domingo, 13 de fevereiro de 2011

Vida e morte de Élton, o vidente – Parte 3



Em algumas oportunidades tive o prazer de unir casais. Uns foi pela amizade em comum, e outros pelo dom que Deus me deu. Claro que nunca foi minha intenção trabalhar para que pessoas encontrem o amor, porém era um ramo, dentro do meu ofício, que dava bastante lucro à minha patroa.

Certo dia uma garota marcou uma consulta, e pediu para prever se ela iria namorar o rapaz que havia conquistado o seu coração. Quando vi os dois juntos na minha previsão, achei que se tratava de outro. Não era.

- Vejo você muito feliz com um rapaz, digamos, um pouco gordinho, fora do peso normal.
- Jura? Ah, que bom, estou tão feliz. Mas... eu nem cheguei a descrevê-lo.

Não sou preconceituoso. Muitas vezes sou vítima do preconceito, isso sim. E nada tenho contra aqueles que têm tecidos adiposos a mais. Eu apenas pensei que a paixão da tal garota fosse um garoto com aparência próxima à dos galãs de novela. Mas cada um cuida da sua vida, não é? O coração é que manda na gente, e não o contrário.

***

No dia seguinte, ao chegar à minha sala, uma carta esperava em minha mesa. Logo pensei que fosse alguém querendo agradecer por algum serviço prestado, ou algo parecido. Mas me surpreendi, era uma carta do Cristiano. Usando palavras horríveis, me ameaçava de morte.

Tentei não me abater, tinha que atender aos clientes com um sorriso no rosto. O primeiro era um senhor perguntando se a neta dele já havia perdido a virgindade. Respondi dizendo que via o futuro, não o passado escondido. Em seguida uma moça de uns 50 anos, perguntando se o marido a traía. Disse-lhe a verdade: havia visto apenas eles brigando e aparentemente se separando. E também não era detetive particular.
Por fim, antes do almoço, um rapaz gordinho. Ele queria saber se uma garota, a qual era apaixonado, também gostava dele.

- Olha, não consigo ver isso, apenas seu futuro. E, bem, vejo você com uma garota, e vocês estão muito felizes, caminhando pelo parque e dividindo um algodão doce. E acredito que já esta cena antes.

Foi aí que o reconheci. Era o rapaz que a garota que eu havia atendido alguns dias antes era apaixonada. Como ela não voltou mais, pensei que havia se declarado e concretizado a minha previsão. Não tive dúvidas e falei:

- Escuta, não costumo me intrometer na vida dos clientes. Porém, algo inusitado aconteceu. A moça pela qual você é apaixonado já veio me procurar, perguntando se ela iria ficar com você. Por isso, não perca nem mais um minuto, e vá já para a casa dela se declarar.

Com um sorriso de orelha a orelha, o garoto saiu correndo da minha sala. Gosto quando prevejo coisas boas, como o amor. Fico feliz quando os clientes ficam felizes com minhas previsões. Sinto, com isso, que estou usando meu dom para o bem das pessoas (apesar de usá-lo como ganha-pão também).

Porém, o resto do dia seria difícil. Tive que conversar com minha patroa sobre mudanças nos horários, a fim de evitar uma rotina, para que o Cristiano (ou alguém ligado a ele) me surpreenda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário