segunda-feira, 27 de junho de 2011

Volta à vida de solteiro

Robson se arrumou, fez a barba, passou gel no cabelo, perfume no pescoço. Escovou os dentes, enxaguou a boca com aqueles remédios ardidos. Pronto, estava preparado para sair. A primeira saída desde o fatídico domingo à noite (em que, após milhares de anos, passou da condição de compromissado para solteiro) estava chegando. Todo o cansaço da semana havia sido esquecido, mas seria relembrado.

Para esquecer um antigo amor, deve-se concentrar em qualquer outra coisa, menos casais. Também é uma boa opção condicionar o cérebro para pensar em mil coisas, a ponto que ele fique cansado o suficiente para dormir, no mínimo, 10 horas seguidas – e eis que entra o álcool. Por isso, Robson não economizou nas biritas. Cerveja, vodca e tequila. Os amigos falavam, riam, acostumados com aquela situação de ir sempre às baladas. Sabiam a hora de abordar uma garota, o momento certo para gritar, quando dançar ou pegar uma bebida. Vestiam-se corretamente, deixavam o cabelo da forma com que se sentissem mais bonitos (ou na moda da época, que seja). Os adereços diziam mais sobre as dívidas do que a condição financeira vigente, mas isso não parecia importar a eles. Somente o recém-chegado à turma não estava à vontade.

Robson se entediou com aquela situação, e contribuiu para isso o fato de haverem muitos casais perto dele. As pessoas, quando bêbadas, ficam mais fáceis, pensou.

Pagou a conta e deixou o bar. Quis caminhar até outro ponto da cidade, não muito longe, onde havia um show de rock. Se o cérebro e o corpo estiverem no limite do cansaço, pensou, dormirei tudo o que deixei de descansar durante esta semana infernal.

Durante a caminhada, prostitutas o chamavam. Ora quis retribuir, ora não. Nas horas em que considerava pagar para estar com uma mulher, levava em conta a solidão, incoerente com a sua juventude. Na hora em que deixava estes pensamentos de lado, considerava a economia de dinheiro que seria postergar uma relação paga.

Deixou de lado a ideia de se relacionar comercialmente fora do horário de expediente. Entrou no tal bar de rock. Os poucos que lá estavam pareciam se divertir. Jogavam sinuca, conversaram, riam alto. A banda animava a todos com os clássicos do gênero, executados com maestria. Ninguém ali parecia triste por estar solteiro, com amigos do mesmo gênero ou desacompanhado. Apenas curtiam o momento, a música, o ambiente.

Quando a banda deixou o palco, Robson saiu do bar. Já estava cansado, queria dormir confortavelmente até não poder mais. Queria sentir o prazer de não ser incomodado, requisitado ou mesmo chamado. Sabia que logo transaria outra relação que não o deixasse em paz. Por isso, o silêncio que iria desfrutar era precioso, e cada minuto com ele não podia ser desperdiçado.

Mas algo incomodaria o sono do rapaz – ou pelo menos o início dele. A fome de fim de noite. Beber dá fome, e Robson bebeu bastante nos dois bares que foi aquela noite. Parou em uma lanchonete, dessas que ficam abertas até o amanhecer. Pediu um lanche dos maiores, com bastante gordura, maionese e refrigerante. Devorou aquilo que podia ser chamado de terror dos cardiologistas.

Voltou a pé para casa. As pessoas trabalham a semana inteira, desejando mais horas de sono e descanso. Quando o momento aguardado chega, dificilmente dormem com facilidade – seja pela idade, ou estresse, ou um bom filme na televisão. Por isso, talvez, toda a diversão de uma sexta-feira à noite seja cansar o corpo. Álcool, dança, barulho, conversas em volume alto, comida nem um pouco saudável.

Robson, com toda a carga de uma balada nas costas, só teve tempo de trocar de roupa. Ao fechar a janela, viu alguns raios de sol começarem a nascer. Mas não havia problema, só iria acordar depois de dez horas. Com o ânimo renovado. 

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