O garoto branquinho, loirinho e de olhinhos azuizinhos saiu
da escola tranquilamente. Como em todos os dias da semana, parou em um
restaurante por quilo ali por perto, para encontrar com seu pai e, assim,
almoçarem juntos. Foi uma recomendação médica, tanto para aliviar o estresse do
garoto – que vinha trazendo consequências na pele, literalmente – quanto para
aproximar pai e filho.
Só que o pai demorou para chegar, e só aí que ele lembrou:
eles não iriam almoçar naquele dia. O pai teve que ir a uma reunião de negócios
em São Paulo, portanto a única companhia do garoto seria o programa de esportes
da televisão.
Após comer, seguiu na direção de casa, que não distanciava
mais do que três quadras do local de almoço. Eis que o temido fato acontece.
Sem a companhia de um adulto, o branquinho foi vítima de seqüestro.
- Vamos ganhar uma boa grana com você.
Como de praxe, levaram-no para um lugar afastado e esperaram
algumas horas para fazer contato. Antes, trataram de trocar a roupa do
loirinho, para usar como prova de que ele estava em seu poder. Foi nesse
momento que viram a grande mancha que cobria parte do peito do garoto, seguia
pelo ombro e também pegava uma parte das costas. A mancha, vermelha e com
cascas brancas, destoava da pele alva do jovem. Era a psoríase.
Os bandidos olhavam entre si. Faziam cara de assustados e de
dúvida. O que seria aquilo? Será uma doença? Uma alergia? Um poder
sobrenatural?
- Sim, é contagioso – a vítima disse, sem ser perguntado.
Foi então que um dos sequestradores abriu a porta do
cativeiro. Deixou o garoto partir, sozinho. Não queria chegar nem perto de
alguém doente daquele jeito. Deixava de ganhar uma bolada, mas mantinha a saúde
e a dos comparsas. Depois pensariam em uma outra vítima, ou outro golpe.
E o menino saiu, sem colocar a camiseta de volta. Os
vizinhos da casa onde ele estava viam aquela cena e davam passos para trás,
fechavam janelas e cochichavam entre si.
- Mãe, posso fazer uma tatuagem igual aquela? – um vizinho
perguntou.
O branquinho seguiu andando, aliviado pelo fim do sequestro
destemido, visto o susto que todos aparentavam. Caminhou até ver um ônibus.
Pegou-o, e voltou para casa.
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