sexta-feira, 27 de abril de 2012

A saga da Sentai Vermelha - Carta 1



Escrevo esta carta da prisão. Estou sob o poder dos centaurianos, creio eu há três meses. Somente agora me foi fornecido papel e caneta para escrever a meus familiares, a fim de que saibam que estou viva. O real motivo, obviamente, é comunicar o governo terráqueo de que sou moeda de troca pela armadura gigante que eles usaram em batalha.

Se você que está lendo esta carta não sabe do que estou falando, contarei um breve relato da minha história. Por favor, assim que terminar de lê-la, entregue nas mãos do general Mussi, da Corporação Alfa. Ele é meu pai.

Você, caro leitor, deve ter acompanhado pela imprensa a batalha da Corporação Alfa contra os centaurianos, que queriam invadir a Terra. Vencemos esta luta e capturamos o armamento inimigo, além de assassinar os alienígenas sobreviventes. O local foi o deserto do Saara, em virtude de um acordo entre os governos de Alfa Centauro e da Terra. Pode parecer estranho, mas existem leis intergaláticas que regulamentam as guerras entre os mundos. Leis estas que são sempre desrespeitadas, mas deixe para lá. Uma dessas leis determina que os locais de confronto devem ser longe de civis. E o Saara se encaixou neste quesito.

Durante a batalha, fui encarregada de uma missão sigilosa – invadir o quartel-general dos centaurianos e eliminar o comandante deles. Como você pode perceber, falhei nessa missão, fui capturada, jogada em uma nave-prisão e, anos-luz depois, vim parar em um planeta próximo à estrela Alfa-Centauro (não, não tem nada a ver com a Corporação Alfa, que fique bem claro). Quero muito voltar para casa, descansar, comer algo decente, ver a luz do Sol. Essa prisão é algo totalmente diferente, para pior, do que vivenciei em anos de treinamento na corporação. E olhe que treinei visando sempre ser a Sentai Vermelha.

Comecei a preparação aos 12 anos. É uma idade menor do que a média dos outros recrutas, que entram normalmente aos 15. Mas como tinha uma habilidade alta para minha idade, e meu pai é do alto escalão da corporação, consegui participar dos treinamentos. Eram puxados, claro, mas eu queria muito ser do esquadrão Sentai, e por isso encarava todos os desafios com garra e determinação.

Tive as notas mais altas, entre homens e mulheres, no ano da formatura. Todos tinham 21 anos, e eu 18. Era tratada, ao mesmo tempo, como prodígio da corporação e como filhinha do papai-chefe. Por isso, talvez, me ofereceram a vaga de Sentai rosa. Ora, eu era a líder de todos os times que montei durante o curso, tive os melhores desempenhos físico e intelectual, conhecia a fundo as estratégias de combate e as armas utilizadas. Eu não aceitava nada menos que o uniforme vermelho.

Agora, caro leitor, vasculhe a sua memória e veja se em algum momento da história da humanidade houve uma Sentai Vermelha. Essa era uma vaga ocupada apenas por homens. Mas fui irredutível, queria ser a líder de qualquer jeito. E bolei a solução: um torneio de luta; quem vencesse seria coroado.
Deixando a modéstia de lado, arrebentei no torneio. Venci homens e mulheres, dentro das regras estabelecidas. Os comandantes não tiveram escolha. Recebi o uniforme rubro. Era Jane Mussi, a primeira Sentai Vermelha.

Foi aí que os centaurianos invadiram a Terra. Assim, sem avisar (cá entre nós, se eu fosse invadir um planeta, faria do mesmo jeito). Os peões que eles enviaram foram mamão com açúcar, apenas para testar nossa força. A verdadeira batalha seria a do Saara, que já expliquei acima.

Acontece que minha liderança era contestada pelo Sentai Verde. Problemas de relacionamento são normais em qualquer equipe, porém as motivações do garotão eram principalmente políticas. Ele queria o uniforme vermelho, mas perdeu de mim na final do torneio. Até aí, tudo bem. Mas ele seguiu com essa ambição pessoal e tinha o apoio da maioria do comando da Corporação. Chegamos a brigar, fisicamente mesmo, diversas vezes em que ele discordava das minhas decisões.

Até o dia em que, durante uma batalha, ele se recusou a lutar e fugiu, deixando a mim e aos outros três membros em desvantagem. Os mesmos três, com medo de represálias do alto escalão lutaram até terminar os soldados, e fugiram. Deixaram a mim contra o monstro que liderava os soldados. Com muita dificuldade, venci o bichão. Se a equipe estivesse unida, usaríamos a bazuca do poder e liquidaríamos ele com facilidade. Sozinha, me restou cansá-lo e eliminá-lo com um tiro de pistola na cabeça.

Depois desse episódio, me recusei a voltar à sede da Corporação. Por comunicador, meu pai passou a missão de eliminar o comandante centauro, na nave inimiga. Passou todas as informações e coordenadas levantados pelo serviço de inteligência. Meu objetivo era entrar na embarcação e matar o ET. Logo percebi que era uma missão quase suicida. Mas era a única forma de ter, definitivamente, o respeito de todos.

Como já descrevi acima, falhei e fui capturada. O pior não foi ser presa, mas sim ver, da janela da nave-prisão, o Mecha da minha equipe derrotar o monstro gigante com armadura. Alguém estava no comando, que era meu por direito. Essa pessoa deve ter recebido todos os louros pela vitória, todas as condecorações cabíveis, talvez até tenha subido de patente. E eu aqui, enjaulada.

O papel está acabando. Entregue esta carta, em mãos, a meu pai. Ele saberá que os centaurianos me mantiveram viva, e querem negociar uma troca. Esta carta será jogada, literalmente, à Terra. Poucos sabem da sua existência. Por isso, caro leitor, se entregá-la a meu pai, fará um serviço sem igual valor à sua nação.

Paz e bem,
Jane Mussi

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