terça-feira, 31 de agosto de 2010

Noite de sábado



Fazia tempos que não se sentia assim, tão só. E estava adorando. Desta vez, poderia ficar apenas com a cueca samba-canção, tão renegada pelas namoradas mas ótima nos dias de calor, deitado no sofá assistindo ao filme que ele (e apenas ele) escolheu para deixar passar duas horas.

Ah sim, sem formalidades. Deixou o banho para a manhã seguinte, conseguiu ver como ficava o apartamento sem a menor luminosidade, com exceção  apenas da claridade emitida pelo aparelho televisor. Ouviu pela primeira vez o barulho do vento na janela da sala, os passos do apartamento acima - cujo barulho de saltos altos indicava a presença de algumas mulheres, o que o deixou já entusiasmado pelas próximas reuniões do condomínio.

E a batata frita de pacote, dessas que fazem muito barulho ao serem mastigadas, pôde ser degustada à vontade. Para a sobremesa, um pequeno pote de sorvete, e uma taça de suco de uva puro, sem açúcar, fecharam o momento.

Tudo isso ao som de um filme há tempos na lista. Não era romântico, nem dramático, ou mesmo acrescentava inteligência ao espectador. Era puro entretenimento, desses para se conversar com os amigos em uma mesa de bar ou após uma partida de futebol. O filme acabou, o sono bateu. Dormiu em paz.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Voto



Já dizem por aí: "cansei de votar nos filhos, vou agora é votar nas putas". Adalberto resolveu encarar a frase como verdade absoluta e pesquisou prostitutas que querem se eleger dePUTAdas, com o perdão do trocadilho. Veja só o que ele encontou:

Ana Teresa Melo, ou Britney (garotas da vida adoram nomes internacionais) - Promete isenção de todos os impostos (inclusive contas de água e luz) aos bordéis, com o intuito de baratear os serviços e aumentar a oferta e demanda. Com isso, a economia brasileira cresceria 12% ao ano, segundo suas próprias contas.

Cristina Ojeriza de Souza, ou Cris Boca Quente - quer escrever um livro sobre a própria vida, e vê a eleição como o final perfeito.

Alice Maravilha - promete criar o sindicato das Garotas de Programa, e com isso regulamentar a profissão, com ISS, INSS, FGTS, Férias, 13º salário e bonificações de acordo com a satisfação do cliente.

Joana D'Arc, a mulher quente - quer mostrar ao grande público toda a putaria que é feita nos bastidores do Congresso, seja em serviço ou fora dele. Com as sobras de campanha, promete um churrasco do cabide especial aos convidados.

Annelise François, a cafetina - promete lidar com os projetos com a mesma rédea curta que usou para ganhar dinheiro às custas do corpo alheio. Promete 30 horas de trabalho semananais ao povo brasileiro a auxílio-festinhas aos trabalhadores com renda mensal menor que 2 salários mínimos.

Chiara Souza - pretende tabelar os preços praticados pelas garotas. Acha que ganha muito mal.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Hard News


A notícia havia cortado como um aço de navalha. Falta de ar, dor de cabeça, um ardor nos olhos que faria jorrar lágrimas. Tratava-se de um sentimento que, se nunca o havia sentido, havia esquecido quão doloroso era.

Começou a soluçar. Ajoelhou-se; escondeu o rosto com as mãos. Como isso poderia acontecer com ela? Justamente com quem cuidava, dava atenção, sentia-se feliz estando lado a lado. E como esse sentimento inesperadamente ruim possa ter destroçado sonhos, ambições e até mesmo um passado recente e feliz?

Não há respostas. Somente um copo de água. Colocou uma colher de açúcar. Duas. Três. Precisava se acalmar para voltar ao trabalho, tinha mil pepinos a resolver. Mas no fundo sabia que não teria mais capacidade psicológica para sequer considerar hipóteses para a resolução deles.

Deitou e fechou os olhos. Não soube se dormiu por um segundo ou uma hora. Tentou comer um pouco de arroz e salada. Sentiu-se bem, mas quando a tristeza voltou, vomitou tudo. O nariz estava vermelho, a boca inchada. Os olhos denunciavam a infelicidade. Somente o passar dos dias iria curar tal infortúnio.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Relatos de um psicopata – a quase prisão


Uma vez quase fui pego pela polícia. De longe foi o dia que passei mais nervoso em toda a minha vida.

Vou contar desde o começo: comecei a sair com uma garota que ainda mantinha contato com o ex-namorado. Traduzindo, ele não largava do pé dela. Pedia para voltar, visitava sem avisar, mandava flores e bombons, pedia para conversar com os pais, etc.

Da mesma forma que não sei o por que de eu matar apenas mulheres, não sei também por diabos não sinto a menor necessidade de acabar com homens. Tenho até condições para isso: sei lutar jiu-jítsu, tenho uma estrutura física forte e poucos se atrevem a mexer comigo.

