terça-feira, 17 de julho de 2012

A saga da Sentai Vermelha - Carta 3

Caro leitor,

A vida noturna é realmente espetacular. Sempre fui muito rígida com relação a horários e disciplina, e estar sem obrigações é um dos prazeres que ainda não estou acostumada. Mas, como dizem aqui no Brasil, tudo o que é bom dura pouco. Na noite em que mais bebi, fui localizada por agentes japoneses à minha procura.
Imagine só a cena: estava eu, sozinha, em um bar maravilhosamente iluminado (sério, parecia cenário de videoclipe) e com uma banda de rock muito boa. Bebi até dormir na mesa do bar. Quando me acordaram, já fui avisando o dono do bar que iria embora e estava sã. Não foi necessário, pois quem me acordou foram os agentes japoneses, e eles fizeram tudo isso por mim. Inclusive, até pagaram a conta.

Na manhã seguinte, entre goles de café e um maravilhoso sanduíche de peito de peru, eles me contaram a real situação do conflito. A Terra estava desprotegida. O grupo Sentai foi enviado ao espaço para enfrentar uma das naves centaurianas. E perdeu.

- Bem feito! Agora eles vêem que o Sentai Verde é um péssimo líder – eu disse, em bom japonês.

Fui repreendida, claro. Mas foi um grito de desabafo. E felicidade. Eles precisavam de mim, e eu adoro isso. Adoro ser reconhecida pelos meu méritos, minhas qualidades. Tardou, mas não falhou.

Por outro lado, ninguém esteve do meu lado quando briguei com o Verde. O machismo da Corporação Alfa falou mais alto, e como fui a única mulher a peitar (com o perdão do trocadilho) os homenzarrões incompetentes, me ferrei.

- Acontece, Sra. Jane, que o esquadrão Sentai está à deriva no espaço. O Mecha foi muito avariado. E, junto com eles, está seu pai, o General Mussi.

Ali tomei um susto. Agora a coisa mudava de figura e ficava pessoal. Se eu soubesse, desde o começo, que a minha missão seria resgatar o meu pai, não perderia um minuto discutindo minha situação com o resto da Corporação Alfa. Faria minhas malas e partiria para o Japão imediatamente. Como brinde, traria de volta os cinco combatentes que não são um bom grupo sem a minha liderança.

Dessa forma, viajei para o país do sol nascente. Durante as muitas horas de viagem, pude dormir, avaliar a nave que irei usar e a estratégia de combate. Não terei escolta, mas provavelmente não precisarei entrar em conflito.

Escrevo essa carta da base de lançamento. Em minutos, estarei no espaço. As forças aéreas de muitos países estão de prontidão para um possível ataque, já que nossa principal defesa – o Mecha – está no espaço, inutilizado. A imprensa e, consequentemente, a população da Terra, ainda não sabe que, se sofrer uma invasão nas próximas horas, poderá não ter forças suficientes para resistir ao inimigo. Sinto uma enorme responsabilidade em minhas mãos. Mas nem por isso deixarei de me concentrar na missão. Caro leitor, guarde essas palavras. A Sentai Vermelha está de volta.

Paz e bem
Jane Mussi.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Você nunca pegou uma flor do jardim para me dar

Você nunca pegou uma flor do jardim para me dar.

Foi isso que ela me disse no dia em que terminamos. Na hora, ri por dentro. Eu tinha pelo menos uns três argumentos para rebater essa frase absurda. Digo apenas um, para dar uma dimensão do momento: em meses de relacionamento, foram várias as vezes em que enviei rosas vermelhas à minha amada. Creio eu, que rosas vermelhas são mais bonitas, chiques e mais caras que a flor do jardim. E têm a mesma representação, o de presentear.

Mas não disse nada. Argumentar só traria mais dor e sofrimento àquele momento. Torná-lo mais difícil para ela não amenizaria minhas lágrimas.

A verdade é uma só. Termina-se um relacionamento porque o amor não existe mais. E ele pode acabar por dezenas de motivos. Uma traição, uma outra paixão. Vontade de ficar sozinho, aproveitar família e amigos.

Ela queria terminar comigo, e sobrou para as pobres flores que enfeitam os jardins brasileiros a culpa. Quantas não devem ter murchado pela angústia de ser o motivo pelo fim do nosso relacionamento. Queriam mil vezes ter sido cortadas por uma faca cega, ou simplesmente arrancada à mão nua, do que conviver com esse fardo até o último dia de suas vidas.

Claro, há as que não estão nem aí, e se exibem às pessoas e aos insetos. Sentem-se superiores a mim, meu ex-relacionamento e às flores que sofrem em silêncio.

Hoje, olhando para esse fato (que ocorreu há anos), vejo o quão idiota eu fui. Dediquei-me ao relacionamento de corpo e alma, e nada tive em troca. Era feliz por tê-la ao meu lado, ela era meu troféu, minha grande conquista. E, para expressar todo meu amor, a presenteava com rosas vermelhas. Não com flores roubadas de um parque ou um jardim particular meticulosamente cuidado. E foi por isso que terminou.