quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Jamais sequestre alguém com psoríase



O garoto branquinho, loirinho e de olhinhos azuizinhos saiu da escola tranquilamente. Como em todos os dias da semana, parou em um restaurante por quilo ali por perto, para encontrar com seu pai e, assim, almoçarem juntos. Foi uma recomendação médica, tanto para aliviar o estresse do garoto – que vinha trazendo consequências na pele, literalmente – quanto para aproximar pai e filho.

Só que o pai demorou para chegar, e só aí que ele lembrou: eles não iriam almoçar naquele dia. O pai teve que ir a uma reunião de negócios em São Paulo, portanto a única companhia do garoto seria o programa de esportes da televisão.

Após comer, seguiu na direção de casa, que não distanciava mais do que três quadras do local de almoço. Eis que o temido fato acontece. Sem a companhia de um adulto, o branquinho foi vítima de seqüestro.

- Vamos ganhar uma boa grana com você.

Como de praxe, levaram-no para um lugar afastado e esperaram algumas horas para fazer contato. Antes, trataram de trocar a roupa do loirinho, para usar como prova de que ele estava em seu poder. Foi nesse momento que viram a grande mancha que cobria parte do peito do garoto, seguia pelo ombro e também pegava uma parte das costas. A mancha, vermelha e com cascas brancas, destoava da pele alva do jovem. Era a psoríase.

Os bandidos olhavam entre si. Faziam cara de assustados e de dúvida. O que seria aquilo? Será uma doença? Uma alergia? Um poder sobrenatural?

- Sim, é contagioso – a vítima disse, sem ser perguntado.

Foi então que um dos sequestradores abriu a porta do cativeiro. Deixou o garoto partir, sozinho. Não queria chegar nem perto de alguém doente daquele jeito. Deixava de ganhar uma bolada, mas mantinha a saúde e a dos comparsas. Depois pensariam em uma outra vítima, ou outro golpe.

E o menino saiu, sem colocar a camiseta de volta. Os vizinhos da casa onde ele estava viam aquela cena e davam passos para trás, fechavam janelas e cochichavam entre si.

- Mãe, posso fazer uma tatuagem igual aquela? – um vizinho perguntou.

O branquinho seguiu andando, aliviado pelo fim do sequestro destemido, visto o susto que todos aparentavam. Caminhou até ver um ônibus. Pegou-o, e voltou para casa.

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