quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Fanfiction – A derrota do Super-Homem (Superman) - Parte 3




Já no voo para São Paulo, Clark Kent pesquisou sobre Roni. Não descobriu nada demais. Fora preso por assalto a mão armada. Estava solto após cumprir parte da pena, e por ter bom comportamento na cela. Instigar o Super-Homem deve ser o maior desafio de sua vida pouco movimentada, pensou o repórter. Será necessário muita cautela e paciência para que ninguém saia ferido.

No esconderijo, Roni tomava conhecimento da repercussão de seus vídeos. Muitos o apoiavam, marcando protestos e passeatas contra a presença do Super-Homem no Brasil. Mas a maioria condenava o criminoso. Nada além do esperado. Porém, mexer com o orgulho do herói, conseguir com que ele viesse para a América do Sul já era uma vitória. Ou melhor, a primeira vitória da batalha. Teria de ser muito cuidadoso para não perder as seguintes – e a guerra, consequentemente.

***

Roni entrou calmamente no apartamento vazio que servia de cativeiro para uma de suas vítimas. Olhou a refém, sentada em uma cadeira, com um capuz cobrindo a cabeça. No ponto em que terminada o adereço era possível ver alguns dos fios de cabelo da moça. Eram castanhos claros.

- Sabe, você é uma pessoa muito importante. Não só para mim, mas para muitas pessoas. Seus familiares, amigos, namorado. Porém, somente para este que vos fala, é que você vai fazer um favor dos grandes. E o melhor: sem perceber, e nem mover um dedo. Não é demais?

Embaixo do capuz, via-se manchas de umidade. Ela estava chorando. Tão logo isto se tornou perceptível aos olhos, passou a soluçar.

- Ora, não chore – Roni disse ao tirar o pano que cobria o rosto da jovem. Você tem um rosto muito bonito. E fique tranquila...

Por um instante, o bandido parou, como se pensasse no que iria falar. Retornou a expelir palavras, desta vez num tom muito mais alto e agressivo que o anterior.

- O pior que pode acontecer a você é a morte, minha querida. A morte. E mesmo que você viva, eu terei derrotado o Super-Homem. Sabe o que isso significa, não é? Hahaha.

***

O dia amanhecia. Vestido como Clark Kent, Kal El decidiu sair pelas ruas de São Paulo à procura de pistas sobre o paradeiro dos seqüestrados. À paisana, usaria os super-sentidos para captar qualquer anormalidade, já que seria impossível se comunicar com alguma fonte que não falasse inglês. Decidiu ir a uma delegacia próxima ao hotel.

Desceu até o refeitório. Após o café da manhã, sairia para, como dizem os turistas, bater perna. Comeu ovos, iogurte e um pedaço de pão. Subiu de volta ao quarto, escovou os dentes enquanto assistia à televisão (sem entender uma palavra do que era dito), apanhou seu bloco de anotações e desceu até o saguão principal.

Contudo, somente o Super-Homem (Superman) poderia atravessar a porta do hotel – e voando. O local estava tomado por jornalistas. Quando viram o correspondente do Planeta Diário, um alvoroço começou.

- Já tem pistas sobre o criminoso? – um perguntou.
- O Super-Homem virá ao Brasil? – outro exclamou.
- Can you give me an exclusive interview? – um poliglota tentou perguntar.

A única saída voltar ao quarto de hotel. De lá, Clark Kent faria contatos por telefone para conseguir fontes. À noite, decidiria se Super-Homem (Superman) sairia à caça do bandido. Mas tinha certeza de que não poderia demorar, senão perderia os reféns.

Por alguns instantes, Kal El sentiu-se acuado. Naquele momento, estava perdendo a luta. Sequer conhecia a geografia e a língua locais. Tinha medo de, em um passo em falso, perder a guerra. Tais sentimentos não condiziam com a história e os feitos do Super-Homem (Superman). Decidiu, então, tentar algo que já havia feito outras vezes. Iria voar até um ponto alto o suficiente para ouvir tudo o que ocorria ao redor, sem ser visto. Ninguém poderia saber que já estava em território brasileiro.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Fanfiction – A derrota do Super-Homem (Superman) - Parte 2



Clark Kent terminava de escrever uma nota para a edição de domingo do Planeta Diário quando uma notícia noticiada pelo rádio chamou a sua atenção. O rádio estava na portaria do prédio, três andares abaixo, e noticiou que um brasileiro postou na internet vídeos desafiando o Super-Homem. Ao terminar o texto, Kent ligou a televisão para ver se alguma agência de notícias local havia dado importância ao fato. Alguns minutos depois, veio a confirmação.

