quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A Saga da Sentai Vermelha - Final

Esse texto foi publicado originalmente no Senpuu, que você pode acessar clicando aqui.


Carta 5
Ao Senhor Presidente das Nações Unidas e demais membros do conselho,

Quero primeiro me desculpar por não participar, de corpo presente, das homenagens e comemorações pela vitória da Terra sobre os centaurianos. Embora meu coração esteja cheio de alegria, meu corpo e minha mente precisam descansar e se recuperar das horas de batalha intensa a que foram expostos.

Estou imensamente agradecida pela medalha de honra que me foi oferecida. E também pela quantia em dinheiro como forma de gratificação. Porém, peço que entendam, fiz apenas o meu trabalho. E, se me permitem, conto nas linhas abaixo detalhes da operação. Gostaria muito que ouvissem a minha versão da história, e já adianto que não conheço as outras, pois estou sem ler jornais há dias.

Após a primeira invasão dos centaurianos, fui capturada por eles e levada ao seu planeta natal. Prisioneira, passei fome, humilhações e fui moeda de troca por outros prisioneiros. Depois de libertada, passei um tempo no Rio de Janeiro, cartão postal do distante Brasil, até ser convocada para resgatar membros de uma equipe da Corporação Alfa (esta também homenageada neste dia especial). Até esse ponto, creio que os fatos são conhecidos por todos, pela imprensa.

Quando cheguei ao espaço, senhores, enfrentei uma grande nave centauriana e consegui enviar os demais membros da Corporação de volta à Terra. Porém, outras duas naves se aproximavam e eu tinha por obrigação enfrentá-las. Confesso, senhores membros da ONU, que minhas esperanças estavam escassas. Não acreditava que, sozinha, pudesse derrotar duas grandes naves de guerra. Por isso, não tive escolha: iria sacrificar o Mecha.

Tenho certeza que tal decisão foi motivo de críticas por parte de muitos. O Mecha foi uma obra cara, que consumiu anos de pesquisas e muito sacrifício das pessoas envolvidas. Porém, nunca é demais lembrar que a Corporação Alfa, em parceria com o governo japonês, bancou o projeto. Não houve qualquer ajuda oriunda do exterior. Mesmo assim, não hesitamos em oferecê-lo para defender a humanidade.

Voltando à batalha, o plano era desmembrar a perna esquerda do Mecha (a direita, usada como nave de resgate, já estava na Terra) e lançá-la rumo à segunda nave, um pouco menor. A explosão deveria destroçá-la. Da mesma forma, com a terceira nave, usaria o restante do robô – tronco, cabeça e braços.

Para tanto, voei em direção à segunda nave, como uma missão kamikaze. Temendo o ataque, os centaurianos abriram a principal escotilha e lançaram contra mim uma horda de módulos de combate. Foi aí que desmembrei a perna esquerda e a lancei ao interior da nave. A explosão foi de uma beleza inimaginável.
Senhores, descrevendo desta forma, parece fácil. Mas não foi. Imagine pilotar um robô sozinha (trabalho este originalmente para cinco pessoas) e tendo que desviar de milhares de naves menores. Creio que tive uma ajuda, seja da sorte ou de algum(ns) dos deuses que protegem os terráqueos.

Com a terceira nave, fiz o mesmo procedimento. Programei o piloto automático, coloquei o Mecha em modo de autodestruição, entrei na nave menor que estava acoplada a ele e parti de volta à Terra. Imaginei que, mesmo se a explosão não fosse no interior da nave centauriana, os danos seriam suficientes para deixar a nave inutilizável. Eu estava certa. A explosão foi tão bonita quanto a outra.

Restava, agora, chegar viva ao meu planeta natal. Desviei de tiros, explosões, acertei diversos inimigos. Quando estava perto da órbita terrestre, fui atingida. Mas o impacto da explosão direcionou a minha pequena nave direto ao Oceano Pacífico. Tive sorte, mais uma vez.

Por meio de meu pai, soube que os módulos de combate centaurianos não recuaram e ainda tentaram a invasão. Mas foram contidos pelos nossos caças e artilharia antiaérea. A Terra estava salva.

Dessa forma, senhores, posso afirmar que fui importante para a nossa vitória. Mas o trabalho de todos foi o determinante para que não fôssemos invadidos. Por isso, peço que divulguem este relato. Assim, as gerações futuras poderão saber sobre a Corporação Alfa e quem foi Jane Mussi, a primeira Sentai Vermelha.

Respeitosamente,
Jane Mussi.

PS: Senhores, em relação à medalha, ficarei honrada em recebê-la em outra ocasião. Sobre a gratificação em dinheiro, peço que doem para instituições que cuidam de crianças carentes.




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