, eu sei. Coisas que o dinheiro pode trazer. Tive várias mulheres, de todos os tipos. Com peito grande, com pequeno, loiras, ruivas, morenas. Modelos, atrizes e advogadas. Uma mais bela que a outra.
Lançaram as varas e ficaram em silêncio por alguns minutos.
- Presenciei imagens típicas de revistas: beldades acordando em lençóis de seda, como paisagem montanhas intocadas. Fiz várias delas felizes com jóias e viagens. Tinha horas que lembrava de quem já havia namorado e me senti um ginecologista.
Carlos dividia sua atenção entre os peixes e o amigo.
- Mas no fundo, cara, somente uma mulher me fez feliz, e posso dizer que amei de verdade: a Vera.
- A sua ex-empregada? Cara, você tinha 17 anos e ela, 30?
- É, mais ou menos. Ela me fez homem, sabia me deixar louco de paixão, e atiçava minha criatividade, ao bolar planos para nos encontrarmos de forma escondida.
- Parece enredo de novela. Após ficar rico, o homem procura um grande amor. E novela das ruins...
Voltaram a atenção à pesca.
- Sabe como é: as que eram boas, eram boas demais. As más, só queriam meu dinheiro. A Vera foi a única que nunca pediu dinheiro ou presentes. Bom foi você, que encontrou logo sua esposa.
- Meu caro, inveje apenas os momentos bons. Há momentos ruins e nem um pouco passíveis deste sentimento. Todas as relações são assim.
Pararam a conversa para lutar contra um peixe. Tiveram que os dois dividirem o manejo da vara, até cansar o animal marinho.
- Afinal, para que estamos falando isso?
- Não sei, vamos, me ajude com esse grandão aqui.
Riram, em alto e bom som, e continuaram a aproveitar o dia.
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