O super-herói estava acostumado a este tipo de abordagem dos bandidos. Sempre lê cartas, manifestos ou correlatos de pessoas duvidando de sua existência, desafiando-o para lutas de boxe, ou culpando-o pela morte de algum ente querido. Mas os vídeos postados por Roni passaram dos limites. Mostravam as pessoas seqüestradas com capuzes no rosto. Usava termos chulos para intimidar, como “frouxo”, “merda” e outros. Quando uma versão legendada do vídeo foi postada, Kent decidiu falar com o chefe.

- Perry, creio que o Super-Homem deve ir ao Brasil prender o caluniador. Quero cobrir isto.
- O próprio confirmou esta notícia?
- Ainda não se manifestou – despistou Kent – mas mesmo se ele não for, daria uma boa história, um brasileiro desafiando o maio herói do mundo.
- Por que não chama a Lois para ir com você?
- Coitada, deixe-a curtir as férias. Não é sempre que temos uma semana de folga.

Era melhor deixar Lois Lane de fora deste assunto. Em um país com língua, cultura e violência diferentes, pode ser perigoso para ela investigar o submundo local. Além, disso, teria que descobrir o paradeiro de dois reféns. Cuidar da amada seria um trabalho a mais para se preocupar.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Fanfiction – A derrota do Super-Homem (Superman) - Parte 1



Roni acordou de forma entusiasmada naquele dia. Era o terceiro após sair da prisão, e tinha uma ideia muito boa em mente. Na verdade, um colega de cela a havia tido, e todos os presos riram diante do absurdo que ela representava. Somente Roni levou a sério a imaginação do homem, que mostrava ali sua inteligência.

- Se quer chamar a atenção do mundo para você, trate de seqüestrar duas pessoas e desafiar o Super-Homem. Diga que vai atirar nas duas ao mesmo tempo, só que em bairros (ou talvez cidades diferentes). Ele só vai conseguir salvar uma, e você ficará tão conhecido quanto aquele Lex Luthor.

O plano era simples, e Roni só precisaria de um comparsa. Sabia que seu primo, Deco, também estava solto e tratou de entrar em contato por telefone. Por se tratar de um sequestro, podia gerar um bom dinheiro.

Deco tinha experiência em sequestros. Havia pego uma universitária, e acompanhou de perto todo o processo, para garantir que os “sócios” do negócio não o denunciassem para a polícia. Não adiantou, mas como o resgate já estava nas mãos do meliante, os outros foram presos e Deco conseguiu fugir.

Em outra ocasião, usou um laranja para que o resgate fosse depositado em conta. Assim que o dinheiro entrou, fez o saque e deixou o coitado para a polícia. Mas com Roni era diferente, pois eram da mesma família. Cresceram juntos, roubaram lojas juntos e iam aos mesmos lugares juntos.

- Roni, como que você vai desafiar um cara que mora lá nos Estados Unidos?
- Simples, meu caro. Coloco o desafio na imprensa. Duvido que não vai chegar aos super-ouvidos dele.
- E depois? Ele vai pegar você, de qualquer jeito. Ele voa, tem força, velocidade.
- Aí que você entra. Chame quatro caras que conhece. Eles vão vigiar os reféns. Se o Super ou a polícia tiver que pegar alguém, serão eles.
- Hum, chamarei alguns traíras então.

E assim Roni deu início a seu plano mirabolante.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Volta à vida de solteiro

Robson se arrumou, fez a barba, passou gel no cabelo, perfume no pescoço. Escovou os dentes, enxaguou a boca com aqueles remédios ardidos. Pronto, estava preparado para sair. A primeira saída desde o fatídico domingo à noite (em que, após milhares de anos, passou da condição de compromissado para solteiro) estava chegando. Todo o cansaço da semana havia sido esquecido, mas seria relembrado.

Para esquecer um antigo amor, deve-se concentrar em qualquer outra coisa, menos casais. Também é uma boa opção condicionar o cérebro para pensar em mil coisas, a ponto que ele fique cansado o suficiente para dormir, no mínimo, 10 horas seguidas – e eis que entra o álcool. Por isso, Robson não economizou nas biritas. Cerveja, vodca e tequila. Os amigos falavam, riam, acostumados com aquela situação de ir sempre às baladas. Sabiam a hora de abordar uma garota, o momento certo para gritar, quando dançar ou pegar uma bebida. Vestiam-se corretamente, deixavam o cabelo da forma com que se sentissem mais bonitos (ou na moda da época, que seja). Os adereços diziam mais sobre as dívidas do que a condição financeira vigente, mas isso não parecia importar a eles. Somente o recém-chegado à turma não estava à vontade.

