Sábado a noite. Coquetel na casa do candidato a senador Hugo Cardoso, sobrenome este que, para melhor apelo eleitoral, seus marqueteiros sugeriram trocar por Travesso, apelido de infância. Cada denúncia, cada projeto de lei, cada aparição pública era chamada pela imprensa de travessura. Foi criado o slogan "a cada travessura, uma vida melhor ao brasileiro". No mínimo, ridículo, mas considerando que ao público-alvo eram os jovens e também os senhores nostálgicos, foi posto em prática. 

Entre as dezenas de convidados, estava Mônica, amante de Hugo. Conheceram-se em outro coquetel, na casa de outro candidato. A figura jovial, seus cabelos longos e negros, seu jeito simples conquistaram o coração do candidato, que a presenteou com um carro em comemoração a um mês de relacionamento. Relação discreta: evitam encontrar-se em finais de semana, freqüentam lugares de pouco movimento ( com luxo inversamente proporcional) nos distritos ao redor de sua cidade. A esposa de Hugo desconfia, com certeza, mas prefere não perder a sua pequena mesada, os cartões de crédito, e mesmo as idas freqüentes à clínica estética, que volta e meia terminam em lugares pouco familiares acompanhada com o segurança da tal clínica. 

Ao pé do piano, junto com Mônica, estavam duas amigas do peito. Literalmente, pois com inveja do busto da morena, colocaram silicone. De longa data, formaram-se recentemente em economia, o que mostra no mínimo, uma certa afinidade com finanças. Sara, loira discreta, cinco tatuagens escondidas pelo corpo (virilha inclusive), é a que mais entende do assunto: seu atual namorado, sócio de Hugo, troca de carros como troca de cuecas e possui um iate; apesar disso, afirma ser simples e implica com o nariz empinado de Sara; ah, se soubesse que esse narizinho veio como brinde após a compra dos seios. 
Vânia, também loira, também siliconada, acompanhou o início do relacionamento de Mônica e Hugo. Recentemente, quis também ser amante do candidato, abordando-o na saída de um banheiro. Tirou a blusa, o sutiã, e forçou um beijo; aproveitaram o momento por singelos dez minutos, até serem flagrados pela amante traída. Mônica e Vânia trocaram tapas de juras de inimizades. A morena terminou com Hugo, mas voltou no final de semana seguinte após receber vários buquês de flores e caixas de bombons, além de duas passagens para Angra dos Reis.

Em determinado momento do coquetel, estavam Mônica e Vânia no banheiro. Não demorou para o assunto do beijo voltar à pauta, e os tapas voltarem a ser desferidos. Em seguida, Sara, totalmente embriagada, entrou no banheiro e participou da muvuca. Os seguranças apartaram a briga, mas o álcool fez da gritaria um escândalo. Mônica gritava o tempo todo que amava Hugo, sem se importar com a presença de sua esposa. Vânia jurava ódio à Mônica. Sara ria de qualquer movimento.

O barulho chamou a atenção de um vizinho, que fotografou cenas do escândalo, e vendeu as fotos com a história da amante para um jornal. Na segunda feira seguinte, o país inteiro sabia da vida íntima de Hugo Travesso, que foi obrigado a retirar a candidatura. As três protagonistas ganharam fama; foram até convidadas a posarem nuas. Mônica recusou, mas as outras duas não, saindo na capa de uma revista, juntas, mostrando toda a intimidade de duas colegas que tinham muito em comum. Na capa da revista, lia-se: "a melhor travessura de Hugo". 

Conto originalmente publicado aqui, e com boa aceitação