Por isso, o rapaz não me incomodou. Se a minha ficante quisesse ficar com ele, tudo bem. Não era um grande amor, ou uma mulher que me faria perder as estribeiras. Até porque fazia algum tempo que não cometia nenhum incidente e estava contente com isso. Sentia-me uma pessoa normal, sem pecados ou defeitos. Claro que isso não apagava as coisas que eu havia feito, porém estava bem.

A rotina era ótima. Saía para jantar com ela, fazíamos amor, mas não havia um compromisso assinado, ou na forma de aliança. Não telefonava para ela todos os dias, e nem ela dava sinais de querer algo mais próximo.

Mas a situação começou a mudar quando fizemos um mês de “relacionamento”. Creio que ela não quis ser taxada de promíscua ou garota para apenas uma noite, e passou a dar indiretas como “olha, eu gosto de namorar sério. Meu ex vive correndo atrás de mim. Quando eu o quiser, é só estalar os dedos”.

Traduzindo: ela queria namorar sério. Eu não. Por isso usava esta espécie de chantagem, dizendo que a qualquer momento iria voltar aos braços do cara que nem o nome eu sei. E eu adiava, dizia que no momento certo para ambos eu iria assumir o compromisso.

Quando fizemos dois meses informais, a coisa piorou. O tal do renegado veio falar comigo a mando dela. “Aí mané, tu vai ficar com ela ou não? É bom se decidir, porque senão acabo pegando ela pra mim, e depois não largo, tá ligado?”. Acho que uma das coisas que ele ameaçou de verdade foi a língua portuguesa.

Consegui levar por mais um mês. No terceiro, ela veio com um papo estranho que não querer mais transar. Isso mesmo: greve de sexo, e a condição era assumir perante Deus e o mundo (e os pais dela) nosso romance.

De cabeça fria, tomei a atitude. Terminei o relacionamento com ela. E esse foi um erro crasso. Ela passou a ligar todos os dias no trabalho, no celular e em casa. Me visitava fora de hora, sem avisar. Se jogava em meus braços na frente dos colegas de escritório. Eu tentava conversar, dizendo que não a queria mais, mas não teve jeito. Ela continuava correndo atrás de mim. A gota d’água foi quando meu chefe me deu uma bronca por causa dos tumultos que ela estava causando.

Fiquei muito nervoso, bravo, tenso. A mulher não dava sinais de me deixar em paz, e isso estava me atrapalhando na vida como um todo. Puto da vida, saí do serviço e fui à casa dela. Já estava com meu arsenal, e ela sozinha em casa. Foi rápido e indolor.

Mas o tal do ex-namorado me viu saindo da casa dela, e quando a viu morta, ligou para a polícia. Tomei um banho, e quando fui à janela da sala, vi sirenes. Corri para o quintal, pulei o muro e me escondi na lavanderia de um vizinho. A polícia invadiu a casa, mas não encontrou nada.

O processo, então ocorreu na justiça. Sou cuidadoso: nenhuma prova contra mim, além da testemunha que me viu saindo da casa. O problema é que o cara já havia feito ameaças para ela quando terminaram. E ela fez B.O. Assim, a juíza considerou que era mais provável que ele tivesse cometido o crime. Fui inocentado. Mas se a polícia tivesse me prendido naquela noite, não sei qual seria o meu destino.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Somos todos

Punheteiro, pinguço, maconheiro.
Alcoólatra, comilão, dorminhoco, preguiçoso.
Tarado, viciado, chorão, sensível, frio, calculista.
Avarento, pão-duro, fura-olho, nervoso, esquentadinho, bobão.
Burro, nerd, cdf, lento, desleixado, gay, ogro, falso, verdadeiro demais.

Os sete pecados capitais dizem respeito às coisas gostosas, que não podemos fazer.
As virtudes enaltecem aqueles que conseguem viver à mercê de prazeres e necessidades.
As boas pessoas não sentem raiva, rancor, perdoam os deslizes alheios e estão sempre sorridentes a tudo e a todos. Normalmente são as mais facilmente manipuladas e usadas pelas pessoas malvadas.
As pessoas malvadas são egoístas, rudes, e muitas vezes incompreendidas, quando usam destes artifícios apenas para se defender. São excluídas do convívio social se não puderem pagar um bom advogado, ou se algum psiquiatra resolver invocar com ela e interná-la em um manicômio.
Ninguém mexe com o briguento, porque este sabe se defender. Já com o pacífico, que mal se envolve em questões conflituosas, são perseguidos pela maioria.

Somos sempre julgados pelo que somos. E a sensação é sempre de sermos inferiores por causa disso. Há sempre uma palavra chula sobre nossas maiores características, sejam elas boas ou ruins (aos olhos, claro, dos outros).