terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sopa se come em casa - Parte 1/5




- Então, tenho uma vaga, sim. É urgente para você?
- Sim, na semana que vem estarei despejado e sem lar – riu.
- Tá bom, só que é o seguinte: eu não me sinto à vontade com você tão próximo a mim.
- Querida, fique tranquila. Da fruta que você gosta eu como até o caroço.

Hiran conseguiu convencer Letícia de que era gay com esta última frase. O rapaz até podia ser motivo de desconfiança do pessoal do escritório, já que se vestia bem, comprava roupas frequentemente e procurava seguir as tendências da moda. São heranças da convivência com duas tias vendedores de butique, com quem morou durante a adolescência. Até arriscou uns beijos em outro rapaz, durante a fase em que era DJ nas boates gays da cidade. Mas, na hora do sexo, relação não foi para a frente.

Letícia também mostrava desespero em conseguir uma pessoa para dividir o apartamento. O aluguel estava caro demais para seu rendimento mensal. E se o ritmo seguisse daquela forma, o sonho de conhecer Londres ficaria mais distante. No final, o negócio foi bom para ambos.

Mas Hiran teria que sustentar sua pseudo-homossexualidade durante algum tempo. Nada de deixar toalhas molhadas em cima da cama, deixar o banheiro sujo por mais de dois dias ou trazer garotas para preparar jantares românticos. O projeto parecia, mas não era difícil. Apenas teria que mudar alguns itens da rotina.

O teste inicial se deu logo na primeira noite. Hiran assistia a um jogo de futebol quando Letícia chegou do trabalho. Por via das dúvidas, mudou para um programa de notícias.

- Boa noite.
- Boa noite. Fiz um macarrão, se quiser, pode pegar o resto. Já comi bastante – pelo menos a primeira impressão estava garantida.

Cansada, Letícia tomou banho, colocou o pijama e foi à cozinha comer o macarrão. Dali iria para o quarto, onde iria ler um livro até dormir. Nos trajetos banheiro-cozinha-quarto desfilou com os shorts e blusa minúsculos que usa como pijama. Hiran suspirou ao ver o belo corpo da colega nas andanças pelo corredor. Teria que treinar também o autocontrole, ou seria mais um sem-teto.

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