terça-feira, 4 de dezembro de 2012

DEIS SP - Mortos sem sangue Parte 2


Na noite seguinte, apenas Raquel e Hans estavam no local. Fabio pediu para investigar durante o dia, entrevistar moradores, juntar documentos e fotos para o relatório a ser enviado ao governador. Foi autorizado por Hans, com a condição de que deixasse sua automática com o irlandês, usando assim apenas a pistola de prata.

Raquel não dizia uma palavra, mas se sentia mais calma em relação à noite anterior. Sentia-se inútil, nada fez diante da criatura responsável pelos ataques. Hans não havia comentado sobre o incidente, e estava com um comportamento mais frio em relação à moça. Em determinado momento, o celular de Raquel tocou, assustando os dois policiais. Era Fabio.

- Fala pro gringo que eu fiz um mapeamento dos ataques. A localização das casas forma um círculo em torno de um casarão. Estive lá e não havia uma alma penada, hahaha. Mas me surpreendeu que na parte de trás deste casarão tem umas grades, parece um calabouço, uma prisão.

Hans decidiu seguir para o tal casarão. A rua estava repleta de carros, e dentro do local parecia haver uma festa. Desta forma, uma abordagem policial poderia gerar um tumulto, então deixaram para depois. Raquel recebeu as fotos no laptop que seriam enviadas ao governador, e ficou horrorizada quando viu a vítima. Porém, não havia marcas de sangue, uma gota sequer no chão da casa, apenas no gramado, onde a criatura havia caído após receber os tiros. Passava das três horas quando decidiram voltar para casa e descansar. Na manhã seguinte, iriam os três ao casarão.

***

Copos e pratos sujos e espalhados denunciavam a festa da noite anterior. Restos de bolo, salgadinhos e bebidas enfeitavam a entrada do casarão. Novamente, parecia estar abandonado, seria apenas um salão de festas? Resolveram entrar para confirmar. Camas desarrumadas, geladeira cheia de comida e um rádio ligado mostravam que alguém morava na casa. Para evitar qualquer surpresa, foram logo à parte de trás, para verificar o tal calabouço. Parecia um porão, como se fosse uma garagem, com grades. O único acesso ao interior do mesmo era por um pequeno portão, que estava aberto. Entraram e depararam com uma coleira, correntes, ossos e marcas de garras na parede.

- Parece que gostavam de brincar de polícia e ladrão aqui. – Fabio disse.

- Não é uma prisão. É um canil – concluiu Hans.

A pista era preciosa. Quiseram sair o mais rápido possível, antes que alguém chegasse e pudesse denunciar por invasão à propriedade. Ao entrar no carro, viram no retrovisor uma minivan dobrando a esquina. Esperaram, e viram o veículo estacionando, e saindo dele uma mulher, aparentando 50 anos, loira, acompanhada por outras sete meninas, também com cabelos claro, e um menino, com a mesma descrição. Hans riu, e pos o carro em movimento.

Raquel quis saber o motivo da risada. Hans preferiu ficar em silêncio até saírem do condomínio, para explicar suas razões. Fabio parecia pouco interessado, mas ouviu o irlandês falar. Contou sobre as lendas dos lobos, que são os filhos mais novos entre oito irmãos. Há versões que falam que é o oitavo filho, outras que afirmam que é o único filho homem após sete mulheres. “Pelo que vimos, todas as lendas se encaixam, temos um legítimo lobisomen, só falta mesmo fotografarrr”. Fabio riu incessantemente após ouvir isto, mesmo após o encontro com a criatura duas noites antes. Raquel preferiu ficar quieta, enquanto Hans cantarolava uma música típica de sua terra natal.

O estrangeiro já imaginava a razão da construção do canil. No começo, a família começou a ficar assustada com os períodos em que o caçula se transformava, e trancava-o. Após perceberem que era inofensivo àqueles com o mesmo sangue e, portanto, com o mesmo cheiro, deixaram-no solto. O que intrigou o experiente policial eram os motivos de somente agora as vítimas virem à tona; ou cobriam muito bem os assassinatos, ou a família mudou recentemente àquele casarão.

- Hoje à noite iremos à caça. Voltem para casa e descansem. We’ll have a great time.

***

A noite chegou mais fria do que o normal. A cada momento, Fabio tinha que passar um pano no vidro do carro, pois embaçava. Raquel questionou o porque de estarem parados, dentro do carro, em frente ao casarão, ao invés de invadirem o local logo e prenderem o menino que se transforma. Hans explicou que não são todas as noites que ele vira lobisomem, e caso isto aconteça, irá ataca-los, para proteger sua propriedade. Fabio, cansado de seus companheiros não rirem mais de suas piadas sobre o caso, preferiu manter-se alerta.

As horas passaram, as luzes do casarão foram se apagando aos poucos. De repente, Raquel viu um vulto vindo do quintal, o mesmo onde fica o canil. Alertou seus colegas, que ficaram com as armas em punho. Fabio sugeriu saírem do carro, mas antes de qualquer resposta sentiram um tranco no mesmo. Era o lobo, urrando dando voltas no veículo, como se procurasse um lugar para atacar. Quando a criatura ficou próxima ao porta-malas, Hans desceu do banco do motorista e apontou a arma, mas a criatura foi veloz o suficiente para atacá-lo, arremessando- o longe. Fabio também desceu e tomou outro tapa no rosto, caindo em seguida. Raquel, desesperada, começou a gritar, e o animal, levantou o carro e o arremessou-o.

Hans e Fabio travaram uma luta desigual. O bicho era muito mais forte que os dois, e só fraquejou quando foi esfaqueado com a arma de prata. Porém, estava em vantagem e conseguiu tirar Fabio da luta com um soco, que o desacordou. No momento em que o animal ia para dar o ataque final em Hans, eis que se ouve três tiros. Era Raquel, já ensanguentada e cambaleando; com dificuldades, saiu do carro capotado e conseguiu atirar com a pistola de prata na criatura, que deu três passos e caiu, voltando a se tornar o menino de cabelos claros.

Depois disto, as irmãs do garoto saíram do casarão, e recolheram o cadáver, sob olhar atento e triste da mãe. Só restou aos policiais acordarem Fabio, e deixar o local. Missão cumprida.

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