quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Vida e morte de Élton, o vidente – Parte 4/5




Receber uma carta ameaçadora não é fácil. O medo toma conta do seu cotidiano, e qualquer ato de terceiros é visto como uma possível tentativa de agressão, seja ela verbal ou física. Mudei meu horário de trabalho, passei a evitar andar sozinho e acostumei a ficar em casa com as luzes apagadas. O Cristiano havia conseguido me deixar temeroso, e muitas vezes cogitei procurá-lo com um jogo da loteria que seria premiado com o maior valor possível.

Mas a vida dá voltas e traz muitos desafios. Neste meio tempo, encontrei o maior desde que passei a viver das minhas previsões. Era Fabiana, uma garota cujo futuro era incerto. Eu não conseguia ver uma imagem nítida das coisas que iriam acontecer com a jovem. Cada consulta que ela marca trazia mais perguntas do que respostas. Cheguei a atendê-la gratuitamente, porque me sentia um charlatão ao deixar de dar o serviço pelo qual ela pagava (não a mim, diretamente, claro).

Noites em claro, muitas rezas e reflexões foram necessárias até e decidir acompanhar uma semana da jovem, para ver o que pensa, como age, e assim talvez o futuro se abrisse para minhas visões. Quando a sugeri isto, deu risada, mas concordou. Pelo jeito, queria muito saber o que aconteceria com nos próximos dias.

Nos três primeiros dias, apenas a observava e fazia algumas anotações (sem que ela percebesse). Tive algumas impressões, que iam se confirmando a cada vez que a encontrava. Ela se vestia igual a uma amiga (que era bem bonita, devia ser a líder da turma), embora as roupas não lhe caíssem bem. Sempre pedia conselhos sobre o que fazer, em todas as áreas. Ouvia os relatos e assimilava-os, sempre com um comentário elogioso e emendava “vou adotar isto para minha vida”.

Traduzindo em miúdos: ela não tinha opinião própria. Ora, tinha que haver aprovação alheia para tudo, e desta forma não agia caso não encontrasse uma resposta positiva. Por isso não era possível prever o futuro dela. Se a cada opinião contrária, ela mudava de atitude, não seguia uma linearidade e nem uma coerência própria da vida. Desta forma, era um caso para um psicólogo ou psiquiatra, não um vidente. Tentei abordar o caso de uma forma educada.

- Olha, infelizmente não posso dar sequência ao seu caso. Seu futuro é incerto porque você não sabe o que quer da vida. Talvez por causa de baixa auto-estima, ou por algum trauma de infância. Não posso dar um diagnóstico, por isso recomendo que você procure um profissional.

Acho que não consegui. Fabiana era uma mulher bonita, mas algo a deixou com o futuro aberto. Talvez essa seja uma vantagem para ela. Ou não – todos podem reescrever o próprio futuro. Basta ter coragem para iniciar várias mudanças no presente. É a opinião de um vidente.

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