Robson se entediou com aquela situação, e contribuiu para isso o fato de haverem muitos casais perto dele. As pessoas, quando bêbadas, ficam mais fáceis, pensou.

Pagou a conta e deixou o bar. Quis caminhar até outro ponto da cidade, não muito longe, onde havia um show de rock. Se o cérebro e o corpo estiverem no limite do cansaço, pensou, dormirei tudo o que deixei de descansar durante esta semana infernal.

Durante a caminhada, prostitutas o chamavam. Ora quis retribuir, ora não. Nas horas em que considerava pagar para estar com uma mulher, levava em conta a solidão, incoerente com a sua juventude. Na hora em que deixava estes pensamentos de lado, considerava a economia de dinheiro que seria postergar uma relação paga.

Deixou de lado a ideia de se relacionar comercialmente fora do horário de expediente. Entrou no tal bar de rock. Os poucos que lá estavam pareciam se divertir. Jogavam sinuca, conversaram, riam alto. A banda animava a todos com os clássicos do gênero, executados com maestria. Ninguém ali parecia triste por estar solteiro, com amigos do mesmo gênero ou desacompanhado. Apenas curtiam o momento, a música, o ambiente.

Quando a banda deixou o palco, Robson saiu do bar. Já estava cansado, queria dormir confortavelmente até não poder mais. Queria sentir o prazer de não ser incomodado, requisitado ou mesmo chamado. Sabia que logo transaria outra relação que não o deixasse em paz. Por isso, o silêncio que iria desfrutar era precioso, e cada minuto com ele não podia ser desperdiçado.

Mas algo incomodaria o sono do rapaz – ou pelo menos o início dele. A fome de fim de noite. Beber dá fome, e Robson bebeu bastante nos dois bares que foi aquela noite. Parou em uma lanchonete, dessas que ficam abertas até o amanhecer. Pediu um lanche dos maiores, com bastante gordura, maionese e refrigerante. Devorou aquilo que podia ser chamado de terror dos cardiologistas.

Voltou a pé para casa. As pessoas trabalham a semana inteira, desejando mais horas de sono e descanso. Quando o momento aguardado chega, dificilmente dormem com facilidade – seja pela idade, ou estresse, ou um bom filme na televisão. Por isso, talvez, toda a diversão de uma sexta-feira à noite seja cansar o corpo. Álcool, dança, barulho, conversas em volume alto, comida nem um pouco saudável.

Robson, com toda a carga de uma balada nas costas, só teve tempo de trocar de roupa. Ao fechar a janela, viu alguns raios de sol começarem a nascer. Mas não havia problema, só iria acordar depois de dez horas. Com o ânimo renovado. 

quarta-feira, 27 de abril de 2011

tu-tum

Apaixonado.

Esta palavra é literatura suficiente para este post.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

She

Ela não me olha na cara
Ela não sorri para mim
Ela não me cumprimenta quando passo
Ela não faz questão alguma de se relacionar comigo, em qualquer grau de intensidade

E ainda quer
Respeito
Carinho
Atenção
E açúcar, de vez em quando

Ah!
Vai para a $%@#$@#@$¨$¨*%&&$¨%&#$@!

quarta-feira, 30 de março de 2011

O vidente Élton previu que a Maria ganharia o BBB


Muito antes de morrer, o vidente Élton deixou a seguinte carta em uma de suas gavetas.


"Esta noite sonhei com um reality show, que não tenho o hábito de assistir. Não sei se é uma previsão, mas havia uma moça vestida de preto, com um corpo muito bonito, rosto idem, junto com um rapaz fortão (e com pinta de médico). Ela ganhava o reality (e, provavelmente, muito dinheiro. O nome 'Maria' era mencionado muitas vezes, talvez seja o dela.

Élton 20/06/2001"

Há muitas outras cartas com sonhos, visões e, com certeza, previsões. No momento, não é possível examiná-las e nem chegar a alguma conclusão. Porém, tão logo seja terminado o processo de herança (para saber quem fica com o patrimônio do rapaz), será possível saber se tais documentos poderão passar por um processo de tradução/examinação ou não.

Entrementes

Hola, personas, como están?

Não sei escrever em espanhol, mas serve para quebrar o clima áspero (se é que existe um).

Bom, vim aqui para divulgar o Blog Entrementes.

Eu sou um dos autores, junto com o Daniel Angione e o Leandro Las Casas.

Entrem lá, tem várias histórias bacanas, textos inéditos deste autor que vos fala e muito mais.

Isso aíi >>>> Entrementes

sábado, 19 de março de 2011

quarta-feira, 16 de março de 2011

Vida e Morte de Elton, o vidente – parte final

Já imaginou prever a própria morte? Saber cada detalhe dos últimos momentos da vida, o dom precioso que Deus ofereceu aos homens? Pois é, do nada comecei a ver cenas do meu fatídico dia. A minha vantagem (se é que existe alguma vantagem nisso) era não saber quando ia acontecer. Por isso podia tomar precauções para adiar o último suspiro.

A primeira visão que tive da morte foi de Cristiano incendiando a casa em que trabalhava. Ele me trancou em um quarto, jogou gasolina nas paredes e acendeu um fósforo. Eu ficava asfixiado e caía, provavelmente morto.

A providência que tomei quanto a esta visão foi tirar férias. Ora, se não estivesse na casa que iria ser queimada, não morreria, certo? E assim o fiz, mas logo no quarto dia, visão mudou: agora via Cristiano invadindo minha casa com um revólver e me baleando.

Decidi viajar. Juntei economias e fui à praia. Foi uma semana incrível, embora solitária. Tomei banho de mar, ganhei um bronzeado e refleti sobre a vida. Até as premonições cessaram e descansei a mente. Nada como espairecer e curtir um pouco a vida.

Na viagem de volta, ainda no ônibus, tive uma visão preocupante. Cristiano estava na casa onde trabalho, ameaçando os outros empregados, à minha procura. Quando ele atirou na dona do lugar, decidi ir direto ao trabalho, sem sequer passar em casa para guardar as coisas.

Dito e feito. O meliante já estava no lugar, armado e à minha procura. Quando cheguei, pareceu ficar satisfeito me ver. Cheirava a álcool e gritava muito. Era impossível prever qualquer movimento dele naquele momento. Havia levado galões, provavelmente contendo os líquidos inflamados que previ. O medo já começava a tomar conta de mim, mesmo não me paralisando.

- É a mim que você quer. Deixe os outros irem embora.
- Ora, resolveu bancar o herói. Tudo bem podem sair.

Um rapaz que ia saindo deu meia volta e correu para atacá-lo. Frágil, foi empurrado para longe por Cristiano, que atirou ao alto.

- Mais uma burrada destas e não garanto a vida de todos – gritou.

Diante de um homem armado, disposto a atirar e bêbado, não restou alternativa a todos senão obedecê-lo. Em fila indiana e cabisbaixo, um a um ia deixando a casa. Quando era a vez do mesmo rapaz que havia tentado atacá-lo, bradou:

- Você fica, com o Élton. Vamos ter uma conversinha.

Foi neste instante que tive um flash. Nele, Cristiano espancava o rapaz até a morte. Não pensei duas vezes e pulei sobre o bandido. Enfurecido, me bateu até eu ficar zonzo, e me jogou no quarto onde eu trabalhava. Com tiros, espantou a todos da casa. Então pegou os galões e, tal como havia premeditado, incendiou o quarto.

***

Homem incendeia casa de vidente e mata um
Motivo foi a recusa em fornecer números da Mega-Sena

O comerciante Cristiano Nunes Vladsvotok, de 37 anos, foi preso na tarde de ontem acusado de incendiar uma casa no bairro Vale Verde, e matar o vidente Élton Medeiros, que trabalhava no local.

Segundo os colegas de Medeiros, que testemunharam a ação, o comerciante invadiu a casa embriagado, ameaçou e agrediu a todos até que o vidente chegasse. Quando o viu, obrigou os presentes a sair da casa, espancou o jovem e incendiou a casa.

“Foi um filme de terror. O Élton era nosso melhor funcionário, todos os clientes gostavam dele. É muito triste”, diz a dona da casa, Martha Medeiros.

O delegado responsável pelo caso, Robson Silva Júnior, afirma que Vladsvotok já havia ameaçado o vidente em outras ocasiões, pela recus do vidente em fornecer os números da Mega-Sena. “Ele possui muitas dívidas com fornecedores e parentes, por isso queria o prêmio da loteria e exigia que o rapaz falasse os números”, afirma.

O comerciante está preso na delegacia, aguardando julgamento. A reportagem não conseguiu localizar parentes do vidente.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Eu vi minha ex-namorada na internet

É, foi assim: vendo um site pornô, depois de várias mulheres, profissionais e amadoras, sendo devoradas (e devorando também), vi as imagens de uma garota bem familiar para mim. Eu a namorei por alguns meses.


Por um lado, posso afirmar: "Olha, que gostosa, e eu já peguei, de todas as maneiras possíveis".

Por outro, cada um faz o que quer da vida. Se ela escolheu tirar fotos íntimas com o atual (ou ex), normal. Mas duvido que ela autorizou a exposição destas fotos da maneira com que foi.

Aposto que a família dela está com muita vergonha da filha que tem. E ela pode (talvez) estar pensando em mim, o único rapaz sério com ela deve ter ficado um dia. Acredite se quiser.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Vida e morte de Élton, o vidente – Parte 4/5




Receber uma carta ameaçadora não é fácil. O medo toma conta do seu cotidiano, e qualquer ato de terceiros é visto como uma possível tentativa de agressão, seja ela verbal ou física. Mudei meu horário de trabalho, passei a evitar andar sozinho e acostumei a ficar em casa com as luzes apagadas. O Cristiano havia conseguido me deixar temeroso, e muitas vezes cogitei procurá-lo com um jogo da loteria que seria premiado com o maior valor possível.

Mas a vida dá voltas e traz muitos desafios. Neste meio tempo, encontrei o maior desde que passei a viver das minhas previsões. Era Fabiana, uma garota cujo futuro era incerto. Eu não conseguia ver uma imagem nítida das coisas que iriam acontecer com a jovem. Cada consulta que ela marca trazia mais perguntas do que respostas. Cheguei a atendê-la gratuitamente, porque me sentia um charlatão ao deixar de dar o serviço pelo qual ela pagava (não a mim, diretamente, claro).

Noites em claro, muitas rezas e reflexões foram necessárias até e decidir acompanhar uma semana da jovem, para ver o que pensa, como age, e assim talvez o futuro se abrisse para minhas visões. Quando a sugeri isto, deu risada, mas concordou. Pelo jeito, queria muito saber o que aconteceria com nos próximos dias.

Nos três primeiros dias, apenas a observava e fazia algumas anotações (sem que ela percebesse). Tive algumas impressões, que iam se confirmando a cada vez que a encontrava. Ela se vestia igual a uma amiga (que era bem bonita, devia ser a líder da turma), embora as roupas não lhe caíssem bem. Sempre pedia conselhos sobre o que fazer, em todas as áreas. Ouvia os relatos e assimilava-os, sempre com um comentário elogioso e emendava “vou adotar isto para minha vida”.

Traduzindo em miúdos: ela não tinha opinião própria. Ora, tinha que haver aprovação alheia para tudo, e desta forma não agia caso não encontrasse uma resposta positiva. Por isso não era possível prever o futuro dela. Se a cada opinião contrária, ela mudava de atitude, não seguia uma linearidade e nem uma coerência própria da vida. Desta forma, era um caso para um psicólogo ou psiquiatra, não um vidente. Tentei abordar o caso de uma forma educada.

- Olha, infelizmente não posso dar sequência ao seu caso. Seu futuro é incerto porque você não sabe o que quer da vida. Talvez por causa de baixa auto-estima, ou por algum trauma de infância. Não posso dar um diagnóstico, por isso recomendo que você procure um profissional.

Acho que não consegui. Fabiana era uma mulher bonita, mas algo a deixou com o futuro aberto. Talvez essa seja uma vantagem para ela. Ou não – todos podem reescrever o próprio futuro. Basta ter coragem para iniciar várias mudanças no presente. É a opinião de um vidente.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Vida e morte de Élton, o vidente – Parte 3



Em algumas oportunidades tive o prazer de unir casais. Uns foi pela amizade em comum, e outros pelo dom que Deus me deu. Claro que nunca foi minha intenção trabalhar para que pessoas encontrem o amor, porém era um ramo, dentro do meu ofício, que dava bastante lucro à minha patroa.

Certo dia uma garota marcou uma consulta, e pediu para prever se ela iria namorar o rapaz que havia conquistado o seu coração. Quando vi os dois juntos na minha previsão, achei que se tratava de outro. Não era.

- Vejo você muito feliz com um rapaz, digamos, um pouco gordinho, fora do peso normal.
- Jura? Ah, que bom, estou tão feliz. Mas... eu nem cheguei a descrevê-lo.

Não sou preconceituoso. Muitas vezes sou vítima do preconceito, isso sim. E nada tenho contra aqueles que têm tecidos adiposos a mais. Eu apenas pensei que a paixão da tal garota fosse um garoto com aparência próxima à dos galãs de novela. Mas cada um cuida da sua vida, não é? O coração é que manda na gente, e não o contrário.

***

No dia seguinte, ao chegar à minha sala, uma carta esperava em minha mesa. Logo pensei que fosse alguém querendo agradecer por algum serviço prestado, ou algo parecido. Mas me surpreendi, era uma carta do Cristiano. Usando palavras horríveis, me ameaçava de morte.

Tentei não me abater, tinha que atender aos clientes com um sorriso no rosto. O primeiro era um senhor perguntando se a neta dele já havia perdido a virgindade. Respondi dizendo que via o futuro, não o passado escondido. Em seguida uma moça de uns 50 anos, perguntando se o marido a traía. Disse-lhe a verdade: havia visto apenas eles brigando e aparentemente se separando. E também não era detetive particular.
Por fim, antes do almoço, um rapaz gordinho. Ele queria saber se uma garota, a qual era apaixonado, também gostava dele.

- Olha, não consigo ver isso, apenas seu futuro. E, bem, vejo você com uma garota, e vocês estão muito felizes, caminhando pelo parque e dividindo um algodão doce. E acredito que já esta cena antes.

Foi aí que o reconheci. Era o rapaz que a garota que eu havia atendido alguns dias antes era apaixonada. Como ela não voltou mais, pensei que havia se declarado e concretizado a minha previsão. Não tive dúvidas e falei:

- Escuta, não costumo me intrometer na vida dos clientes. Porém, algo inusitado aconteceu. A moça pela qual você é apaixonado já veio me procurar, perguntando se ela iria ficar com você. Por isso, não perca nem mais um minuto, e vá já para a casa dela se declarar.

Com um sorriso de orelha a orelha, o garoto saiu correndo da minha sala. Gosto quando prevejo coisas boas, como o amor. Fico feliz quando os clientes ficam felizes com minhas previsões. Sinto, com isso, que estou usando meu dom para o bem das pessoas (apesar de usá-lo como ganha-pão também).

Porém, o resto do dia seria difícil. Tive que conversar com minha patroa sobre mudanças nos horários, a fim de evitar uma rotina, para que o Cristiano (ou alguém ligado a ele) me surpreenda.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Vida e morte de Élton, o vidente – parte 2/5



Prever o futuro é um dom que muitos queriam ter. Aliás, acredito, é como todos os outros dons. Muitos invejam, os que têm fazem pouco caso e os empreendedores exploram ao máximo tal talento para ganhar dinheiro.

Dinheiro, aliás, é o objetivo de 99% das pessoas que me procuram – junto com o amor. Acredito que as duas coisas estão ligadas, mas não vou entrar na discussão agora. As coisas do coração não devem ser julgadas ou questionadas. Mas por outro lado, há uma grande dose de razão no amor, o que não deixa de ser irônico.

Uma vez um cliente pediu os números da loteria. Cristiano era o nome dele. Vou ser honesto – vejo estes números o tempo todo. Porém, não acredito que uma quantidade exorbitante de dinheiro trará felicidade. Se não trabalhasse, não conheceria pessoas maravilhosas, e talvez não teria a fama que gosto tanto. Sobre o cliente? Bom, respondi apenas quatro dos seis números, e os outros dois inverti. Ele ganhou uns dois mil reais na quadra.

Achei que isso me livraria do pobre coitado. Mas pura ilusão: a ganância o fez me procurar de novo. Novamente, indiquei 4 dos 6 números que saíram, e ele ganhou a quadra. A cena se repetia mais ou menos a cada 15 dias, e a dona do estabelecimento em que eu atendia o recebia com café, bolachas e todas as mordomias de um cliente VIP.

Até que um dia cansei. Recusei-me a atendê-lo. Mesmo com a insistência, promessa de maiores comissões pela consulta, não recuei. Como já disse, não preciso de dinheiro para ser feliz – e se precisasse, iria eu mesmo até a casa lotérica fazer a aposta certeira. Cristiano pediu para conversar, apenas.

- Olha, Élton, eu preciso de dinheiro para quitar uma dívida.
- Sinto muito, não posso ajudá-lo. Procure um emprego.
- Eu já trabalho em dois! Por favor, me ajuda, só esta vez. Depois, nunca mais procuro você.

