Cinco minutos. Este foi o tempo em que, ofegante, Carlos entrou em casa, pegou um maço de dinheiro e correu até o portão para entregar à moça ruiva que aguardava, com lágrimas e olhos e semblante preocupado.
Como agradecimento, ela lhe deu um beijo longo, apertado e sem língua. Bastou para ficar marcada na vida de Carlos, que naquele momento viveu um misto de sentimentos que jamais haviam invadido seu peito. Era algo semelhante ao que sentiu quando conheceu sua falecida esposa, também ruiva e com ar triste.
A forma como se conheceram é que foi inusitada, e digna do enredo de qualquer novela de final de tarde. Carlos saía do restaurante em que almoçava sozinho aos sábados quando trombou com a moça, que parecia apressada. Ela apenas se desculpou e continuou andando com a cabeça baixa e gesticulando como se falasse consigo mesmo em tom baixo, mas desesperado. Carlos a observava, e viu quando ela trombou novamente com um outro homem, que a ofendeu aos berros. A ruiva ficou sentada no chão, com o rosto entre as mãos, soluçando.
Incomodado com aquela situação, o viúvo foi em direção à bela jovem no intuito de ajudá-la a se levantar. Aos prantos, a moça agradeceu. Carlos então perguntou por que as lágrimas insistiam cair de seus lindos olhos. Não obteve resposta, apenas que a jovem se encontrava em uma situação inusitada. “Minha vida, em uma noite, virou de pernas para o ar. Preciso embarcar para Manaus ainda hoje, e não sei se conseguirei dinheiro o suficiente para a passagem aérea”.
Carlos então ficou desconfiado. Era uma conversa que beirava o ridículo, até mesmo pela ausência de detalhes e o fato da moça ocultar as verdadeiras razões de tanta pressa e choro – pressa esta, que havia cessado, pois ambos caminhavam calmamente pela praça em frente ao restaurante.
- Olhe, não se importe comigo. Volte para sua casa e finja que não me conheceu. É o melhor que tem a fazer.
O rapaz não deu atenção e continuou a caminhada com a ruiva. Ele contou uma grande parte da vida a ela, que ouvia com atenção e perguntava detalhes a todo momento. Carlos foi seletivo e omitiu várias informações, inclusive a morte da esposa – disse, apenas que foi casado por 3 anos.
Quando deram por si, já eram 3 e meia da tarde. A ruiva voltou a ficar eufórica e apressada. Carlos quis ajudar, nem que fosse uma única vez aquela que ouviu algumas de suas maiores reclamações, e seguiram à casa dele. Por um momento, passou pela cabeça dele estar levando vantagem do tal encontro – a moça aceitou ir à sua casa, talvez algo a mais aconteceria. Ao abrir o portão, ele ofereceu um café ou algo para comer. Ela recusou, apenas estava interessada no dinheiro.
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