A primeira visão que tive da morte foi de Cristiano incendiando a casa em que trabalhava. Ele me trancou em um quarto, jogou gasolina nas paredes e acendeu um fósforo. Eu ficava asfixiado e caía, provavelmente morto.
A providência que tomei quanto a esta visão foi tirar férias. Ora, se não estivesse na casa que iria ser queimada, não morreria, certo? E assim o fiz, mas logo no quarto dia, visão mudou: agora via Cristiano invadindo minha casa com um revólver e me baleando.
Decidi viajar. Juntei economias e fui à praia. Foi uma semana incrível, embora solitária. Tomei banho de mar, ganhei um bronzeado e refleti sobre a vida. Até as premonições cessaram e descansei a mente. Nada como espairecer e curtir um pouco a vida.
Na viagem de volta, ainda no ônibus, tive uma visão preocupante. Cristiano estava na casa onde trabalho, ameaçando os outros empregados, à minha procura. Quando ele atirou na dona do lugar, decidi ir direto ao trabalho, sem sequer passar em casa para guardar as coisas.
Dito e feito. O meliante já estava no lugar, armado e à minha procura. Quando cheguei, pareceu ficar satisfeito me ver. Cheirava a álcool e gritava muito. Era impossível prever qualquer movimento dele naquele momento. Havia levado galões, provavelmente contendo os líquidos inflamados que previ. O medo já começava a tomar conta de mim, mesmo não me paralisando.
- É a mim que você quer. Deixe os outros irem embora.
- Ora, resolveu bancar o herói. Tudo bem podem sair.
Um rapaz que ia saindo deu meia volta e correu para atacá-lo. Frágil, foi empurrado para longe por Cristiano, que atirou ao alto.
- Mais uma burrada destas e não garanto a vida de todos – gritou.
Diante de um homem armado, disposto a atirar e bêbado, não restou alternativa a todos senão obedecê-lo. Em fila indiana e cabisbaixo, um a um ia deixando a casa. Quando era a vez do mesmo rapaz que havia tentado atacá-lo, bradou:
- Você fica, com o Élton. Vamos ter uma conversinha.
Foi neste instante que tive um flash. Nele, Cristiano espancava o rapaz até a morte. Não pensei duas vezes e pulei sobre o bandido. Enfurecido, me bateu até eu ficar zonzo, e me jogou no quarto onde eu trabalhava. Com tiros, espantou a todos da casa. Então pegou os galões e, tal como havia premeditado, incendiou o quarto.
***
Homem incendeia casa de vidente e mata um
Motivo foi a recusa em fornecer números da Mega-Sena
O comerciante Cristiano Nunes Vladsvotok, de 37 anos, foi preso na tarde de ontem acusado de incendiar uma casa no bairro Vale Verde, e matar o vidente Élton Medeiros, que trabalhava no local.
Segundo os colegas de Medeiros, que testemunharam a ação, o comerciante invadiu a casa embriagado, ameaçou e agrediu a todos até que o vidente chegasse. Quando o viu, obrigou os presentes a sair da casa, espancou o jovem e incendiou a casa.
“Foi um filme de terror. O Élton era nosso melhor funcionário, todos os clientes gostavam dele. É muito triste”, diz a dona da casa, Martha Medeiros.
O delegado responsável pelo caso, Robson Silva Júnior, afirma que Vladsvotok já havia ameaçado o vidente em outras ocasiões, pela recus do vidente em fornecer os números da Mega-Sena. “Ele possui muitas dívidas com fornecedores e parentes, por isso queria o prêmio da loteria e exigia que o rapaz falasse os números”, afirma.
O comerciante está preso na delegacia, aguardando julgamento. A reportagem não conseguiu localizar parentes do vidente.
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