A parte solidária do meu ser queria muito passar logo os seis números, para o cara ser feliz. Mas fui racional e recusei.

- Cuidado por onde anda, garoto! Coisas podem acontecer com você! – e saiu, batendo a porta.

Além desta ameaça, levei uma bronca daquelas da minha patroa. Mas ela não exagerou: sabe que sou o que mais traz clientes à casa – afinal, sou um cliente de verdade. Com certeza, não esquecerei tão cedo do tal Cristiano.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Vida e morte de Élton, o vidente – primeira parte



Já dizia o ditado: Deus dá asas a quem não sabe voar. Temos exemplos aos milhares pelas ruas. Pessoas que não sabem lidar com dinheiro ganhando fortunas. Maus motoristas com os melhores carros. Pessoas incompetentes sendo promovidas. Carentes ávidos por amor sem qualquer tipo de relacionamento. Solteiros convictos, sem a vontade de se apaixonar, com uma fila de pretendentes.

Posso me encaixar nesta lista. Élton - o garoto do subúrbio que queria apenas melhorar de vida, trabalhando das 8 às 18, ganhando o suficiente para viver com dignidade, sem ninguém para encher o saco - ganha um dom precioso.

A primeira vez que vi o futuro foi quando estava prestes a dar o primeiro beijo. Conheci uma garota numa festa infantil, destas de fundo de quintal com salgadinhos e doces caseiros. No momento em que a vi, passou pela minha cabeça um flash de toda a cena em que alguém tocava meus lábios pela primeira vez. Fiquei confuso, achei que era uma imaginação involuntária. Horas depois, a cena que havia visto, como um espectador dentro de um cinema vazio, se passava comigo. Todos os detalhes estavam lá: o sorriso da garota após descobrir que seria a minha primeira vez, o meu olhar espantado, os colegas escondidos a observar o ato. A diferença entre a previsão e o fato foi que neste último pude sentir todo o processo – ansiedade, o toque dos lábios, o hálito da garota, os risos dos outros.

Depois o flash passou a ser comum. Eu apenas não sabia em quanto tempo ele se realizava. O máximo que demorou foram sete dias. Aprendi a distinguir a premonição da pura imaginação com o tempo. A maioria das vezes que imaginava, ficava feliz. A premonição me deixava uma pulga atrás da orelha, tamanha a dúvida do que significava, se iria realmente acontecer ou se deveria fazer algo para evitar. Aprendi a conviver com isso tudo.

***

Passei a ganhar dinheiro com o dom. Fiquei famoso no bairro, e uma astróloga me convidou para trabalhar com ela. Era uma relação puta-cafetão. Eu ganhava uma mixaria por consulta, embora apenas metade das previsões eram corretas (jamais ouvi reclamações, diga-se).

Naquele emprego aprendi que a maioria dos videntes são charlatões. Mas existem os verdadeiros. É igual a qualquer profissão: há os bons e os que enganam os outros. Normalmente os talentosos se destacam e progridem na vida, muito embora tenham que driblar puxões de tapete dos concorrentes – que podem estar na mesa ao lado.

Outra percepção que somente a experiência me ensinou foi dar ao cliente apenas metade do que poderia oferecer. Ou tudo o que ele quiser ouvir. Aconteceu com um rapaz certa vez. Logo que apertei sua mão, vi coisas que jamais havia imaginado que veria em toda a minha vida. E abri o jogo:

- Escuta, vou ser franco. Você irá desviar uma grande quantia da empresa em que trabalha. Depois disso é incerto. Mas não quero conversar mais, pessoas como você me enojam. Por favor, saia.

- Não sei como você acertou minhas intenções – o rapaz respondeu. Mas irei sair.

Dias depois, ele contratou uma consulta a domicílio (pagou o dobro, embora eu não tenha visto boa parte do dinheiro). Ao chegar, me mostrou fotos. Eram de um time de vôlei.

- Eu era o melhor deste time. O pai de um amigo me prometeu conseguir um grande time para eu jogar. Por isso minha mãe deu todas as economias para ele, como adiantamento para viagens e hospedagem. Fiquei um mês na capital e machuquei o joelho, e minha carreira foi por água abaixo. O desgraçado simplesmente sumiu, deixando-nos a ver navios. Anos mais tarde, me ofereceu um emprego em uma das empresas que havia aberto (provavelmente com o dinheiro da minha família), talvez para se redimir. Como sou de confiança, tenho acesso à milionária conta deste homem.

Uma lágrima, apenas caiu de seus olhos. Continuou:

- Com o dinheiro, vou levar a minha mãe para outro país, com outro nome, outra história. Quando fui a seu encontro, apenas queria uma opinião sobre o que deveria fazer. Mas agora já está feito. Por favor, não me julgue por tudo isto.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Carta de um senhor de 81 anos



Caro jovem, belo, ativo, empreendedor, cabeludo e dentuço,

A vida não começa aos 40, como muitos dizem por aí. O início se dá muito antes. Como diz aquela música do rei, é preciso saber viver. Espero que este texto lhe sirva como um guia para aproveitar melhor os seus ensolarados momentos.

Começando pelo amor. Ah, o amor. Sempre achamos que iremos casar e viver felizes para sempre com nossa primeira namoradinha de colégio – ou de bairro, ou das festas, de onde for. Aquela paixão fumegante, o tesão que brota com um olhar, os belos sorrisos, os olhos sem rugas. Se você já passou dos 16, sabe que é lorota de novela tudo isso. O negócio é viver seus amores da melhor forma possível. E, acredite, não fui o que chamam hoje em dia de “galinha”. Busquei não ferir a próxima, pois sei que a dor de ser traído é forte.

Casei-me pela primeira vez aos 29 anos. Faz tempo. Com 15 anos de matrimônio, já não havia mais sexo, conversas engraçadas, eventos em conjunto. A morte de nosso filho, logo no início, foi também um fator determinante. Mas não falarei sobre isso. O segundo casório foi apenas no civil, aos 49, com uma mulher com a idade parecida com a minha. No início era ótimo, pois fizemos um pacto de cada um morar em uma casa diferente. Mas dois fatores causaram nosso divórcio. O primeiro foi a falência da família dela, o que fez com que ela vendesse o apartamento e buscasse um teto ao meu lado. Aos poucos a convivência foi ficando insuportável. O segundo fator foi adultério, da parte dela (eu até dava umas escapadas, mas escondia muito bem). Senti mais alívio do que dor ao descobrir que era chifrudo. Tive um bom motivo para me separar.

A partir daí, somente namorei. Até cheguei a juntar os trapos uma vez. Só que fui esperto, fiz vasectomia após o segundo divórcio, e a dita cuja apareceu grávida. Esperei a criança nascer e pedi o exame de DNA. Confiante, esfreguei o resultado na cara dela, e a expulsei junto com seus dois cachorros fedorentos.

Hoje, acredite, namoro uma mulher de 40 anos (isso mesmo, a metade), com corpo de 30. E ela é fogosa, não sei como dou conta. Aliás, com certeza ela deve ter amantes, para terminarem o serviço que eu deixo incompleto. Mas ela me faz feliz, principalmente quando saímos e todos ficam olhando para o velho com a gata ao lado. “Deve ser milionário”, eles pensam.

Não sou rico, sempre trabalhei duro. É verdade que consegui bons empregos, e tive uma vida confortável. Tive um pouco de sorte em umas empresas que ajudei a investir quando estavam no começo e hoje são famosas. Por isso acumulei um bom capital. Mas esbanjei pouco; até possuía joias, roupas boas, mas usava com moderação. Creio que este estilo simples, porém boêmio e bem arrumado chamou a atenção de algumas beldades. A maturidade é outro fator afrodisíaco também, tal como os cabelos grisalhos e em menor quantidade. Dão um ar intelectual, calmo e sereno. E mulheres buscam confiança, se é que me entendem. Conclusão: meu membro não pode reclamar de ócio.

Quer falar sobre esportes? Ok, o futebol, claro, sempre dominou minha preferência. Também já corri, nadei, fiz esgrima (com espadas, sabe?), e vôlei adaptado. Para mim, o esporte tem que ser feito por prazer. Nada dessa ladainha de buscar saúde. Ela é consequência dos exercícios. Claro que já fui muito mais ativo do que sou hoje, mas um conselho: faça esportes por prazer. É o mesmo que sexo – você não o faz para ter filhos, apenas, não é?

Meu querido, já são quase nove da noite, e estou morrendo de sono. Talvez um dia volte e escrever, e lhe conte algumas aventuras, ou detalhes que deixei de mencionar acima. Pode me escrever (se quiser fazer no computador, fique à vontade), adoro receber cartas. Se bem que há muito tempo isso não acontece.

Um forte abraço.