terça-feira, 20 de julho de 2010

Encontro às claras

O dia estava claro, e o sol motivava Alécio a uma caminhada até a banca de jornal, pelo menos. Lá encontrou um amigo das antigas, e passaram a conversar.

- Hei, rapaz, há quanto tempo. Que tem feito da vida?
- Nada de muito interessante. Trabalhado bastante, sonhado muito, realizado pouco.
- Puxa vida. Hoje eu vejo que também poderia ter feito mais. Porém, estou tão feliz com a minha trajetória, que não me arrependo de nada; sei disso porque escrevi minhas memórias, e somente coisas boas me vieram à cabeça. Isso é bom não é?

Alécio parou para ver algumas crianças brincando ao lado da banca. Sentiu saudades da inocência e da irresponsabilidade típica da época. O amigo, de nome João Moura, tentou consolá-lo, pois estava visivelmente abatido.

- Cara, até quando?
- Até quando o que?
- Até quando você vai ficar cabisbaixo. Vai esperar seus desejos baterem à sua porta (e quando baterem, você irá dispensá-los)?
- Não sei, até quando der.

João ficou quieto. Aprontara muito na vida - e relatou tudo em suas memórias. Namorou muitas mulheres, chegando a machucar o coração delas em várias ocasiões. Viajou bastante, metade a trabalho, metade a lazer. Mesmo quando era trabalho se permitia uma diversãozinha, pelo menos.

- Me prendi a valores que não me fizera feliz, isso sim - desabafou Alécio, sem maiores detalhes. Mas tive uma família, uma mulher, um emprego, uma casa. A sociedade impõe que a gente tenha tudo isso para ser feliz. Mas nem sempre é o que precisamos.

João sorriu com o canto da boca.

- Na verdade, o extremo é errado. você teve o extremo do bom-mocismo. E está infeliz. Eu tive o extremo do  mau-mocismo uma época, e era infeliz também. Quando juntei com a Firmina, pude desfrutar da felicidade, porque viajava muito sem ela. Com certeza a Firmina trazia algum amante para casa, mas eu não ligava.

Se despediram, a conversa não iria longe. Alécio comprou o jornal, e abriu a página de obituários. Lá estava o nome de João Moura.

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